Os 80 anos de Lula
O presidente da República do Brasil viverá mais de 120 primaveras nos corações e mentes do povo
Somente o Fernando Moraes tem legitimidade e conhecimento necessário para escrever sobre Lula com profundidade, mas sendo o personagem quem é, arrisco-me. Desde 1989, o jingle político do Brasil é: Lula lá, brilha uma estrela... e o mesmo som continuará tocando nas mentes e corações dos brasileiros nas eleições de 2026 e por muito tempo. Luiz Inácio Lula da Silva é a última grande voz da política brasileira. Ele é ao mesmo tempo o grande representante da velha guarda de esquerda e a novidade política, pois demonstra ousadia dentro e fora do País. O inominável não representa nem sombra para Lula. O histórico político de Lula é incomparável: três vezes eleito presidente da República do Brasil, ele é o maior cabo eleitoral do País, contribuiu decisivamente para as duas eleições de Dilma Rousseff e quase levou Fernando Haddad ao Palácio do Planalto em 2018, não aconteceu apenas porque Lula estava injustamente preso. As qualidades políticas de Lula são inegáveis. Em tempos atribulados como agora, ele consegue, entre tapas e beijos, manobrar o horroroso Congresso nacional e tem bom trânsito no Poder Judiciário, principalmente com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Coisa que nenhum outro político conseguiria mediante a correlação de forças atual. O presidente consegue gerir a economia brasileira muito melhor que os governos que o antecederam após o fim da ditadura militar, o que é reconhecido de forma universal e sempre causou ciumeira em Fernando Henrique Cardoso e na grande mídia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem algo em seu currículo que é único e inigualável: ele é o chefe de Estado que mais se preocupou com a comunidade negra. Ele instituiu normas que em médio e longo prazo irão modificar para melhor o País. Todos os programas sociais que criou e os que melhorou salvaram a vida de muitos brasileiros, o que é impressionante e revolucionário em um País extremamente racista, conservador e com parte da população reacionária.
Dentre os seus erros também está o seu acerto: o presidente Lula nunca enxergou a possibilidade de ser um revolucionário comunista e de no Brasil ocorrer uma revolução proletária. No que está certo. A proximidade com Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, ou Fidel Castro e, ainda, Hugo Chaves, não o fizeram incitar as massas pela revolução da classe trabalhadora. Ele entende, talvez, que o País tem longo caminho a percorrer antes disso. Lula alterou a vida dos brasileiros sem mudar estruturalmente as relações de poder na democracia mal ajambrada que temos. Luiz Inácio Lula da Silva tem razão! Em um País em que o racismo, Integralismo, a ditadura militar e o bolsonarismo foram e ainda são fortes (às vezes muito fortes), por mais que se queira – e queremos -, a revolução proletária ainda está longe.
Com sua voz grave e rouca, Lula ensinou muito aos brasileiros. Por exemplo, antes de verbalizar o “economês”, ele mostra que é fundamental saber como vai a vida cotidiana do povo. Ele é o presidente que quer saber se a sua gente está fazendo as três refeições diárias, quer saber se os filhos de pessoas pobres estão estudando, se graduando, Lula quer que os seus ministros entendam o que são as classes sociais e quais são os percalços da classe trabalhadora. Ele pensa e age para reduzir o racismo. Quem poderia imaginar em 1888, no crepúsculo da escravidão, o Brasil com leis que promovem a negritude e os povos indígenas, como a que institui a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas de ensino fundamental e médio da nação. Isso é espetacular. Lula é sincero quando diz que quer cuidar do povo. Ele demonstrou coragem e altivez incríveis ao enfrentar a Lava-jato como fez. E acabou demonstrando ao mundo o que os Estados Unidos ainda são capazes de promover na América Latina.
Lula conquistou respeito internacional inigualável a qualquer outro presidente do Brasil, seja na América Latina, África, Europa ou nos Estados Unidos, os livros de História mostraram fartamente. Muitas linhas serão escritas sobre o presidente Lula nesses 80 anos, mas o que fica de principal é o fato de seu legado ser duradouro. Ele não irá viver até os cento e vinte anos como pontua jocosamente, mas certamente irá permanecer na mente e nos corações dos brasileiros por mais de uma centena e duas décadas de anos. A longevidade que o presidente pretende chegar lhe será possível por meio de seu legado político.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



