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Liszt Vieira

Liszt Vieira é professor de sociologia aposentado da PUC-Rio. Foi deputado (PT-RJ) e coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92

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Não é só a economia, estúpido!

O atual governo não enfrenta a guerra cultural e não trouxe até agora uma mensagem de esperança. Não tem uma utopia a apresentar, uma marca de governo

Luiz Inácio Lula Da Silva (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

A economia vai bem, o governo vai mal. Os dados macroeconômicos são favoráveis: aumento do PIB, redução da taxa de desemprego, inflação abaixo das expectativas do mercado, crescimento da indústria, crescimento da taxa de investimento - apesar da elevada taxa de juros - crescimento do varejo, queda na taxa de pobreza e de miséria, queda na taxa de desmatamento na Amazônia etc.

Apesar disso, caiu muito a popularidade do presidente Lula. O único dado econômico que interfere diretamente no voto é o preço dos alimentos. E nesse quesito o governo não vai bem. Como dizia a saudosa economista e professora Maria da Conceição Tavares, o povo não come PIB. Em outras palavras, os dados macroeconômicos não chegam ao povão que vive no mundo microeconômico. E, quando chegam, chegam já distorcidos pela manipulação da mídia.

Se um candidato faz campanha com base no avanço da economia recitando a melhora nos dados macroeconômicos e outro candidato promete que os pobres ficarão ricos, o segundo candidato será o favorito, muito provavelmente. Ganhará mais votos.

A razão é simples, mas costuma ser frequentemente ignorada. O segundo candidato apelou para a esperança, para a utopia, para melhores dias no futuro. Um bom exemplo foi a campanha de Brizola para governador no Rio de Janeiro em 1982, a primeira eleição já nos estertores da ditadura militar. No sorteio de temas entre os candidatos, coube a Brizola falar sobre agricultura. Ele não entendia nada, só entendia de pecuária, era fazendeiro de gado. Em sua resposta, ele prometeu botar uma vaquinha em cada esquina e dar leite para todas as crianças. Não falou nada de agricultura, usou seu tempo para dar esperança aos eleitores. Assim foi em todos os debates. Ganhou a eleição.

O atual governo não enfrenta a guerra cultural e não trouxe até agora uma mensagem de esperança. Não tem uma utopia a apresentar, uma marca de governo. Fazer concessões à direita, ao mercado e aos militares para combater a extrema direita, em nome da governabilidade, não dá esperança a ninguém. Esse modelo de governança se esgotou. Ou o governo muda e encontra outro paradigma, dando esperança e mobilizando o apoio popular, ou corremos todos sérios riscos de derrota na próxima eleição presidencial contra um candidato de direita, apoiado pela mídia e pelo governo americano.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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