Nova pesquisa Atlas mostra os desafios para Paes e Lula no Rio em 2026
Maior oportunidade tanto para Lula quanto para Eduardo Paes pode estar na grave crise do governo estadual atual
Do Cafezinho
Uma nova pesquisa da AtlasIntel, realizada entre 25 e 29 de agosto de 2025 com 2.001 entrevistados no Rio de Janeiro, revela um cenário desafiador para os principais nomes da Frente Ampla Democrática no estado. Embora Eduardo Paes mantenha a liderança para governador e Lula para presidente, ambos enfrentam disputas apertadas em 2026.
Para o governo estadual, Eduardo Paes aparece com 40% das intenções de voto no cenário mais difícil, com presença do senador Flávio Bolsonaro no páreo, que encosta nele com 32,8% – uma diferença de apenas 7,2 pontos percentuais que praticamente garante um segundo turno. Na disputa presidencial, a situação é ainda mais apertada: Lula lidera com 35%, mas Tarcísio de Freitas aparece com 33,5%, uma diferença de apenas 1,5 pontos que coloca o Rio de Janeiro como um dos estados onde haverá mais competição na eleição nacional.
O Rio de Janeiro, com cerca de 13,5 milhões de eleitores – aproximadamente 8,5% do eleitorado nacional -, será estratégico para as ambições de Lula em 2026. Como as eleições presidenciais podem ser apertadas, assim como foram em 2022, o estado pode representar o fiel da balança na disputa nacional. Assim como o avanço de Lula na cidade de São Paulo em 2022 foi crucial para sua vitória, um avanço do presidente também na capital carioca e na região metropolitana será extremamente valioso para garantir uma eventual reeleição. Uma derrota no Rio – onde Bolsonaro venceu nas duas últimas eleições presidenciais – comprometeria seriamente as chances do petista. Para Eduardo Paes, a disputa representa a oportunidade de consolidar sua projeção nacional, mas em um cenário bem mais competitivo do que suas vitórias municipais recentes sugeriam.
Lula ainda enfrenta rejeição, mas PT cresceu no estado
O principal desafio de Lula no Rio de Janeiro fica evidente nos números de aprovação: apenas 39% aprovam seu governo contra 57% que desaprovam, um saldo negativo de 18 pontos percentuais que o coloca “embaixo d’água” no estado. Mais preocupante ainda é que Jair Bolsonaro mantém 46% de imagem positiva no Rio, superando Lula em 7 pontos percentuais – um indicador da força persistente do bolsonarismo fluminense.
No entanto, é importante reconhecer que o PT cresceu significativamente no estado entre as duas últimas eleições presidenciais. Em 2018, Haddad obteve apenas 32,05% no estado e 35,43% na capital. Em 2022, Lula conseguiu 43,47% no estado e 47,34% na capital – um crescimento de mais de 11 pontos percentuais no estado e quase 12 pontos na capital, demonstrando uma trajetória ascendente que pode ser potencializada.
O desafio se torna ainda maior quando analisamos as principais cidades do estado. Na Baixada Fluminense, região crucial para qualquer vitória estadual, Lula teve desempenho insuficiente em 2022: São Gonçalo 44,86% contra 55,14% de Bolsonaro, Duque de Caxias 42,05% contra 57,95% de Bolsonaro e Nova Iguaçu apenas 37,03% contra 62,97% de Bolsonaro. Apenas em Niterói o petista conseguiu vencer, com 51,27% contra 48,73% de Bolsonaro, mostrando que sua base se concentra em áreas de maior renda e escolaridade.
Para viabilizar uma vitória nacional em 2026, Lula precisará não apenas manter suas bases na capital – onde tem aliança estratégica com Eduardo Paes – mas expandir significativamente sua penetração na Baixada Fluminense e no interior. A parceria com Eduardo Paes pode ser fundamental neste processo: o prefeito carioca, que cresceu de 37% em 2020 para mais de 60% em 2024, pode ajudar a construir uma química eleitoral positiva que, dando certo, pode resultar em uma ótima votação para ambos em 2026. Esta aliança representa uma oportunidade única de combinar a experiência nacional de Lula com a popularidade local de Paes.
Eduardo Paes lidera, mas sem conforto
Eduardo Paes chega a 2026 em uma posição aparentemente privilegiada, mas que esconde desafios significativos. No primeiro cenário testado pela pesquisa, com candidatos menos competitivos, ele aparece com 43,9% das intenções de voto. No entanto, quando Flávio Bolsonaro entra na disputa – o cenário mais competitivo -, sua liderança se reduz para 40% contra 32,8% do senador bolsonarista.
