O Flamengo nunca mais será campeão (moral)
O gigante clube carioca terá sua bandeira manchada de sangue para sempre. Seus dirigentes deveriam ter outra postura
Torcedor do Flamengo, não comemore a vitória do seu clube pela conquista da Copa Libertadores ou do Campeonato Brasileiro. Não comemore a vitória do Mengão porque, antes de qualquer coisa, a instituição tem de prezar pela vida. Não comemore título algum do Flamengo sem que o clube cumpra com suas obrigações diante da tragédia que ocorreu dentro de suas dependências. Tais imperativos são absurdos? Com certeza não! Basta lembrar que o Flamengo, time de maior torcida do Brasil, no esporte mais popular do País, permitiu que morressem de forma vil dez jovens jogadores do clube em 2019. Eles hoje poderiam estar sendo campeões.
O Clube de Regatas do Flamengo e seus dirigentes, ao que parece, não tiveram a mínima decência de prestar contas do ocorrido. Não acolheram as famílias, o clube pagou indenizações ínfimas, não pediu desculpas de forma categórica, publicamente. No momento de maior brilho do Flamengo em campo, os meninos não tiveram seus nomes lembrados: Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías. Todos tinham 14, 15 ou 16 anos de idade.
O que a torcida do Flamengo preferiria: vencer a Libertadores ou que os jovens flamenguistas estivessem vivos? O que os dirigentes e os grandes nomes do clube prefeririam? O que seria justo, certo e correto? O Poder Judiciário comum nada fez contra os responsáveis ou o clube. A Justiça Desportiva menos ainda. Os torcedores não estenderam faixas ou fotografias dos meninos no estádio após o título. Ou seja, mais uma vez, nada aconteceu contra quem deveria prestar contas da tragédia. As dez mortes ficaram por isso mesmo... Aos familiares dos jovens sobrou a dor incomensurável e o pensamento: “ah, o meu filho poderia estar levantando a taça da Libertadores hoje”.
É fundamental que essa história nunca seja esquecida. Ela aconteceu dentro do universo do futebol, que é o gramado das injustiças. O esporte nunca foi somente jogo pelo jogo ou apenas diversão; algo tem de mudar. Coisas absurdas como a morte de dez jovens jogadores nas dependências de um clube de futebol nunca mais podem ocorrer. Não é possível que dez crianças que estavam sob a responsabilidade do Flamengo, time com base tão grande nas camadas populares, morram por falta de zelo. Não é possível que nada aconteça com os responsáveis. O Flamengo vai continuar levantando taças e troféus, mas todos os títulos conquistados não serão moralmente dignos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

