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Miguel do Rosário

Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

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Nova pesquisa Atlas mostra os desafios para Paes e Lula no Rio em 2026

Maior oportunidade tanto para Lula quanto para Eduardo Paes pode estar na grave crise do governo estadual atual

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, durante cerimônia de reabertura da Emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, Rio de Janeiro - RJ. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Do Cafezinho

Uma nova pesquisa da AtlasIntel, realizada entre 25 e 29 de agosto de 2025 com 2.001 entrevistados no Rio de Janeiro, revela um cenário desafiador para os principais nomes da Frente Ampla Democrática no estado. Embora Eduardo Paes mantenha a liderança para governador e Lula para presidente, ambos enfrentam disputas apertadas em 2026.

Para o governo estadual, Eduardo Paes aparece com 40% das intenções de voto no cenário mais difícil, com presença do senador Flávio Bolsonaro no páreo, que encosta nele com 32,8% – uma diferença de apenas 7,2 pontos percentuais que praticamente garante um segundo turno. Na disputa presidencial, a situação é ainda mais apertada: Lula lidera com 35%, mas Tarcísio de Freitas aparece com 33,5%, uma diferença de apenas 1,5 pontos que coloca o Rio de Janeiro como um dos estados onde haverá mais competição na eleição nacional.

O Rio de Janeiro, com cerca de 13,5 milhões de eleitores – aproximadamente 8,5% do eleitorado nacional -, será estratégico para as ambições de Lula em 2026. Como as eleições presidenciais podem ser apertadas, assim como foram em 2022, o estado pode representar o fiel da balança na disputa nacional. Assim como o avanço de Lula na cidade de São Paulo em 2022 foi crucial para sua vitória, um avanço do presidente também na capital carioca e na região metropolitana será extremamente valioso para garantir uma eventual reeleição. Uma derrota no Rio – onde Bolsonaro venceu nas duas últimas eleições presidenciais – comprometeria seriamente as chances do petista. Para Eduardo Paes, a disputa representa a oportunidade de consolidar sua projeção nacional, mas em um cenário bem mais competitivo do que suas vitórias municipais recentes sugeriam.

Lula ainda enfrenta rejeição, mas PT cresceu no estado

O principal desafio de Lula no Rio de Janeiro fica evidente nos números de aprovação: apenas 39% aprovam seu governo contra 57% que desaprovam, um saldo negativo de 18 pontos percentuais que o coloca “embaixo d’água” no estado. Mais preocupante ainda é que Jair Bolsonaro mantém 46% de imagem positiva no Rio, superando Lula em 7 pontos percentuais – um indicador da força persistente do bolsonarismo fluminense.

No entanto, é importante reconhecer que o PT cresceu significativamente no estado entre as duas últimas eleições presidenciais. Em 2018, Haddad obteve apenas 32,05% no estado e 35,43% na capital. Em 2022, Lula conseguiu 43,47% no estado e 47,34% na capital – um crescimento de mais de 11 pontos percentuais no estado e quase 12 pontos na capital, demonstrando uma trajetória ascendente que pode ser potencializada.

O desafio se torna ainda maior quando analisamos as principais cidades do estado. Na Baixada Fluminense, região crucial para qualquer vitória estadual, Lula teve desempenho insuficiente em 2022: São Gonçalo 44,86% contra 55,14% de Bolsonaro, Duque de Caxias 42,05% contra 57,95% de Bolsonaro e Nova Iguaçu apenas 37,03% contra 62,97% de Bolsonaro. Apenas em Niterói o petista conseguiu vencer, com 51,27% contra 48,73% de Bolsonaro, mostrando que sua base se concentra em áreas de maior renda e escolaridade.

Para viabilizar uma vitória nacional em 2026, Lula precisará não apenas manter suas bases na capital – onde tem aliança estratégica com Eduardo Paes – mas expandir significativamente sua penetração na Baixada Fluminense e no interior. A parceria com Eduardo Paes pode ser fundamental neste processo: o prefeito carioca, que cresceu de 37% em 2020 para mais de 60% em 2024, pode ajudar a construir uma química eleitoral positiva que, dando certo, pode resultar em uma ótima votação para ambos em 2026. Esta aliança representa uma oportunidade única de combinar a experiência nacional de Lula com a popularidade local de Paes.

Eduardo Paes lidera, mas sem conforto

Eduardo Paes chega a 2026 em uma posição aparentemente privilegiada, mas que esconde desafios significativos. No primeiro cenário testado pela pesquisa, com candidatos menos competitivos, ele aparece com 43,9% das intenções de voto. No entanto, quando Flávio Bolsonaro entra na disputa – o cenário mais competitivo -, sua liderança se reduz para 40% contra 32,8% do senador bolsonarista.

