Para Nathalia, sem Nathalia
Um ano sem Nathalia Urban
Passou rápido. Um ano sem Nathalia Urban.
Surpresa, pois Nathalia é ainda tão presença... A cada notícia sobre Gaza, a cada criança gritando em desespero, a cada mãe abraçada a um corpo, a lembrança de Nathalia está ali, como se denunciasse o descalabro, a violência, a injustiça, o genocídio.
Meu bom dia era com Nathalia, que nos trazia, indignada, o drama dos migrantes e o seu desprezo pela burguesia inglesa e preconceituosa que os queria enxotar. Hoje, ela gostaria de saber que Londres também marcha pela Palestina. Certamente lá estaria, em uma das fileiras daquela multidão que enfim acorda para o inexpugnável, para a matança de inocentes, para o que tantas vezes anunciou, temeu, denunciou.
Nathalia era voz. E estaria revoltada com o autoritarismo desprezível de Trump. Esbravejaria contra o seu despotismo, a sua imprevisibilidade, o seu avanço sobre a soberania do Brasil. Posso vê-la, ajeitando os longos cabelos avermelhados enquanto pragueja.
Nathalia era movida à indignação e emoção. É o que estou sentindo agora, ao imaginá-la ainda entre nós, somando-se à nossa luta. Nathalia era luta e emoção. E é isso o que nos une à sua lembrança, viva, nítida e forte.
Às vezes nos esquecemos de que os fortes, quando se fragilizam, o fazem com a mesma intensidade e sensibilidade. Como queria ter sido mais próxima, mais ouvidos, mais afeto. Que, de onde ela esteja, tenha enfim encontrado paz e possa nos ver vencendo algumas batalhas da luta que lutamos juntas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.