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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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O vale-tudo do bolsonarismo, do centrão e de Tarcísio de Freitas: eles se merecem

Desta vez, a escolha não será difícil. Pelo contrário, será decisiva para proteger a democracia, a soberania e o futuro do Brasil

Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (Foto: Reprodução / Redes sociais)

O Vale-tudo do bolsonarismo, do centrão e de Tarcísio de Freitas: eles se merecem.

Inicio este texto com máxima indignação que certamente milhares de brasileiros e brasileiras sentiram ao se depararem com os últimos acontecimentos protagonizados na Câmara de Deputados. Parlamentares despidos de ética, justificaram a aprovação de propostas inconstitucionais por argumentos insustentáveis, arranjados numa orquestração marginal.  

A composição do Congresso, com maioria de parlamentares da extrema-direita e da direita incivilizada do “toma lá, dá cá”, vulgo centrão, em grande parte formada por empresários e alguns envolvidos em negócios suspeitos, além de outsiders ligados ao subterrâneo do bolsonarismo é a mais desqualificada dos últimos anos. Partidos que deveriam ser extintos pela prática de inúmeras irregularidades permanecem em evidência na atual conjuntura política. Agem unicamente para defender interesses corporativos, como a anistia aos golpistas da democracia, em particular ao condenado ex-presidente da República.

Nada produzem em benefício do povo e do país. Usam o fundo partidário, recurso 100% público para sustentar alguns de seus filiados por meio de valores vultosos, como os destinados a Michele Bolsonaro, que ocupa o cargo de presidente do PL Mulher, além do próprio aluguel da mansão onde ela mora com seu marido atualmente em prisão domiciliar.

O “vale-tudo” da Câmara de deputados, por meio de parlamentares bolsonaristas e do centrão, nunca foi tão torpe e contrária aos interesses do povo brasileiro. Na terça-feira (16/09), Hugo Motta (Republicanos-PB), absolutamente manipulável e refém desses segmentos pelo receio de perder a presidência da Casa, pautou a vergonhosa Proposta de Emenda à Constituição - PEC das Prerrogativas, (denominada popularmente de PEC da impunidade ou da bandidagem). 

Esta proposta confere blindagem judicial aos deputados. Entre outras aberrações, exige aval do Congresso para abertura de processos contra parlamentares e permite que deputados barrem a prisão de colegas determinada pela Justiça, mediante votação secreta. Ainda nos últimos minutos dessa desfaçatez, foi acrescentado o foro privilegiado para os presidentes de partido, adendo extremamente suspeito. 

A proposta, embora flagrantemente inconstitucional, foi aprovada no primeiro turno por 353 votos a 134 e, no segundo turno, por 344 votos a 133. É importante lembrar que essa PEC, que envergonha a história da Câmara Federal, foi negociada por Arthur Lira (PP-AL) em troca da desocupação da Mesa Diretora pelos deputados bolsonaristas e do centrão, em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente da República.

Além dessa agressão inadmissível de superproteção dos parlamentares contra possíveis ações penais, como nos recorrentes desvios de emendas e o envolvimento com o crime organizado, agem à revelia da necessária transparência dos assuntos de interesse público. A atual casta maldita e inimiga do povo deixa de pautar projetos essenciais, que esperam por meses na gaveta de Hugo Motta, como os que tratam da isenção de impostos para quem ganha até cinco mil reais, o programa Gás do Povo, a taxação dos mais ricos, o fim da escala 6x1, entre outros, para dar prioridade a pautas que blindam suas más práticas.

Como se não bastasse a aprovação da PEC da impunidade, o PL oficializou, na mesma terça-feira, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como novo líder da Minoria na Câmara dos Deputados, com o propósito de assegurar a manutenção de seu mandato, medida absolutamente ilegal. Essa decisão foi tomada com base em um precedente de 2015 da Câmara, que isenta o registro de presença do parlamentar na condição de líder partidário. Assim, Eduardo Bolsonaro poderá exercer seu mandato no exterior, custeado pelo povo brasileiro, enquanto conspira com um governo estrangeiro por mais sanções contra o Brasil. Essa pretensão, liderada por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), voz obscurantista de Silas Malafaia e dos bolsonaristas na Câmara, dependerá da aprovação de Hugo Motta. De pronto, ele já deveria ter barrado essa medida absurda, na qualidade de presidente da Casa. Entretanto, o que esperar de alguém que costumeiramente não tem cumprido acordos?  

A avalanche das sessões legislativas para aprovação de projetos frontalmente contrários aos interesses do povo brasileiro teve sequência na quarta-feira (17/09). Foi aprovado, por 311 votos a favor, 163 contra e sete abstenções, o requerimento de urgência do projeto de lei que trata da anistia aos envolvidos nos atos golpistas contra o Estado de Direito. A justificativa hipócrita é a de que a proposta da anistia, agora denominada de Dosimetria, irá pacificar o país. Um país só se pacifica com a devida condenação de quem ousa praticar golpe na democracia e nos direitos do povo. 

Ainda mais absurdo foi assistir a figuras diretamente ligadas ao passado golpista, como Michel Temer e Aécio Neves, assumindo papel central na articulação dessa proposta.

Diante desses movimentos absurdos e inaceitáveis, emerge a figura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), político da extrema-direita bolsonarista e candidato escolhido pela elite financeira. Seu “vale-tudo” político serve aos interesses da Faria Lima e do centrão. Conta ainda com o apoio da mídia corporativa interesseira, controlada por grupos financeiros e famílias que detêm, há décadas, o monopólio da comunicação no Brasil. Esses conglomerados atuam de forma orquestrada para viabilizar a candidatura de Tarcísio à presidência em 2027.

