Os ataques dos Estados Unidos ao Irã aumentarão a proliferação de armas nucleares
Aos poucos, grupos cada vez maiores de pessoas têm ido às ruas, horrorizadas com as implicações desse ataque hiperimperialista de Israel e dos Estados Unidos
publicado originalmente por Globetrotter em 24 de junho de 2025
Em 21 de junho, os Estados Unidos atacaram três localidades no Irã com a sua imensa força militar. Os alvos foram Fordow, Isfahan e Natanz — três áreas onde o Irã abriga suas instalações de energia nuclear. É importante destacar que as instalações nucleares iranianas são legais e continuam a ser inspecionadas e validadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O Irã ingressou na AIEA em 1958, pouco depois da criação da agência da ONU. Desde então, tem sido um membro da AIEA e seguido as diretrizes gerais estabelecidas para o uso pacífico da energia nuclear. Apesar da enorme pressão do Norte Global sobre a AIEA para que sancione o Irã, os relatórios da agência têm sido claros: o Irã não violou as regras e não é um Estado detentor de armas nucleares. Além disso, o Irã não ameaçou os Estados Unidos nem atacou o país ou os seus interesses. Simultaneamente, não houve nenhuma resolução do Conselho de Segurança da ONU sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas que autorizasse os EUA a atacar o Irã. Portanto, os Estados Unidos e Israel violaram o direito internacional ao conduzirem uma guerra de agressão contra o Irã.
O Irã afirmou que não há contaminação nuclear nas áreas das instalações, o que indica que os Estados Unidos não conseguiram penetrar esses centros altamente protegidos. Até agora, parece haver pouco interesse no governo Trump em expandir essa campanha de bombardeios e levar a sua guerra agressiva às cidades do Irã, como fez o governo Bush no Iraque.
Mas não há garantias de que a guerra não se ampliará, indo além dos ataques às instalações de energia nuclear. Se o Irã não se render nas negociações previstas, é bem possível que os Estados Unidos e Israel bombardeiem Teerã, tentem assassinar a liderança iraniana e busquem derrubar o governo.
Tanto os Estados Unidos quanto Israel subestimaram o Irã. A World Values Survey mostra que os iranianos respondem com clareza e em grande número a perguntas que refletem orgulho nacional: 83% disseram que têm orgulho de seu país, e 72% afirmaram que estão prontos para lutar por sua pátria (nos EUA, esse percentual é de apenas 59). Nos comícios anuais da Revolução de 11 de Fevereiro, um número enorme de pessoas comparece e marcha com entusiasmo. Os ataques ao Irã não enfraqueceram essa determinação — pelo contrário, parecem tê-la aumentado.
Apesar dos ataques, as pessoas têm ido às ruas para demonstrar a sua raiva e sua resolução em combater quem quer que ataque o Irã e sua soberania. Não será fácil para os Estados Unidos e Israel desestabilizarem a República Islâmica e colocar no poder seus aliados, como Reza Pahlavi, descendente do xá do Irã, que vive em Los Angeles, nos EUA.
O alto índice de patriotismo no Irã e a determinação do povo iraniano impedirão os Estados Unidos de tentar invadir o país (a população do Irã é de 90 milhões, enquanto a do Iraque é de 45 milhões; como os EUA não conseguiram subjugar o Iraque, é improvável que consigam dominar uma população duas vezes maior e extremamente jovem — com idade média de 33 anos). Um bombardeio covarde ao Irã já é uma coisa, mas uma invasão militar está fora de questão para países que não querem enfrentar uma resistência vigorosa, de rua em rua.
O maior incentivo à proliferação de armas nucleares será esse ataque ao Irã. A destruição do Estado líbio pela OTAN e pelos EUA (2011) e agora esse ataque estadunidense-israelense ao Irã provam para países como a Coreia do Norte que o escudo nuclear é necessário. De fato, a recusa da Coreia do Norte em desnuclearizar o seu aparato militar mostra ao Sul Global que, se quiserem proteger a sua soberania, um exército convencional não é suficiente. É provável que o Irã se retire do Tratado de Não Proliferação Nuclear (1968), suspenda a sua cooperação com a AIEA e desenvolva uma arma nuclear. Egito, Arábia Saudita e Turquia provavelmente seguirão o mesmo caminho, desestabilizando totalmente o Oriente Médio, enquanto Mianmar deve aumentar a sua cooperação com a Coreia do Norte para obter mísseis e uma arma nuclear. É um escudo lógico para países que veem a soberania do Irã ser violada não por ter uma arma nuclear, mas por não ter uma.
Aos poucos, grupos cada vez maiores de pessoas têm ido às ruas, horrorizadas com as implicações desse ataque hiperimperialista de Israel e dos Estados Unidos. Declarações de grupos ao redor do mundo condenam esses ataques e reafirmam que paz e desenvolvimento são os desejos dos povos, não guerra e retrocesso. Não há dúvida entre os povos do Sul Global: esse ataque de Israel e dos EUA não tem relação com o comportamento do Irã, mas tudo a ver com os objetivos de guerra do Norte Global de dominar o Oriente Médio.
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