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Danilo Espindola Catalano

Professor de espanhol, pesquisador e escritor.

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Geração Z nas ruas, uma luta antissistêmica

Claramente são lutas antissistêmicas, mas a falta de lideranças partidárias pode ocasionar a apropriação de forças que desconfigurem a principal intenção

Protesto em Kathmandu, Nepal - 8/9/2025 (Foto: REUTERS/Navesh Chitrakar)

Pensar no que ocorre nestes dois meses, parece ser chave para sabermos para onde vamos, pois há desencadeado no mundo e incluindo a América Latina protestos da Geração Z e de um povo inconformado com políticas autoritárias como no caso do Equador.

Ao considerar os protestos da Geração Z, procuro primeiramente entender o que ocorre no Peru, em que o ódio ao governo atual, tanto ao Congresso nacional como a Dina Boluarte, parece ter florescido de forma chegando a se traduzir em uma luta social contra seu governo e a corrupção desenfreada que ocorre desde antes da pandemia de COVID-19. 

Historicamente percebo que anteriormente tinham um presidente que buscou seguir seu plano anticorrupção à risca e que não há notícias de que tenha sido envolvido em qualquer caso do país, bem diferente da presidenta atual que já se sabe que está envolvida em um caso relacionado a um Rolex.

Após cinco presidentes renunciando ou sofrendo impeachment, o país não melhorando, a economia cada vez mais indo por “água abaixo”, o que resulta em uma faixa etária de jovens não conseguindo emprego e por isso acabam buscando a informalidade, o que parece ser o cerne de todo este descontentamento. 

Também é perceptível que por ser uma geração que vive desde seu nascimento com a internet, faz dela parte de sua vida e tudo que acaba vivendo ali, pode ser necessário que seja protagonizada uma aproximação à realidade de suas vidas, o que parece não estar ocorrendo.   Por isso o uso da bandeira do mangá “One Piece” parece ser fundamental para entender este protesto, pois o símbolo da caveira com um chapéu de palha, tem a ver com uma luta anti-repressiva dos sistemas políticos atuais, que se traduzem em lutas sociais legítimas.

Há um medo persistente das gerações anteriores e que é muito justa, por se parecer muito com as jornadas de julho de 2013 no Brasil, mas vejo algumas diferenças estruturais que fazem delas distintas entre si, mas possíveis de rompimento com a sua verdadeira intenção ideológica e social. 

Resgatando os protestos do Paraguai, em que também sai a Geração Z às ruas, este sendo um país que tem em seu poder um contexto de presidente de direita, Santiago Peña e ainda mais, o partido Colorado, que praticamente manda no país com uma oposição irrisória, é o mesmo do ex-ditador do país: Alfredo Stroessner. 

O mesmo ocorre no Peru, em que por mais que Dina Boluarte seja do mesmo partido de Pedro Castillo, ela já mostrou repetidas vezes que seu governo não tem nada nem de esquerda e nem de aproximação ao seu cabeça de chapa, sendo assim, uma presidenta legitimamente de direita e repressiva, que mandou entrar o exército na primeira universidade da América Latina, (Universidad de San Marcos) e ainda há deixado uma alta cifra de feridos e mortos desde a sua ascensão ao poder, que como Claudia Sheinbaum, não estaria errado dizer, que foi um Golpe de Estado. 

Até o presente momento, países com presidentes de esquerda não tiveram protestos dessa Geração Z, talvez porque estão esperando ver se vale a pena correr atrás e apoiá-los ou já estão com suas necessidades supridas ou buscando a melhora delas.

É perceptível que onde iniciou estes protestos, (no Nepal), a polícia dos países em questão, buscaram reprimir os protestos de forma a impedir que sejam da mesma forma violenta que foi a do país asiático, mas assim como houve um aviso dos jovens paraguaios, acredito que a intenção não é repetir o que se fez lá, mas pelo menos seguir as demandas. 

O ex-presidente Rafael Correa, explica que quando um país aumenta a sua informalidade, é um fator chave para entender que este vive uma crise econômica, (que foi o que ocorreu no Equador no fim do século XX), por isso, o que ocorre com estes jovens nascidos de 1997 a 2007, é justamente o resultado de políticas e interesses anteriores, que fizeram com que estes não tivessem emprego ou tivessem que partir para a informalidade, o que resulta em descontentamento e diversos problemas psicológicos. 

Claramente estas são lutas antissistêmicas, mas vale dizer que sua falta partidária e de liderança, pode ocasionar na apropriação de forças que desconfigurem a principal intenção destes protestos, aproveitando-se para a consolidação de poderes ainda mais nefastos dos que vimos nos anos anteriores com Jair Bolsonaro no Brasil e com Javier Milei na Argentina. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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