TV 247 logo
      Leonardo Attuch avatar

      Leonardo Attuch

      Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

      508 artigos

      HOME > blog

      O esforço de Trump para deter o mundo multipolar está fadado ao fracasso

      Ao contrário de conter a integração dos países do Sul Global, as medidas agressivas dos Estados Unidos tendem a acelerar este processo

      Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração à imprensa, na Sala de Coletiva. Rio de Janeiro - RJ - 07/07/2025 (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

      O tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump contra produtos brasileiros marca mais do que uma crise comercial: ele escancara o fim da hegemonia dos Estados Unidos e acelera a consolidação de um mundo multipolar. Ao tentar isolar e punir parceiros estratégicos do Sul Global, Trump obtém exatamente o efeito oposto: aproxima economias emergentes e reforça mecanismos de cooperação que reduzem a dependência de Washington.

      O caso do café é emblemático. Enquanto a Casa Branca fecha portas para um dos principais produtos da agricultura brasileira, a China abre um novo horizonte para os exportadores nacionais. Pequim aprovou 183 novas empresas brasileiras para vender café ao seu mercado, oferecendo um alívio estratégico em meio à escalada tarifária norte-americana. É um gesto simbólico e concreto: se os Estados Unidos levantam muros, o gigante asiático constrói pontes.

      Essa guinada também revela uma mudança profunda na percepção dos brasileiros sobre seus parceiros internacionais. Pesquisa recente do Instituto Datafolha mostra que a China já é vista como mais confiável do que os EUA no comércio. O soft power norte-americano, construído ao longo de décadas, está sendo queimado em ritmo acelerado por decisões unilaterais que soam como agressões ao Brasil. É irônico perceber que aqueles que se proclamam “patriotas” ajoelham-se diante da bandeira estadunidense, enquanto a defesa da soberania nacional passou a ser cada vez mais associada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva — 67% dos brasileiros enxergam nele o líder que protege o país de ingerências externas, segundo levantamento do instituto Ponto Map.

      O choque tarifário também despertou algo que estava adormecido: a reflexão sobre soberania. Pela primeira vez em muitos anos, milhões de brasileiros discutem nas redes e nas ruas os limites da dependência econômica e política em relação aos Estados Unidos. A reação altiva e, em grande parte, apartidária à decisão de Trump mostra que, quando o Brasil se sente desrespeitado, ressurge uma identidade coletiva em defesa do interesse nacional.

      Enquanto isso, a China avança de forma consistente em investimentos estratégicos. Fábricas, portos, ferrovias, projetos de energia e até o mercado de consumo interno brasileiro já recebem capital chinês. Essa presença não é apenas econômica, mas também geopolítica. Cada novo investimento no Brasil aprofunda uma relação que tende a se tornar estrutural. Ao contrário da lógica de confronto de Washington, os chineses oferecem cooperação de longo prazo — e os resultados já são palpáveis.

      Além disso, a tentativa de Trump de usar instrumentos de coerção política, como a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, é outro exemplo de tiro no pé. O gesto, que beira o absurdo diplomático, apenas estimula países do Sul Global a acelerar a construção de novos mecanismos de cooperação, inclusive no setor financeiro. A busca por alternativas ao sistema dolarizado ganha força sempre que os EUA demonstram disposição de usar sua moeda e seu sistema bancário como armas.

      O mundo multipolar não é mais uma tendência distante, mas uma realidade em gestação acelerada. O Brasil, fundador do BRICS e potência agrícola, ambiental e energética, encontra no Sul Global espaço para crescer, diversificar exportações e reforçar sua autonomia estratégica. Ao tentar deter esse movimento natural da história com tarifas, pressões e sanções políticas, Donald Trump não apenas fracassará em sua estratégia, como também contribuirá de forma decisiva para sepultar de vez a ilusão de que os Estados Unidos podem ditar unilateralmente os rumos da economia global.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...