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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Mesmo depois de humilhada pelo Diretor da Escola, a Europa insiste em que Paz é Guerra

O Império do Caos está em guerra, híbrida e de outros tipos, não apenas contra os BRICS, mas também contra a integração da Eurásia

Macron participa de reunião com Trump, Zelensky e outros líderes europeus na Casa Branca - 18/08/2025 (Foto: Alexander Drago/Reuters)

Bastou uma única foto para registrar para a posteridade a máxima humilhação sofrida pelas elites políticas eurolixo no ano de 2025: a Coalizão dos Babacas, no Salão Oval, enfileiradas como um bando de crianças de escola amedrontadas sendo severamente repreendidas pela Voz do Mestre – uma mistura de Diretor de Escola com Dono do Circo.

O que foi também descrito com precisão como Trump dá palmadas na Europa.

É claro que o Presidente Putin já o havia previsto, mais de seis meses antes de acontecer de fato:

“Posso garantir a você, Trump, com sua personalidade e persistência irá restaurar a ordem rapidamente. Todos eles, veja bem, todos eles logo estarão sentados aos pés do dono abanando mansamente os rabos”.

A humilhação da Casa Branca selou o acordo e reconfirmou uma obsessão: para as “lideranças” eurolixo, em todos os níveis, quando se trata de relações com a Rússia, Paz é Guerra.

Brandindo sua lógica perversa, é impossível a eles compreender que a instrumentalização da Ucrânia – na verdade, desde Maidan, em 2014 – para atacar e desestabilizar a Rússia em suas fronteiras orientais, faria com que a Rússia revidasse com força máxima.

É isso que está no cerne do conceito russo de “causas subjacentes” da tragédia ucraniana, causas essas que têm que ser sanadas por completo para que haja a mínima chance de um “paz”, seja ela trumpiana ou não.

No Grande Quadro, isso se traduz como o Império do Caos e a Rússia sentando-se à mesma mesa para formular um novo acerto de “indivisibilidade da segurança” – tal como proposto por Moscou em dezembro de 2021: naquela ocasião, a reação à proposta foi ignorá-la.

O novo delírio do Eurotrash Inc. é o de atribuir a si próprio a tarefa de traçar as futuras fronteiras entre uma Europa rearmada e uma Rússia que, inevitavelmente, irá infligir a ela uma maciça derrota estratégica.

Há pouquíssima probabilidade de Trump, isoladamente, ser capaz de impor uma nova realidade estratégica à belicista, embora paupérrima, Coalizão dos Babacas. O que quer que venha a acontecer com o que restou da Ucrânia, Trump, com base em suas imprevisíveis vociferações, na verdade quer que a Europa, de agora em diante, “contenha” a Rússia usando um arsenal de armamentos americanos ridiculamente caros.

Portanto, o que muda é o caráter deste capítulo específico das Guerras Eternas: ele será travado pela Coalizão dos Babacas, não pelos Estados Unidos.

No curto prazo, isso também revela a única estratégia disponível ao combo Eurolixo/Kiev: sobreviver a Trump até as eleições de meio de mandato de 2026, destruir o restante de sua presidência e garantir-se com o retorno da gangue mega-russofóbica em 2028.

Qual Mão Morta irá prevalecer?

Um funcionário velha escola do Deep State, que tem acesso privilegiado a todos os chefões do tempo da Guerra Fria, resume todas as ciladas que a Rússia terá pela frente:

“A Rússia está demorando demais para neutralizar a Ucrânia, dando tempo para que a OTAN crie novas manobras diversionistas. Embora a ofensiva lenta na Ucrânia consiga poupar vidas, a OTAN vem tentando enfraquecer a posição estratégica nos Bálcãs e em outros locais, o que custará muitas outras vidas no futuro. Se os eslavos dos Bálcãs forem esmagados, isso poderá enfraquecer estrategicamente a situação geral da Rússia, e isso sairia muito mais caro que uma ofensiva relâmpago à la Stalin na Ucrânia russa. A Rússia tem que pôr fim a essa guerra agora, e se voltar para seus problemas ao sul, nos Bálcãs, e para as intrigas de Baku”.

