Lula converge aprovação-intenção de voto
"Em um cenário de polarização resiliente, é fundamental buscar sinergia entre o desempenho eleitoral e a popularidade do governo", escreve Leopoldo Vieira
A aprovação do governo (51%) e as intenções de voto (51% e 52%), já com cenário de vitória em primeiro turno do presidente Lula, convergem na pesquisa Atlas/Bloomberg divulgada nesta sexta-feira, indicando que o petista acerta ao reforçar seu eleitorado raiz com pautas que lhe são aderentes, como a justiça tributária, o enfrentamento ao "andar de cima" do crime organizado e a defesa da bandeira nacional.
O movimento tem ampliado a competitividade do presidente e, consequentemente, sua capacidade de atrair aliados e arrastar franjas adversárias, como sugere a permanência de ministros do Centrão à revelia de seus comandos partidários. Em um cenário de polarização resiliente, é fundamental buscar sinergia entre o desempenho eleitoral e a popularidade do governo, uma vez que o resultado das urnas também reflete uma divisão na percepção sobre a gestão, gerando uma dinâmica em que aprovação e intenção de voto se transferem mutuamente.
Sem Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, derrotaria eventuais adversários do campo do centro e da direita, apontando um favoritismo do campo do lulismo, e não apenas do presidente. Na lista batida por Lula estão os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Jr. (PR), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além do ex-presidente Jair Bolsonaro, que deve estar cumprindo pena durante a disputa pelo Palácio do Planalto. Por Haddad, são vencidos Tarcísio, Caiado, Ratinho e Zema.
GOVERNABILIDADE E EMENDAS
É nesse contexto que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, afirma que o Poder Executivo precisa melhorar seu relacionamento com o Legislativo, principalmente no pagamento das emendas parlamentares — o que não deve ocorrer em relação àquelas com problemas técnicos, sob escrutínio de órgãos de controle, que estejam fora dos marcos definidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e as que serão cortadas para atingir a meta fiscal. Mesmo assim, alguns bilhões de ministérios setoriais podem ser liberados para contemplar a reorganização da base aliada e cumprir o orçamento impositivo.
O ministro Flávio Dino anunciou que determinará ao governo Lula a realização de uma campanha publicitária, na mídia tradicional e nos meios digitais, sobre transparência e rastreabilidade das emendas entre dezembro e fevereiro, o que tende a ampliar a rejeição social ao mau uso desses recursos.
Dino também ordenou que estados e municípios adotem medidas próprias para garantir transparência e rastreabilidade na execução das emendas de assembleias legislativas e câmaras municipais a partir de 1º de janeiro de 2026, sob pena de bloqueio, o que pode reverter parcialmente o avanço de deputados estaduais e vereadores sobre prerrogativas de governadores e prefeitos.
ORÇAMENTO, CÂMARA vs. SENADO
Motta alertou que, antes de pautar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, é preciso resolver o problema fiscal. Haddad deve avançar com três eixos, em duas medidas, para fechar as contas públicas: um, com corte de despesas, que pode ser votado na próxima semana, embora outro, com revisão de benefícios tributários, deva ficar para depois; e um terceiro, com taxação de bets e fintechs, que provavelmente será rejeitado. No entanto, a resistência do Centrão às medidas de arrecadação voltadas ao sistema financeiro e à alta renda pode abrir mais uma oportunidade para o governo mobilizar a opinião pública.
Reagindo à conjuntura adversa ao establishment político, a Câmara manteve o texto que cria regras para decisões monocráticas no STF, remetendo o projeto ao Senado, onde a proposta deve ser contida e segue pendente a conclusão da reforma do Imposto de Renda (IR). Em paralelo, sem Dosimetria, restará a Bolsonaro o destino da Papuda ou uma prisão domiciliar concedida pelo STF. A viabilidade de uma anistia “light”, contudo, depende de superar resistências entre os senadores. O acórdão com a sentença de Bolsonaro foi publicado nesta semana.
Com a aprovação no Senado do projeto que exclui R$ 5 bilhões em despesas das Forças Armadas da meta fiscal, o Executivo pode ultrapassar R$ 150 bilhões em exceções à regra até 2026, segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI). As deduções somam medidas já adotadas, como o pagamento de precatórios fora do limite, os gastos com a reconstrução do Rio Grande do Sul e com incêndios, investimentos do PAC e socorro a empresas afetadas pelo tarifaço americano. Essas exceções apontam para a necessidade de um novo pacto fiscal que contemple pressões climáticas, demandas sociais, necessidades nacionais estratégicas e prerrogativa dos Poderes a partir de 2027.
STF, TRUMP E JUROS
O presidente adiou a indicação do substituto de Luís Roberto Barroso na Corte, o que pode ocorrer na próxima semana ou em novembro, quando o Senado deve reconduzir o procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet. Lula pode ampliar as conversas políticas para reduzir tensões antes de anunciar sua escolha, após retornar da Ásia, segundo lideranças governistas. Na Malásia, Lula deve se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no domingo, em meio à escalada entre Washington e Caracas, sob a justificativa americana de combate ao narcotráfico, conflito que agora envolve a Colômbia. Novamente, estarão à mesa a virtù e a fortuna que marcam a trajetória do presidente.
A semana também foi marcada por entregas do Executivo, como o programa “Reforma Casa Brasil” — que facilita crédito para reformas, ampliações e adequações de moradias em todo o país — e o “pacote antifacção”, que endurece o combate ao crime organizado, prevendo apreensão e perdimento antecipado de bens, restrição à progressão de regime para chefes de quadrilhas e infiltração de agentes. A Petrobras foi autorizada a prospectar o potencial econômico da exploração de petróleo na Margem Equatorial, apesar da oposição de 61% da população, conforme o Datafolha, o que evidencia a disposição do presidente em disputar posições na sociedade.
Por fim, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado prévia da inflação, veio contribuindo para a tendência de redução da taxa Selic a partir do primeiro trimestre de 2026, cujo “clima” de redução de juros tende a favorecer a reeleição de Lula, em ambiente provavelmente refratário à retomada do ancien régime do Teto de Gastos.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



