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Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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O dia em que Trump sorriu para Lula

Trump age como biruta de aeroporto, mudando de direção ao sabor dos ventos. E, dessa vez, eles sopraram para Lula — não por acaso

Lula e Donald Trump - 23 de setembro de 2025 (Foto: Reuters)

Ao que tudo indica, aquilo que Eduardo Bolsonaro mais temia pode estar acontecendo: Donald Trump se distanciando da família Bolsonaro.

Em mensagens encontradas pela PF no celular de Jair Bolsonaro, Eduardo pede pressa ao pai e demonstra o temor de que Trump “vire as costas” e “passe para a próxima”. Em um dos trechos, o filho 03 alerta o ex-presidente: “Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta... tenho receio de que, por aqui, as coisas mudem. Mesmo dentro da Casa Branca, tem gente falando para o 01: ‘ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima’".

E ontem (23/09), em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente dos Estados Unidos abandonou o teleprompter e fez elogios ao encontro casual com Lula: “Ele me parece ser um cara muito legal. Ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando eu não gosto, não gosto. Mas, por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal".

Trump age como biruta de aeroporto, mudando de direção ao sabor dos ventos. E, dessa vez, eles sopraram para Lula — não por acaso. O presidente brasileiro fez um discurso histórico de enfrentamento ao império estadunidense, deixando claro que o Brasil não abriria mão da soberania nem da defesa da democracia.

Na coxia do plenário da ONU, Trump ouviu Lula sem a intermediação de seu secretário de Estado, Marco Rubio. Deve ter percebido que era a hora de distensionar as relações com o governo brasileiro. O cálculo é imediato: conter a inflação que pressiona sua popularidade. Uma pesquisa do instituto Ipsos, divulgada na quarta-feira, mostrou que 54% dos estadunidenses avaliam mal a condução econômica de seu governo.

O gesto de Trump pode abrir caminho para ajustes nas tarifas da carne e do café brasileiros. Mas seus interesses vão além: minerais críticos, terras raras e o futuro das big techs dos EUA no maior mercado da América do Sul. Afinal, as gigantes chinesas vêm ampliando presença no Brasil com investimentos bilionários em diversos setores.

O encontro nos corredores da ONU deixa claro que as sanções contra o Brasil estão sendo tramadas na sala de Marco Rubio, numa iniciativa puramente ideológica.

Que fique claro: Trump não é aliado de ninguém além de si mesmo e dos interesses imediatos das grandes big techs. A família Bolsonaro apostou todas as fichas em uma devoção cega, que pode ser descartada como peça usada em um jogo maior. O Brasil, ao contrário, só se fortalece quando fala por si, de cabeça erguida, como fez Lula na ONU.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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