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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Para a Folha de S. Paulo, aumento do desemprego seria uma boa arma contra inflação

Editorial da Folha defende, indiretamente, que mais desemprego seria necessário para conter a inflação, ignorando os impactos sociais do pleno emprego

Folha de S.Paulo (Foto: Divulgação)

A Folha de S. Paulo supera-se. O liberalismo debiloide do jornalão chega ao píncaro no editorial de 4 de outubro, ao criticar a menor taxa de desemprego registrada pelo Brasil na série histórica iniciada pelo IBGE em 2012, de 5,6%. 

O periódico da Barão de Limeira, que há muito tempo pratica um português infanto-juvenil em suas matérias e há um pouco menos mal disfarça uma dose de simpatia pelo bolsonarismo, questiona os efeitos positivos do alto emprego, aludindo à tal Taxa Neutra de Desemprego e apontando os riscos inflacionários decorrentes.

“O mercado de trabalho brasileiro desafia as expectativas e, segundo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, vive seu momento mais vigoroso em três décadas. Tal vigor por óbvio é bem-vindo na geração de renda, mas também impacta a política monetária, já que o aumento do poder de compra da população tensiona a inflação. Não à toa, Galípolo afirmou em evento que a taxa de juros, hoje de escorchantes 15% ao ano, continuará elevada por ‘tempo bastante prolongado’” – racionou a Folha, encontrando um viés negativo para o aumento do poder de compra da população e tentando parecer minimamente humana ao se referir aos juros de 15% como “escorchantes”.

Prossegue o editorialista neoliberal:

“No trimestre encerrado em agosto, o total de pessoas ocupadas foi de 102,4 milhões, alta de 1,8% em relação ao mesmo período de 2024. A taxa de desocupação estabilizou-se em 5,6%, menor nível da série histórica iniciada em 2012 pelo IBGE —cálculos da Fundação Getúlio Vargas indicam tratar-se do menor desemprego desde 1996. Tal patamar está abaixo do que se considera como pleno emprego, quando o mercado de trabalho está equilibrado em torno da chamada taxa neutra —a que se mostra compatível com inflação estável, idealmente em torno da meta para o IPCA, que atualmente está fixada em 3% ao ano.”

 

Como já escrevemos neste espaço, um grupo de economistas neoliberais, cada vez menor, acredita que o desemprego abaixo da tal taxa neutra criaria um ambiente inflacionário insustentável. Claro, para o grupelho não importa se emprego significa sobrevivência para muita gente. A lógica, para eles, é que emprego gera consumo e pressiona a inflação, pouco ou nada importando se famílias passam a se alimentar melhor. A observância da famigerada Taxa Neutra de Desemprego, a impedir de alguma forma a queda do desemprego a partir de certo nível, manteria a inflação controlada. 

Há algum tempo, os “desempreguistas” calcularam a Taxa Neutra de Desemprego brasileira em torno de 9%, portanto os 5,6% atuais seriam inflacionários. Isso significa, para essa turba, que a empregabilidade de hoje deve ser combatida.

Esses economistas desumanos dizem que a TND é determinada pela institucionalidade. Explica-se: se considerarmos um país europeu típico e compará-lo com os Estados Unidos, o país tipicamente europeu tem uma TND de 9% e os Estados Unidos, de 4%. Por quê? Porque nos Estados Unidos as instituições e o mercado de trabalho são mais, digamos, flexíveis.

Esse lero-lero vai desaguar na defesa de coisas como reforma trabalhista e maldades decorrentes, como a precarização do trabalho.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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