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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Maior integração regional é o caminho para navegar em águas turbulentas

A aproximação entre Brasil e Chile é fundamental num mundo marcado por guerras comerciais

Lula e Gabriel Boric (Foto: Ricardo Stuckert)

A cúpula Brasil-Chile realizada ontem, em Brasília, representou um marco estratégico nas relações sul-americanas. Muito além dos atos protocolares e da assinatura de treze acordos bilaterais, o encontro evidenciou uma resposta concreta às crescentes tensões do cenário internacional, especialmente diante da nova escalada protecionista protagonizada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato. As tarifas unilaterais impostas contra a China e outros países marcam uma nova fase da guerra comercial global, tornando ainda mais urgente a construção de uma América do Sul integrada, soberana e resiliente a choques externos.

A presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Gabriel Boric reforçou uma visão de mundo baseada na cooperação e na justiça econômica. Ambos defendem a reconstrução da América do Sul como um polo autônomo de desenvolvimento, capaz de diversificar suas parcerias, proteger seus interesses e gerar oportunidades para seus povos. Nesse contexto, os corredores logísticos das Rotas de Integração Sul-Americana — que interligarão portos brasileiros no Atlântico a portos chilenos no Pacífico — adquirem valor geopolítico: deixam de ser apenas obras de infraestrutura para se tornar instrumentos de soberania.

Durante o Fórum Empresarial Brasil-Chile, realizado na sede da Confederação Nacional da Indústria, o presidente Lula fez declarações de forte impacto político. Em reação direta às tarifas anunciadas por Trump contra produtos chineses, Lula afirmou: “Esse é o momento de a gente criar coragem e, a partir da nossa inteligência, decidir o que a gente quer ser, o que a gente vai ser e como vamos fazer comércio. A gente não quer guerra fria. Queremos privilegiar os interesses soberanos dos nossos povos”.

A fala do presidente brasileiro aponta para uma inflexão estratégica. Diante de um mundo marcado por disputas comerciais e rivalidades geopolíticas, a saída não está em alinhamentos automáticos ou submissão às potências dominantes, mas na criação de espaços próprios de articulação política e econômica. Uma América do Sul mais integrada não apenas reduz custos e amplia mercados; ela se transforma em um escudo contra instabilidades externas e um campo fértil para o desenvolvimento soberano.

Esse movimento ganha fôlego com a realização da cúpula China-Celac, agendada para o dia 13 de maio, em Pequim, com a presença confirmada do presidente Lula. A reunião reunirá chefes de Estado de diversos países latino-americanos e caribenhos com o objetivo de aprofundar a cooperação entre a América Latina e a China, na contramão da lógica de confronto adotada pelos Estados Unidos. A China, que já é o principal parceiro comercial de países como Brasil, Chile, Peru e Argentina, busca ampliar sua presença por meio de investimentos em infraestrutura, ciência e inovação. A Celac, por sua vez, consolida-se como espaço autônomo de concertação política entre os países do continente.

A nova ofensiva tarifária de Washington confirma que os tempos são de turbulência. O protecionismo substituiu a retórica liberal, e a hegemonia do dólar passou a ser usada como instrumento de coerção. Frente a esse cenário, a união sul-americana não é apenas desejável – é necessária e urgente. A cúpula Brasil-Chile mostrou que há disposição política para isso. A cúpula China-Celac mostrará que há espaço global para esse reposicionamento.

Fortalecer os laços regionais, diversificar parcerias e criar novas rotas de desenvolvimento não é um ato de resistência – é um gesto de inteligência histórica. Enquanto velhos impérios tentam erguer novos muros, a América do Sul tem a chance de construir pontes. E Lula e Boric, ao que tudo indica, estão dispostos a atravessá-las juntos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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