Em 7 de setembro, às vésperas do julgamento pela trama golpista e em busca de potencializar sua eleição para presidente da República, Tarcísio de Freitas desnudou-se da falsa postura palatável. Atacou o ministro Alexandre de Moraes, adjetivando-o de tirano. Defendeu a anistia ampla, geral e irrestrita, com o objetivo de turbinar junto aos bolsonaristas sua intenção de concorrer à presidência em 2026. Contudo, suas declarações efusivas não foram bem recebidas pelos apoiadores de sua futura candidatura, sobretudo pela elite financeira e demais apoiadores.

A mesma Faria Lima e a mídia corporativa que outrora consideravam “uma escolha difícil” entre um professor universitário com experiência administrativa exitosa e conduta ilibada, Fernando Haddad, e um político com conduta moral e ética desprezíveis, atestada abertamente por seus pares na Câmara Federal, frustraram-se por não ter conseguido domá-lo. Ainda que tenham se locupletado pelas avarias de sua equipe de governo, composta pelo especulador financeiro, ministro da Economia Paulo Guedes, pelo passador da boiada, ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, pelo inepto ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, além de outros desastres que ocuparam ministérios essenciais, a vergonha pelo apoio, ainda que tardia, tratou de não sustentá-lo para a reeleição. 

No pleito de 2022, a elite financeira, as figuras nocivas da política, a mídia conservadora e os demais setores reacionários deram uma trégua ao projeto progressista de governo. No entanto, essa trégua foi exígua. Apesar da forte pressão de uma oposição desmedida e dos reiterados embates com o governo Trump em relação à soberania nacional, o atual governo tem alcançado resultados consistentes e sustentáveis em várias áreas. Incomodados com esses avanços, os mesmos grupos contrários aos governos progressistas, agora tramam para emplacar o governador de São Paulo para a presidência em 2027.  

O capitão Tarcísio de Freitas, na tentativa de equilibrar-se entre duas canoas para fins eleitorais, de um lado acena à ala bolsonarista mais radical, atacando o Supremo Tribunal Federal e insinuando perseguição política contra Jair Bolsonaro, condenado pela maioria dos ministros da 1ª Turma da Suprema Corte. Com isso, mantém vivo o discurso de vitimização que mobiliza a extrema-direita bolsonarista. De outro lado, agrada à elite financeira e aos grandes grupos econômicos, conduzindo um governo que privatiza bens e serviços essenciais, desmonta o papel social do Estado e atende aos interesses de quem sempre lucrou às custas da maioria do povo. Essa postura revela não apenas oportunismo, mas também hipocrisia. Enquanto se apresenta como gestor moderno e eficiente, Tarcísio governa alinhado ao ideário do mercado, ignorando que a entrega de serviços estratégicos ao setor privado precariza a vida da população, sobretudo a mais pobre. Sua gestão também tem sido marcada por escândalos, como o caso bilionário envolvendo a Ultrafarma e a direção da empresa Fast que desvelou um sistema de corrupção na máquina arrecadatória paulista. Sobre essa questão o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) ressaltou que o Palácio dos Bandeirantes blinda politicamente lideranças, em detrimento de uma atuação firme contra a corrupção. 

Tarcísio também enfrenta problemas com a segurança pública do Estado, violenta ao extremo com a população preta, pobre e periférica, mas despreparada na proteção dos policiais, conforme crítica do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo sobre a execução do delegado Ruy Fontes pelo PCC. A entidade mencionou que a Polícia Civil precisa ser valorizada com investimentos na estrutura física e incremento com aumento de pessoal para melhor combater o crime organizado. Certamente seria mais útil ao povo paulista, o governador parar de fugir de suas responsabilidades, abandonar o palanque como candidato herdeiro do espólio de Bolsonaro e enfrentar com seriedade os fracassos de sua administração.

Diante dos horrores recentes aprovados na Câmara, a PEC da impunidade, o requerimento de urgência da anistia aos golpistas, a manobra para salvar o mandato de Eduardo Bolsonaro autoexilado nos EUA, somados à hipocrisia de Tarcísio de Freitas e sua pretensão presidencial, cabe ao povo brasileiro compreender a gravidade do momento e não repetir erros que abriram espaço para a ascensão dos maus políticos. O risco não é apenas interno, as próximas eleições terão forte interferência da elite financeira, da mídia corporativa e, possivelmente, de interesses estrangeiros alinhados ao governo Trump, determinados a recolocar no Planalto um governo submisso e antinacional.

A disputa de 2026, portanto, não será apenas entre projetos políticos distintos, mas entre dois caminhos para o Brasil, de um lado, a reeleição de um governo democrático e progressista que, com trabalho, geração de empregos, valorização salarial e reconhecimento internacional, recolocou o país entre as dez maiores economias do mundo, de outro, um projeto bolsonarista reeditado, disfarçado sob a figura de Tarcísio, servil aos Estados Unidos e incapaz de defender a soberania nacional. Segundo a última pesquisa Genial Quaest, o presidente Lula lidera em todos os cenários para 2027, reflexo de entregas concretas que melhoram a vida do povo. Desta vez, a escolha não será difícil. Pelo contrário, será decisiva para proteger a democracia, a soberania e o futuro do Brasil.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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