Homenagem a Jaguar, que ajudou o Brasil a ter consciência de sua história
Jaguar fez parte de uma geração que cumpriu uma missão cultural indispensável em nossa evolução histórica
Num país enjaulado pela ditadura de 64, que deixou um arquivo de violência e covardia que não é preciso enumerar aqui, Jaguar deixou uma obra rara pelo impacto político e inesquecível pela agressividade de um traço simples, que não fazia concessões e sempre foi direto ao ponto.
Num Brasil semi-anestesiado pela violência de uma censura que protegia um sistema de força e violência, Jaguar mostrou que era preciso enfrentar a truculência moral e física do regime para iluminar consciências adormecidas, e assim construiu obra corajosa, de leitura sempre obrigatória.
Em vez de oferecer confortos ilusórios e perecíveis num país submetido a uma ditadura que transformou a tortura contra presos e pretos em rotina selvagem, Jaguar fez de sua obra uma lâmina afiada sobre o tempo presente.
Exibindo uma coragem rara para ilustrar a rotina violenta de um tempo áspero, fixou imagens obrigatórias e diálogos inesquecíveis como registros de um cotidiano de covardia e violência que jamais fora retratado — e muito menos punido — na História do país.
Em grandes momentos de sua obra, Jaguar construiu situações didáticas e personagens divertidos, numa didática agressiva e honesta, indispensável para quem procura compreender as dores e dramas do Brasil brasileiro.
Sem renunciar ao telescópio cultural de Ipanema, Jaguar denunciou as dores e tragédias de um país que enfrentava uma rotina de violência e opressão política, numa paisagem que em seus traços essenciais manteve-se até hoje.
Com aquele traço inesquecível, e um humor assumidamente grotesco, sob medida para incomodar consciências adormecidas, Jaguar fez parte de uma geração que cumpriu uma missão cultural indispensável em nossa evolução histórica.
Ensinou brasileiros e brasileiras a encarar a sério as dores e traumas de um país submetido a um sistema de violência e desigualdade que se mantém até hoje.
Este é o valor supremo da obra de Jaguar, onde o humor cumpre a função necessária de iluminar a dor presente para formar a consciência sobre os tempos difíceis de nossa História.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.