Esta diferença de 7,2 pontos percentuais, embora significativa, está longe de garantir uma vitória tranquila. Flávio Bolsonaro demonstra força em segmentos específicos mas importantes do eleitorado: possui 59,5% de preferência entre os evangélicos, lidera entre os mais jovens e, curiosamente, tem penetração significativa nas classes populares – um fenômeno que contraria padrões nacionais onde o bolsonarismo é mais forte nas classes médias.

O trunfo de Eduardo Paes está na transferência de votos: 78% dos eleitores que votaram em Lula em 2022 declaram intenção de votar no prefeito carioca, consolidando uma aliança estratégica da Frente Ampla Democrática – movimento que deve reunir em 2026 lideranças de vários campos ideológicos distintos sob o denominador comum da defesa da democracia, das instituições, da soberania nacional e, sobretudo, uma oposição ao bolsonarismo e à extrema direita. Além disso, ele vem de uma trajetória ascendente impressionante: cresceu de 37,01% em 2020 para 60,47% em 2024 na eleição municipal da capital.

No entanto, o desafio será manter esta coalizão ampla em um cenário de polarização crescente. Eduardo Paes precisará equilibrar sua aliança com Lula – fundamental para sua base eleitoral – com a necessidade de atrair eleitores de centro descontentes com ambos os extremos da polarização nacional.

Oportunidade na crise do governo Castro

Paradoxalmente, a maior oportunidade tanto para Lula quanto para Eduardo Paes pode estar na grave crise do governo estadual atual. Cláudio Castro apresenta aprovação de apenas 29% contra 64% de rejeição, um saldo negativo de 35 pontos percentuais que o torna um dos governadores mais rejeitados do país.

Esta rejeição se reflete no humor geral da população fluminense: 75% acreditam que o Rio de Janeiro está no “mau caminho” – um percentual ainda mais grave que a avaliação nacional, onde 55% têm percepção negativa. Mais revelador ainda é que 74% dos eleitores preferem “alguém que faça uma gestão diferente da atual”, criando um ambiente propício para candidatos de oposição.

O principal problema identificado pelos fluminenses é a criminalidade, apontada por 93% dos entrevistados, evidenciando o fracasso das políticas de segurança pública do governo Castro. A situação econômica também preocupa: 78% consideram ruim a situação econômica do estado, criando um cenário de insatisfação generalizada.

A estratégia de Eduardo Paes será clara: posicionar-se como o “anti-Cláudio Castro”, aproveitando o desgaste do atual governador para se apresentar como a mudança necessária. Para Lula, a oportunidade está em associar sua candidatura à necessidade de mudança no estado, superando sua rejeição pessoal através de uma proposta de renovação política fluminense.

O grande desafio da direita será justamente desvincular-se da imagem de Castro. Flávio Bolsonaro e outros candidatos conservadores precisarão demonstrar que representam uma direita renovada, distante dos problemas do governo estadual atual – uma tarefa complexa considerando as ligações políticas existentes.

Dados revelam polarização persistente

A análise dos dados estratificados revela padrões eleitorais que confirmam a polarização persistente no estado. O bolsonarismo fluminense apresenta características peculiares: ao contrário do padrão nacional, onde é mais forte nas classes médias, no Rio de Janeiro demonstra penetração significativa nas classes populares, especialmente entre evangélicos e jovens.

Eduardo Paes, por sua vez, tem perfil eleitoral mais próximo ao de Lula: forte entre mulheres, faixas etárias mais altas, maior escolaridade e renda. Esta sobreposição de bases eleitorais explica a aliança estratégica entre ambos, mas também revela a dependência mútua para mobilizar seus respectivos eleitorados.

Na disputa para o Senado, a fragmentação é ainda maior: Flávio Bolsonaro lidera com 23%, seguido por Benedita da Silva (PT) com 17% e Alessandro Molon (PSB) com 16%.

A situação econômica do estado – considerada ruim por 78% dos entrevistados – adiciona uma variável importante: eleitores insatisfeitos economicamente podem ser mais voláteis, criando oportunidades tanto para propostas de mudança quanto para discursos populistas de diferentes matizes.

A pesquisa AtlasIntel confirma que o sentimento de mudança domina o eleitorado fluminense, criando oportunidades para quem conseguir se posicionar de forma mais convincente como alternativa ao status quo.


* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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