Na ONU, Trump e Lula convertem tensão em surpreendente espetáculo de sedução diplomática
Na ONU, encontro entre Lula e Trump revela choque de egos transformado em encenação diplomática pela sobrevivência do multilateralismo
Em Nova York, nesta terça-feira, 23 de setembro de 2025, bem no coração da Assembleia Geral das Nações Unidas, onde ecoam as vozes que moldam o destino coletivo da humanidade desde 1945, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva abriu os debates com um discurso que não foi apenas um protocolo diplomático, mas um manifesto vigoroso pela sobrevivência do multilateralismo e da democracia.
Foi nesse ambiente de discursos duros, gestos simbólicos e climas tensos que se produziu uma das cenas mais insólitas da história recente da ONU.
Em meio à efervescência da Assembleia Geral, o presidente Donald Trump, conhecido por sua imprevisibilidade, protagonizou um momento que ecoou como um giro psicanalítico na diplomacia global. Após um discurso inicial crítico ao Brasil, acusando-o de corrupção judicial e perseguição a cidadãos americanos – alegações que flutuam no ar sem bases concretas –, Trump abandonou o teleprompter para narrar um encontro fortuito com Lula. Esse abraço, nascido de segundos de química inesperada no plenário, onde o brasileiro havia criticado indiretamente o americano sem citar nomes, surpreendeu delegações de ambos os lados.
Segundo fontes do Departamento de Estado norte-americano, Trump não apenas improvisou, mas escutou atentamente todo o discurso de 18 minutos de Lula. Um gesto raro em sua trajetória de impaciência diplomática e que foi interpretado como sinal inequívoco de que, por detrás da postura combativa, havia interesse genuíno no que o presidente brasileiro tinha a dizer.
O que era script de confronto transformou-se em promessa de um “date” na semana seguinte, revelando o ambiente da ONU como um palco onde vaidades presidenciais se entrelaçam e onde a necessidade trumpiana de aceitação – essa fome voraz por admiração e respeito – foi sutilmente alimentada por um gesto afável de Lula, transformando crítica em cortejo.
Psicanaliticamente, a essência de Trump emerge como um narcisismo que anseia por ser o centro do universo afetivo, onde “he liked me” se torna o mantra que dissolve barreiras ideológicas. Lula, por sua vez, encarna o arquétipo do sedutor político, cativante e mestre em tecer laços com sorrisos e abraços, utilizando sua afabilidade inata para desarmar egos inflados. Nesse contexto onusiano, o improviso de Trump não reflete mera mudança de opinião, mas a formação de uma visão positiva sobre o brasileiro, impulsionada pela vaidade estimulada – um mecanismo freudiano em que o “eu” trumpiano se espelha na aprovação alheia.
Enquanto o Brasil é pintado como um país em declínio, o silêncio sobre Bolsonaro sugere uma trégua possível, desde que a soberania não seja pisoteada. Resta ver se essa conversa, provavelmente virtual, escapará do histórico trumpiano de diálogos malsucedidos ou se o carisma lulista prevalecerá, transformando o encontro em um divã diplomático onde personalidades colidem e, quem sabe, se harmonizam.
Brasil reafirma soberania e propõe guerra global contra a fome
Neste velho mundo às voltas com guerras, desigualdades abissais e crises climáticas, Lula posicionou o Brasil como esteio de resistência, trazendo à tona ideais que dialogam profundamente com a mensagem premonitória “A Promessa da Paz Mundial”, emitida pela Casa Universal de Justiça em 1985. Quarenta anos separam esses textos, mas suas convergências revelam uma continuidade inabalável na luta por uma ordem global justa e unificada.
O pronunciamento, proferido com a veemência de quem já enfrentou prisões e ditaduras, destacou-se por sua crítica afiada à “desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder”. O orador traçou um paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia, alertando para o fortalecimento do autoritarismo em meio a omissões globais. Um ponto alto foi a defesa intransigente da soberania brasileira, especialmente após a condenação inédita de um ex-presidente por atentado ao Estado Democrático de Direito – uma referência velada a Jair Bolsonaro, sem nomeá-lo, mas com clareza meridiana. “Não há pacificação com impunidade”, enfatizou ele, enviando um recado global: democracias sólidas transcendem eleições, exigindo redução de desigualdades e garantia de direitos básicos como alimentação, trabalho e saúde.
