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      Cândido Vaccarezza

      Dr. Cândido Vaccarezza é um médico e político formado pela Universidade Federal da Bahia e atualmente mora em São Paulo. Ele tem especializações em ginecologia e obstetrícia, saúde pública e saúde coletiva. Durante a pandemia, foi diretor do Hospital Ignácio P Gouveia, referência para o tratamento de Covid na Zona Leste de São Paulo. Como político, ele participou da luta pela democracia no Brasil na década de 1970 e foi deputado estadual e federal pelo PT. Além disso, ele também foi líder na Câmara do Governo Lula e Dilma e secretário de esporte e cultura em Mauá. Reg

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      Netanyahu e Trump. Agora, é violência e morte no Irã.

      O mundo tem de botar freio em Netanyahu e Trump antes que seja tarde

      Donald Trump e Benjamin Netanyahu (Foto: JOSHUA ROBERTS / REUTERS)

      "Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares do Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan", Trump anunciou de forma irresponsável o seu ataque às instalações nucleares do Irã. Ninguém, neste momento, pode prever o que vai acontecer.

      Sem amenizar o massacre que continua na faixa de Gaza, Netanyahu abriu, há pouco mais de uma semana, mais uma frente de guerra. Ancorado no apoio americano, se arvora à condição de “palmatória do mundo” e decidiu bombardear as usinas de enriquecimento de urânio, matar os dirigentes xiitas do exército e do governo do Irã, mesmo que estes atos levem também à morte milhares de crianças, velhos, mulheres e, como consequência, a um aumento da escalada da guerra, podendo extrapolar às fronteiras do Oriente Médio. 

      Chama a atenção o fato de o bombardeio acontecer um dia depois de Netanyahu ter evitado um voto de desconfiança no parlamento e durante as negociações entre os Estados Unidos, representado por Steve Wittkoff, principal interlocutor de Trump, e o Irã sobre o enriquecimento de Urânio. O que está em questão para o movimento sionista de Israel, hoje no poder, é destruir o que eles denominam como eixo do mal, o Irã.

      Não sou contra a ONU constituir uma força militar para invadir e derrubar um governo constituído que possa colocar o mundo em risco ou que pratique atos abomináveis contra os seus cidadãos; é cabível ao mundo se defender. Decaída ou não, o Foro que temos para articular acordos ou soluções mundiais é a ONU. 

      Não é aceitável que uma nação, por mais poderosa que seja, como os EUA, ou que uma potência bélica regional, como Israel, decida que tal país está a ponto de fabricar armas nucleares, ou que financia o terrorismo, ou que é extremista religioso, seja destruído, varrido do mapa ou subjulgado. O mundo tem de botar um freio em Netanyahu e em Trump antes que seja tarde. 

      A avaliação de diversos analistas é que Israel considerou os ataques como uma "oportunidade" para melhorar a própria imagem, "tirar o foco de Gaza" e impedir o acordo envolvendo o Irã e EUA sobre o projeto nuclear iraniano. Como todos sabem, Israel não assinou o tratado de não proliferação de armas nucleares, deve ter as suas bombas atômicas, é a principal força militar na região e conta com apoio quase incondicional dos Estados Unidos da América. Por outro lado, o Irã, segunda potência do Oriente Médio, estava bastante enfraquecido devido à queda do governo de Bashar al-Assad na Síria, o declínio do Hezbollah ao norte de Israel e do Hamas ao sul e com a destruição das base de defesa aéreas iranianas, onde se encontravam os S 300 e S 400 russos. A estratégia de guerra Israelense foi dominar o espaço aéreo do Irã, iniciar os ataques sistemáticos e a partir daí, pressionar os Estados Unidos a entrarem na Guerra; Israel, apesar da tecnologia e força militar, tem apenas 10 milhões de habitantes e um pequeno território, não conseguirá derrotar o Irã sozinha com seus bombardeios. Os EUA já estavam ajudando diretamente na guerra, como anunciou, há alguns dias, o próprio Netanyahu, que os equipamentos americanos estavam interceptando foguetes iranianos. O comando de guerra de Israel informou que só possuía apenas 8 aviões tanques, mas estava usando 38, 30 dos quais, cedidos pelos EUA, com pilotos americanos. Imagine se caças russos com pilotos russos estivessem participando desta guerra? Agora os EUA, através de decisão do seu presidente, sem consulta ao parlamento, bombardearam o Irã e entraram na guerra, mudando todas as expectativas para a paz no Oriente Médio. Os EUA são a maior potência militar do mundo e podem provocar uma guerra de proporção mundial. A situação é grave e preocupante.

