Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes
Conclui-se que é do interesse de Estados orientados à multipolaridade dominar sua compreensão acerca da guerra híbrida
Com esse titulo, o pensador russo Andrew Korybko escreveu um livro fundamental para as disputas estratégicas contemporâneas. Ele se concentra na nova estratégia dos Estados Unidos. Este modelo inicia-se com a implantação de uma revolução colorida como tentativa de golpe brando, que é logo seguida por um golpe rígido, por intermédio de uma guerra não convencional se o primeiro fracassar.
As revoluções coloridas e as guerras não convencionais representam os dois componentes que darão origem à teoria da guerra híbrida, um novo método de guerra indireta sendo perpetrada pelos Estados Unidos.
Há mais de dois mil anos, o estrategista militar da China antiga Sun Tzu já se dava conta de que a guerra indireta é uma das formas mais eficazes de combater o inimigo.
A guerra híbrida lança mão de várias teorias militares primárias com vistas à dominação. Se a revolução colorida fracassa em derrubar o governo, ocorre a transição para a guerra não convencional, na qual a infraestrutura social da revolução colorida torna-se o alicerce da campanha violenta travada contra o governo.
A guerra híbrida é o novo horizonte de estratégia dos Estados Unidos para troca de regime. Ela preserva os Estados Unidos dos riscos políticos e militares associados à intervenção direta e é muito mais econômica. Ela usa indiretamente uma miscelânea de grupos por procuração para realizar, por Washington, o que meio milhão de soldados dos Estados Unidos pode não ser capaz de conseguir diretamente.
Ela é, portanto, extremamente atraente para os tomadores de decisão dos Estados Unidos à medida que seu país caminha relutantemente para um mundo multipolar, e a implementação bem-sucedida da guerra híbrida em vários palcos de guerra poderia reverter de fato esse processo e restabelecer o momento unipolar por um período de tempo indeterminado.
Acredita-se que os Estados Unidos exercerão o monopólio total em se tratando de guerra híbrida ao menos pela próxima década, graças às circunstâncias internacionais próprias em que elas são travadas. Logo, é imprescindível às potências da Eurásia que elaborem estratégias defensivas apropriadas para impedir que a guerra híbrida sequer comece e, se ela começar, para reduzir o impacto e evitar que os enxames caóticos imponham danos paralisantes e derrubem o Estado.
A maior defesa contra a guerra híbrida é o estabelecimento de salvaguardas civilizacionais. Isto significa que, se os cidadãos se sentirem em larga escala parte de “algo maior” e virem em seu governo respeito a esse conceito supranacional mais elevado, eles serão menos propensos a tomar parte em atividades subversivas contra ele.
Conclui-se que é do interesse de Estados orientados à multipolaridade dominar sua compreensão acerca da guerra híbrida para elaborar com eficiência estratégias com vistas a neutralizar sua aplicação bem-sucedida em todo o continente da Eurásia e prevenir o retorno à multipolaridade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