Outro destaque foi a celebração da saída do Brasil do Mapa da Fome em 2025, confirmada pela FAO, contrastando com os 670 milhões de famintos no planeta. O estadista propôs uma “guerra” coletiva contra a fome e a pobreza, via Aliança Global lançada no G20, com adesão de 103 países. Suas recomendações foram contundentes: cortar gastos bélicos, aliviar dívidas externas (especialmente de nações africanas) e impor tributação mínima global aos super-ricos.
Aqui, o chefe de Estado não poupou críticas ao uso de plataformas digitais para disseminar ódio e desinformação, defendendo regulação como proteção aos vulneráveis – não censura, mas extensão da lei ao virtual, assim como impera no mundo físico, palpável. Ele destacou a assinatura recente de uma lei brasileira avançada para salvaguardar crianças online, além de projetos para fomentar concorrência digital e datacenters sustentáveis.
Na geopolítica, o tom humanista prevaleceu: a América Latina como zona de paz, crítica à equiparação de criminalidade a terrorismo e defesa de cooperação contra lavagem de dinheiro e comércio de armas. Sobre a Venezuela, insistiu no diálogo; no Haiti, no fim da violência; em Cuba, na remoção da lista de patrocinadores do terrorismo. No conflito ucraniano, pregou solução negociada, citando iniciativas africana e sino-brasileira. Mas o clímax emocional irrompeu na Palestina: os atentados do Hamas foram condenados, mas o que ocorre em Gaza foi rotulado como “genocídio”, com fome como arma e deslocamentos forçados. O veto solitário ao Estado palestino e a ausência de Mahmoud Abbas foram lamentados, com alerta para o risco de escalada no Oriente Médio. “Nada justifica o genocídio em curso”, foi enfático, tornando inadmissível sob qualquer aspecto o uso da fome como instrumento bélico. Mais direto, impossível.
A crise climática ocupou espaço central, com o anúncio da COP30 em Belém como “a COP da verdade”, comprometendo o Brasil a reduzir emissões em 59-67%. A lógica predatória na extração de minerais críticos foi criticada, e o Fundo Florestas Tropicais proposto para remunerar a preservação.
Em reformas institucionais, defendeu uma ONU revitalizada, com Conselho de Segurança ampliado, e a refundação da OMC contra medidas unilaterais. Homenagens a Pepe Mujica e Papa Francisco como ícones humanistas selaram o encerramento, com uma visão de mundo multipolar, mas multilateral, onde o Sul Global emerge com força.
Ao absorver o pronunciamento brasileiro – e a inesperada cena com Trump – um documento me veio à mente com muita força: “A Promessa da Paz Mundial”, carta visionária de 1985, no Ano Internacional da Paz da ONU, assinada pela Casa Universal de Justiça. Com argumentação sóbria e apelo apaixonado, ela diagnostica o “caos e confusão” da ordem prevalecente, ecoando a “desordem internacional” evocada pelo líder brasileiro, e proclama a paz como inevitável – o “próximo estágio na evolução deste planeta”.
Esses pontos não florescem no vácuo; eles dialogam e, em instâncias cruciais, complementam-se, convergindo ao identificar o apego a padrões obsoletos como raiz de conflitos. A mensagem de 1985 alerta para “convulsões e caos iminentes”, enquanto o discurso contemporâneo denuncia o “enfraquecimento da democracia” perante o tsunami de arbitrariedades.
Essa, digamos, simbiose flui naturalmente para a ênfase à unidade da humanidade. O presidente clamou por democracias que reduzam desigualdades, garantindo direitos elementares – um eco direto à visão de que a paz exige superar preconceitos de raça, classe, nação e sexo, fundando uma ordem mundial na “consciência inabalável da unidade”.
Para o analista imparcial, salta aos olhos que ambos propõem ações concretas: alívio de dívidas e tributação global no púlpito atual; crítica à “disparidade desmedida entre ricos e pobres” como instabilidade à beira da guerra, demandando abordagens espirituais, morais e práticas para eliminar o gigantesco abismo entre os muito ricos e os miseráveis.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.