      Netanyahu, há mais de duas décadas, vem anunciando que o Irã está prestes a construir a bomba atômica, em que pese as diversas negativas da Agência Internacional de Energia Atômica da Nações Unidas. O mundo esteve próximo de um grande acordo nuclear, por iniciativa do presidente americano, Barack Obama, em que ficaram estabelecidas diversas condicionantes para o processo de enriquecimento de urânio pelo Irã, com a oposição franca de Netanyahu. Na eleição de Trump para seu primeiro mandato, os EUA saíram do acordo e tudo voltou à estaca zero. Agora, com a violenta ação de Israel no Oriente Médio, a declaração dos objetivos de pôr fim ao governo xiita e a eliminação física de vários dirigentes comprometidos ou aliados do Irã, com o presidente Trump declarando inicialmente que o Irã tem de se render incondicionalmente, fazendo ameaça de morte ao Aiatolá Khamenei, mesmo tendo voltado atrás e na neste sábado, mandando bombardear as usinas de enriquecimento de urânio do Irã, a guerra ganha contornos abstrusos e futuros incertos. Torço para que prevaleça o bom senso e que a diplomacia vença a força bruta e os desejos de extremistas e totalitários, que não levarão a um bom caminho. Não acredito que as principais potências trabalhem com a hipótese de ampliação das fronteiras da guerra, mas se depender de Netanyahu, de Trump e de alguns fundamentalistas de ambos os lados, o futuro será sombrio. Tudo indica que havia um plano macabro para destruir o Irã e que os EUA, ou melhor, Trump e o “trampismo”, associados à extrema direita de Israel, estão desenvolvendo um plano desconhecido da ONU e das demais nações; o tempo dirá. Tudo indica que o Irã, mesmo sem poderio militar, não se deixará subjugar. 

      Felizmente, nos EUA, 60% da população é frontalmente contra a guerra e mesmo alguns republicanos poderão colocar freios em Trump, aguardemos as reações do parlamento americano. Em Israel, Netanyahu não conta com grande prestígio, apesar de a guerra ter apoio da maioria da população. A China, como sói acontecer, tem agido com firmeza e ponderação em defesa da paz, ainda não se manifestou e não poderia se manifestar sobre os ataques americanos. A Europa, apesar do apoio genérico a Israel, de Trump querer exclusividade na condução dos acordos e de o Primeiro Ministro alemão, Friedrich Merz, ter dito que “Israel faz o trabalho sujo para nós”, tem buscado uma solução diplomática, uma saída acordada para o Oriente Médio e certamente não dará carta branca a Trump nem a Netanyahu. 

      Com a ONU enfraquecida, desejemos ou não, a principal condução está nas mãos dos americanos, vamos torcer por uma melhor saída, que o parlamento e o povo americano contenham o seu presidente e evitem o alastramento da guerra. O estrago já é grande… A guerra com os EUA está declarada. Provavelmente será fechado trânsito aos navios no Estreito de Ormuz, que fica entre o Golfo de Oman e o Golfo Pérsico, por onde passa boa parte do petróleo consumido no mundo. Aumentou a insegurança de todos os países onde existem bases americanas, as bolsas, o preço do petróleo e a inflação responderam com índices negativos para a economia mundial. É muita tragédia à vista, Israel e seu povo, os EUA e os americanos vão sofrer muito. Talvez Trump esteja construindo um outro Vietnã para os EUA. O Irã tem 90 milhões de habitantes, e, apesar de ao longo da história ter experimentado diversos tipos de regime e de governo e ter enfrentado diversas guerras, é o país mais antigo do mundo, é a antiga Pérsia, não se entregará, a maioria do seu povo apoia a revolução que foi dirigida pelo Aiatolá Khomeini e tem direito de decidir autonomamente o seu destino. 

      Além da opinião pública no interior dos EUA, são importantes manifestações pela paz em todos os lugares do mundo, vamos ajudar a construir uma consciência que somente a diplomacia pode resolver os problemas do Oriente Médio. 

      Recebi de um amigo a seguinte convocação: “Religiosos das fés judaica, islâmica, muçulmana, cristã, de matriz africana, ameríndias, xamânicas e orientais unem-se em um ato contra a guerra no Oriente Médio, contra o massacre dos palestinos em Gaza e em defesa de todas as vítimas, inclusive os reféns israelenses. Participe do evento e contribua para a paz no Oriente Médio. É no domingo, 29 de junho, às 10h, no Tucarena (Rua Bartira, 347 - Perdizes, São Paulo)”; este tipo de evento pode ser realizado em todos os lugares do Brasil.

      O Governo brasileiro deve atuar com firmeza, apesar de este conflito não nos envolver, para defender a paz e apoiar o fortalecimento da diplomacia com o caminho para equacionar a guerra no Oriente Médio

      Como Camões, desejo a volta dos judeus a sua Sião, no sentido bíblico.

      Cá nesta Babilónia

      Cá nesta Babilónia, donde mana
      Matéria a quanto mal o mundo cria,
      Cá, onde o puro Amor não tem valia,
      Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

      Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
      E pode mais que a honra a tirania;
      Cá, onde a errada e cega Monarquia
      Cuida que um nome vão a Deus engana;

      Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,

      Com esforço e saber pedindo vão

      Às portas da Cobiça e da Vileza;

      Cá, neste escuro caos de confusão,
      Cumprindo o curso estou da natureza.
      Vê se me esquecerei de ti, Sião!

      Camões, in Sonetos.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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