Esta diferença de 7,2 pontos percentuais, embora significativa, está longe de garantir uma vitória tranquila. Flávio Bolsonaro demonstra força em segmentos específicos mas importantes do eleitorado: possui 59,5% de preferência entre os evangélicos, lidera entre os mais jovens e, curiosamente, tem penetração significativa nas classes populares – um fenômeno que contraria padrões nacionais onde o bolsonarismo é mais forte nas classes médias.
O trunfo de Eduardo Paes está na transferência de votos: 78% dos eleitores que votaram em Lula em 2022 declaram intenção de votar no prefeito carioca, consolidando uma aliança estratégica da Frente Ampla Democrática – movimento que deve reunir em 2026 lideranças de vários campos ideológicos distintos sob o denominador comum da defesa da democracia, das instituições, da soberania nacional e, sobretudo, uma oposição ao bolsonarismo e à extrema direita. Além disso, ele vem de uma trajetória ascendente impressionante: cresceu de 37,01% em 2020 para 60,47% em 2024 na eleição municipal da capital.
No entanto, o desafio será manter esta coalizão ampla em um cenário de polarização crescente. Eduardo Paes precisará equilibrar sua aliança com Lula – fundamental para sua base eleitoral – com a necessidade de atrair eleitores de centro descontentes com ambos os extremos da polarização nacional.
Oportunidade na crise do governo Castro
Paradoxalmente, a maior oportunidade tanto para Lula quanto para Eduardo Paes pode estar na grave crise do governo estadual atual. Cláudio Castro apresenta aprovação de apenas 29% contra 64% de rejeição, um saldo negativo de 35 pontos percentuais que o torna um dos governadores mais rejeitados do país.
Esta rejeição se reflete no humor geral da população fluminense: 75% acreditam que o Rio de Janeiro está no “mau caminho” – um percentual ainda mais grave que a avaliação nacional, onde 55% têm percepção negativa. Mais revelador ainda é que 74% dos eleitores preferem “alguém que faça uma gestão diferente da atual”, criando um ambiente propício para candidatos de oposição.
O principal problema identificado pelos fluminenses é a criminalidade, apontada por 93% dos entrevistados, evidenciando o fracasso das políticas de segurança pública do governo Castro. A situação econômica também preocupa: 78% consideram ruim a situação econômica do estado, criando um cenário de insatisfação generalizada.
A estratégia de Eduardo Paes será clara: posicionar-se como o “anti-Cláudio Castro”, aproveitando o desgaste do atual governador para se apresentar como a mudança necessária. Para Lula, a oportunidade está em associar sua candidatura à necessidade de mudança no estado, superando sua rejeição pessoal através de uma proposta de renovação política fluminense.
O grande desafio da direita será justamente desvincular-se da imagem de Castro. Flávio Bolsonaro e outros candidatos conservadores precisarão demonstrar que representam uma direita renovada, distante dos problemas do governo estadual atual – uma tarefa complexa considerando as ligações políticas existentes.
Dados revelam polarização persistente
A análise dos dados estratificados revela padrões eleitorais que confirmam a polarização persistente no estado. O bolsonarismo fluminense apresenta características peculiares: ao contrário do padrão nacional, onde é mais forte nas classes médias, no Rio de Janeiro demonstra penetração significativa nas classes populares, especialmente entre evangélicos e jovens.
Eduardo Paes, por sua vez, tem perfil eleitoral mais próximo ao de Lula: forte entre mulheres, faixas etárias mais altas, maior escolaridade e renda. Esta sobreposição de bases eleitorais explica a aliança estratégica entre ambos, mas também revela a dependência mútua para mobilizar seus respectivos eleitorados.
Na disputa para o Senado, a fragmentação é ainda maior: Flávio Bolsonaro lidera com 23%, seguido por Benedita da Silva (PT) com 17% e Alessandro Molon (PSB) com 16%.
A situação econômica do estado – considerada ruim por 78% dos entrevistados – adiciona uma variável importante: eleitores insatisfeitos economicamente podem ser mais voláteis, criando oportunidades tanto para propostas de mudança quanto para discursos populistas de diferentes matizes.
A pesquisa AtlasIntel confirma que o sentimento de mudança domina o eleitorado fluminense, criando oportunidades para quem conseguir se posicionar de forma mais convincente como alternativa ao status quo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.