Trump, é claro, não faz a mínima ideia dessas sutilezas do Grande Quadro. Pelo menos ele admite para a Fox News que “a Ucrânia não irá recuperar a Crimeia” e que “a Ucrânia não se juntará à OTAN”. Mas ele parece não se importar que “França, Alemanha e Reino Unido queiram enviar tropas para a Ucrânia” como parte do novo kabuki: “garantias de segurança”. Essa é uma linha vermelha intergalática para Moscou.

Paralelamente, é ilusão acreditar que Putin, agora, esteja finalmente pronto para negociar a “paz”. Aqui não se trata de paz, e sim de criar fatos incontroversos no campo de batalha, porque Moscou sabe que essa guerra só será ganha no campo de batalha.

As tropas russas atingiram a linha de defesa final no Donbass: Slavyansk-Kramatorsk. E vem rapidamente cercando pontos fortificados próximos a Pokrovsk e Konstantinovka. E por falar de um ponto de virada estratégico-psicológico. A partir dali, o céu – das estepes – é o limite.

Some-se a isso o hacking combinado do Estado Maior das Forças Armadas da Ucrânia – que revelou que as perdas de Kiev, em termos de mortos e desaparecidos, chegam ao estarrecedor total de 1,7 milhões.

Tudo o que foi dito acima significa que estamos rapidamente nos aproximando do momento fatal, em que o vencedor ditará a totalidade dos termos da capitulação do inimigo. Não haverá necessidade de marchar para o Bankova, em Kiev, para fincar a bandeira russa.

Permitir-se discutir um vagabundo acordo de “paz” ditado por Trump traria uma série de derrotas estratégicas graves para a Rússia. Por exemplo: deixar Odessa e Kharkov para as maquinações do MI6 e dos britânicos. Ao mesmo tempo, Moscou tem que começar a dar muito mais atenção a sua zona vulnerável do front do Sul do Cáucaso, onde a melíflua intenção turca é construir um cinturão-corredor panturânico.

O Império do Caos está em guerra, híbrida e de outros tipos, não apenas contra os BRICS, mas também contra a integração da Eurásia. Algumas das implicações certamente serão discutidas na próxima cúpula da OCX, em Tianjin, em 31 de agosto/1º de setembro. Putin, Xi, Modi, e Pezeshkian estarão todos presentes.

E isso deve deixar claro para todos os atores presentes o imperativo de os BRICS e a OCX, o quanto antes, representarem a Eurásia, coordenando cada vez mais suas ações e turbinando sua cooperação não apenas em termos econômicos, mas também geoestratégicos. Só há uma maneira de agir: negociar como grupo com o Império do Caos cada vez mais fora de controle. Putin e Xi já sabem disso. Lula e Modi estão começando a entender.

Enquanto isso, há a irresistível tentação de ver Putin concedendo a Trump uma saída honrosa da derrota estratégica do Império na Ucrânia que o permita salvar a face.

O problema é que o maciço front da Paz é Guerra jamais aceitará essa solução. E isso vai muito além do Eurolixo Inc., incluindo também o dinheiro antigo atlanticista, atores importantes nas finanças internacionais e os neocons mortos-vivos, mas ainda não mortos de todo.

Rússia, China e BRICS/OCX precisam entrar em alerta vermelho 24/7. O front da Paz é Guerra já entrou em processo de se converter no front NBT (Nuclear Ban Treaty): ameaças nucleares, armas biológicas e ataques terroristas. A Rússia talvez tenha a Mão Morta – capaz de exterminar qualquer ataque. O Front NBT, na melhor das hipóteses, tem a esquelética mão morta de um morto ambulante.

Tradução de Patricia Zimbres

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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