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      Ivan Guimarães

      Economista pela PUC-SP com especialização em politicas publicas pelo IE - Unicamp

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      O novo jogo dos EUA

      “Trump promete fazer o impossível: expandir o território dos EUA, não se envolver diretamente em novos conflitos e recuperar a economia”

      Donald Trump. Foto: Nathan Howard / Reuters

      O jogo começou em 1971, quando os EUA romperam com a paridade dólar-ouro, que vinha desde o final da segunda guerra. Nesse “sistema” cada país mantinha suas reservas monetárias na moeda norte americana, que garantia sua conversibilidade em ouro, segundo o estipulado em acordos internacionais.  

      Esse episódio foi a pá de cal em qualquer ideia de vinculação entre uma moeda e o ouro. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não existe qualquer garantia de conversibilidade para qualquer moeda.   

      O governo Nixon (1969-74) se defrontou com um quadro econômico complexo, com os EUA envolvidos com a guerra fria e seus custos gigantescos, a guerra do Vietnã e a manutenção uma infinidade de ações do “líder do mundo livre”.  No início da década de 1970, Japão e Europa usufruíam a recuperação econômica financiada pelos norte-americanos. Estima-se que havia US$ 50 bi circulando fora dos EUA, mas as reservas de ouro atingissem somente US$ 10 bi. 

      Nesse cenário, em agosto de 1971 foi anunciado o “Choque de Nixon”, um plano econômico que tem semelhança com alguns dos planos brasileiros das décadas de 1980 e 90. Pouco conhecido e estudado no Brasil, trazia congelamento de preços e salários por período, sobretaxa de 10% para todas as importações e o avassalador fim da conversibilidade.   O período de 1970 a 80 ficou conhecido como “Grande Inflação”, ou “Estagflação" que atingiu todo o mundo ocidental. Há um claro entendimento entre os especialistas que essas medidas não tiveram o sucesso esperado. De certa forma estimularam os choques do Petróleo (1973 e 77). Coube a Nixon desistir da guerra do Vietnã e incorporar a China ao mercado mundial, antes de ser abatido pelo escândalo do Watergate. 

      A semelhança entre alguns dos métodos e visão de mundo entre Trump e Nixon e Nixon são evidentes. Ambos sabiam da fundamental importância da manutenção do dólar como moeda de troca nas transações internacionais. A paridade fez do dólar uma “moeda universal”, usada por todos os países no comércio internacional, e a ruptura permitiu aos norte-americanos emitir dólares a vontade, sem qualquer restrição. Puderam pagar suas guerras, seu programa espacial e tudo mais. Hoje a “dívida’ americana é de mais de 33 trilhões de dólares, que vale o que se quiser acreditar. Aí vem os BRICs, propondo criar uma moeda para as o comércio internacional. E que já foi usada em pequenas transações, em teste do sistema de liquidações alternativo ao BIS - Banco de Compensações Internacionais. Parece que as duras críticas de De Gaulle e Keynes aos resultados de Breton Woods, estão assombrando a Casa Branca, que teme o fracasso da manutenção do dólar como moeda universal. 

      Dentre as muitas divisões da direita norte-americana, o atual presidente parece devoto de uma saudosista e agressiva, que com ameaças de expansão territorial, guerra comercial e, para público interno, não se envolver em novas guerras (???), quer convencer o mundo a segui-lo. O Tratamento dispensado a Brasil, Rússia, índia e China é revelador dessa estratégia.   

      Combater o multilateralismo é mais um devaneio do que uma ideia política viável. Mas aprendi com meu pai, quando encontramos um doidivanas como Trump, não devemos tentar mudar sua opinião. Trump cairá assim que suas políticas econômicas fracassem. Qual fim ele terá é questão de escolha dos norte-americanos.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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