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      Ivan Guimarães

      Economista pela PUC-SP com especialização em politicas publicas pelo IE - Unicamp

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      Nova Sabesp: velhos erros

      Campanha institucional ignora problemas reais da população e aposta em estética duvidosa, slogans vazios e trilha com carga ideológica

      Sabesp (Foto: Gilberto Marques/GovSP)

      Está nas TVs abertas o novo vídeo institucional da Sabesp. A peça abusa da estética de “abertura de novela da TV Globo”, com imagens coloridas que se alternam rapidamente, em flashes semelhantes aos utilizados em Vale Tudo. Prende nosso olhar, mas, por si só, não diz nada.

      “Multicultural”, com muitas pessoas pretas e pouquíssimas brancas, cachorros dourados felizes, cadeirantes rodopiando orgulhosos, muito sol, tecnologia e um toque agro, garantido por um pivô central de irrigação em fazendas (?). E muita autolouvação.

      De início, é dito que a “nova Sabesp” está fazendo 50 anos em 5 — referência à peça publicitária do governo JK, aquele que fez Brasília e trouxe a indústria automobilística ao Brasil. Comparar-se a JK é para poucos.

      Mas ouvir “Amanhecer”, de Billy Blanco, verdadeiro hino da Rádio Jovem Pan, como trilha da peça, me deu um susto. A ligação entre a música e a Jovem Pan é conhecida por todos os paulistas com mais de 45 anos, assim como a associação com o governo Bolsonaro. Essa relação chegou a colocar a emissora sob forte suspeita de ter cometido infrações legais.

      Mas aqueles acordes vão além: enaltecem valores hoje questionados, especialmente a valorização excessiva do trabalho árduo e estressante. “Vamobora, vamobora, olha a hora, vamoembora”.

      Vamos correr para o trabalho? Em tempos de burnout, essa abordagem é ofensiva.

      Será que só eu reparei nisso? Em tempos nos quais a família Bolsonaro comete um haraquiri político, a atenção do público está tomada pelo vale tudo que Trump, Bananinha e o AGRO têm apresentado. As ameaças do governo americano ao Brasil, de tarifar as importações brasileiras em 50% devido ao processo de Bolsonaro no STF, soam tão absurdas que sobra pouco tempo para pensar.

      Além disso, água e esgoto ficam debaixo da terra. Adianta pouco falar em tubulações de 1.000 km ou 100.000 km — não diz muito aos cidadãos. Não rende elogios nem votos. É difícil convencer o povo de que obras invisíveis têm relevância. As pessoas comuns costumam usar como indicador a cor da água que sai das torneiras. Por exemplo, o Bom Dia SP (24/7) mostrou que a água da torneira da Sabesp não é “água mineral” (seria animal ou vegetal?). Atualmente, ela está marrom, devido à “troca de manancial”. Não parece água: é marrom e cheira mal. Podem enterrar 1 bilhão de quilômetros de tubos; se a qualidade da água não for boa, não há propaganda que convença o povo.

      Nesse mesmo dia, o BDSP trouxe o problema da água em bairros da zona leste de São Paulo, com vários depoimentos. Foram 7 minutos de pancadas na Sabesp — merecidas e inquestionáveis. E, para finalizar, em 8/7, a Sabesp apanhou mais um pouco por deixar Itapecerica da Serra sem água por cinco dias, devido à ruptura de uma adutora. E sem dialogar com a população.

      Acredito que esse caminho trilhado pela comunicação social da Sabesp deveria ser abandonado. Se a empresa quer conquistar os corações (e as mentes) dos paulistas, sugiro começar reconhecendo a opinião dos clientes e se colocando na perspectiva de resolver os problemas que a população enxerga — seja cor, cheiro ou abastecimento. Na minha visão, a Sabesp deveria reivindicar o título de fornecedora de água potável, adequada ao consumo. E poderia patrocinar bebedouros em equipamentos públicos, como hospitais. Seria uma forma simples de mostrar sua importância e urgência para os paulistas.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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