Homossexuais, "maricas" e negros: as vítimas ocultas do golpe fracassado
'A formação dos oficiais superiores das nossas forças é deficiente e racista, profundamente antipovo', escreve Francisco Carlos Teixeira da Silva
As agora famosas "Cadernetas da CEF" que serviam de agenda do então Ministro-Chefe do GSI revelam instruções impensáveis. Entre as diversas "instruções " consta evitar citar "maricas", homossexuais e negros. Tratava-se, como em todo golpe de Estado, de evitar a revelação prematura das intenções dos golpistas-assassinos - deveriam, ainda, envenenar Lula, fuzilar Alexandre de Moraes e "desaparecer" com Alckmin. São por tanto golpistas antidemocráticos munidos de um plano homicida.
O que, além de tudo, nos revela as "Cadernetas do General", é a intenção de agir diretamente sobre os setores vulneráveis da população brasileira, em especial negros e homossexuais. Isso correspondente a um aspecto oculto, corrente nos círculos militares, sobre o risco do Brasil tornar-se um país de gays. Assim, o golpe deveria eliminar a ideologia "gaysista" e seus defensores.
Para a realização de tal ação contra o povo brasileiro estava planejado, conforme decodificação do whatsapp do telefone do Tenente-Coronel Mauro Cid, a organização de "CPG", ou seja, "Campos de Prisioneiros de Guerra", ou seja, campos de concentração. Para tornar ainda mais clara a natureza nazista do golpe, outro coronel "Kid preto" gritava, durante a conversa, com ênfase, "Auschwitz!" (O Globo, 27/11/2024).
Assim, 80 anos depois das tropas do Exército Vermelho libertarem Auschwitz, oficiais brasileiros pretendiam criar seus próprios KZ/Konzentrationslager, voltados para uma parcela da população odiada pela cor de sua pele ou por sua condição sexual.
As anotações terem sido escritas por um dinossauro golpista, que já propunha golpes em 1977, sublinha três pontos: de um lado, a conexão direta, mesmo de pessoas, entre 1964 e de 8 de Janeiro de 2023; de outro lado, a certeza histórica da inexistência de uma transição democrática no âmbito das Forças Armadas, e, além de tudo, temos agora a certeza de que a formação dos oficiais superiores das nossas forças é deficiente, classista, racista e preconceituoso, profundamente anti-povo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



