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Aquiles Lins

Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

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Fundo Florestas Tropicais para Sempre é conquista objetiva do Brasil na COP30

Iniciativa inédita coloca o Brasil no centro das soluções globais para o clima e reforça o compromisso com a transição energética sustentável

Fundo Florestas Tropicais para Sempre é conquista objetiva do Brasil na COP30 (Foto: Antonio Scorza/COP30 )

A COP30, realizada em Belém do Pará, consagra-se como um marco positivo para o Brasil e para o mundo. Entre anúncios e compromissos que apontam para uma nova etapa na luta global contra as mudanças climáticas, a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), proposta pelo Brasil representa uma conquista concreta, com potencial real de transformar a economia verde e garantir a preservação das maiores florestas do planeta.

A COP30 também está demonstrando até o momento que a escolha de Belém como sede foi acertada. Apesar das críticas iniciais, a capital paraense mostrou sua capacidade de receber um evento de escala global, com infraestrutura reforçada, logística eficiente e uma atmosfera que uniu diversidade, hospitalidade e compromisso ambiental. O evento reafirmou a importância da Amazônia não apenas como bioma, mas como símbolo vivo da esperança e do futuro sustentável do planeta.

O lançamento do TFFF pelo governo do presidente Lula é o reconhecimento da liderança do Brasil na agenda ambiental e do papel central das florestas tropicais na regulação do clima global. O fundo nasce com a ambição de proteger mais de 1 bilhão de hectares de florestas em mais de 70 países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que valoriza o trabalho e o conhecimento dos Povos Indígenas e Comunidades Locais — que terão alocação obrigatória de ao menos 20% dos recursos.

Noruega, Indonésia e França anunciaram respectivamente US$ 3 bilhões, US$ 1 bilhão e US$ 500 milhões em investimentos no novo mecanismo de financiamento climático. Com o aporte de US$ 1 bilhão anunciado pelo governo brasileiro, o fundo já conta com US$ 5,5 bilhões — um início promissor para uma iniciativa que pretende mobilizar recursos em escala inédita.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a grande inovação do TFFF está em sua estrutura financeira: “Há aporte de capital de investidores, que vão ser remunerados por uma taxa básica. Esses recursos vão ser emprestados e financiar projetos definidos pelo seu comitê. E a diferença da taxa de juros, o spread do que é pago para o investidor e o que é cobrado do tomador, vai servir de lastro para financiar o pagamento desses serviços ambientais”. Trata-se de uma arquitetura que combina recursos públicos e privados, criando um modelo de investimento que recompensa a conservação — e não a destruição.

O Banco Mundial foi autorizado, em outubro, a atuar como administrador e hospedar interinamente o secretariado do TFFF, enquanto se estrutura o Fundo de Investimento Florestas Tropicais (TFIF), que será sediado em uma jurisdição nacional. A partir daí, começa a fase de capitalização, com o objetivo de atingir US$ 125 bilhões, sendo US$ 25 bilhões de capital soberano e US$ 100 bilhões de investidores institucionais, além da participação de fundos filantrópicos.

Além disso, o TFFF proíbe investimentos em atividades de impacto ambiental negativo, como carvão, petróleo e gás, e direciona recursos para projetos que mantenham as florestas em pé, com penalidades para países que descumprirem metas de preservação. Com isso, o fundo tem potencial para multiplicar em até três vezes os orçamentos dos Ministérios do Meio Ambiente nos países tropicais, criando condições concretas para a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais.

O desenho do TFFF foi liderado pelo Brasil, em parceria com países como República Democrática do Congo, Gana, Malásia, Indonésia, Colômbia, além de nações financiadoras como Reino Unido, Alemanha, Noruega, França e Emirados Árabes Unidos. A pluralidade de vozes e contribuições, especialmente de povos tradicionais, fortalece o caráter inclusivo e cooperativo dessa nova iniciativa global.

A COP30 de Belém ficará marcada por resultados concretos e visíveis. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre representa uma mudança de paradigma: a transição da retórica para a ação, do discurso para o investimento. O Brasil saiu de Belém maior — reafirmando-se como líder climático, potência ambiental e referência na transição para uma economia verde. O desafio agora é fazer com que o exemplo amazônico inspire o mundo a seguir o mesmo caminho: o de crescer preservando.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.