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Fernando Lavieri

Jornalista, com passagens pela IstoÉ e revista Caros Amigos

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Felca disse quase tudo. Eis o complemento

Influencer mostrou ao Brasil que esse tipo de trabalho tem relevância e a sua efetividade não deve ser menosprezada

O influenciador Felca em vídeo (Foto: felca)

Quais são as funções da grande imprensa? Resposta: são muitas, entre elas, a de presar pelos direitos humanos e, por meio  dessa enorme causa, “impor” ao poder público que tome ações políticas e jurídicas para que tal noção vigore. Quis são as funções do Poder Judiciário? Resposta: são muitas, entre elas, a de presar pelo rigoroso cumprimento das Leis, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Quais são as funções dos políticos? Resposta: são muitas, entre elas, presar pela vida, pelos direitos humanos.

Os políticos devem usar os muitos instrumentos que detém para alcançar esse objetivo. E a função do influenciador... qual é? Entreter e capturar mentes e corações em prol de alguma coisa. Tal coisa, via de regra, é de interesse particular do próprio influenciador, certo? Resposta: errado. Há outra função, ao menos. A partir do trabalho de Felipe Bressanim Pereira, o Felca, o Brasil descobriu que, para além de cativar pupilas para enriquecer, influenciadores digitais também podem trazer à baila problemas importantes da sociedade que ocorrem por meio da Internet.

O vídeo de cinquenta minutos produzido por Felca e divulgado em suas redes sociais furou as bolhas digitais e se tornou questão nacional. Felca denunciou de forma contundente a manipulação de crianças por adultos, muitas vezes seus familiares. Tamanho manejo da infância acontece porque os adultos envolvidos perceberam tratar-se de mais uma maneira de expansão do capital. Ou seja, a infância também pode se tornar mercadoria e, claro, lucrativa. 

A partir da bem-vinda denúncia do Felca surgem perguntas específicas fundamentais que exigem respostas. Vamos a elas. A grande imprensa, os renomados jornalistas do Brasil, não sabiam o que estava acontecendo com as crianças em ambiente digital? Assim como fazem em relação à infância em Gaza. É possível acreditar que a grande imprensa não foi capaz de desenvolver olhar crítico tambem  para essa situação?

As mesmas perguntas podem ser atribuídas à Justiça e aos políticos. Suponhamos que o Felca não tivesse feito o vídeo que fez, quanto tempo mais essas crianças seriam exploradas nas redes? O ECA continuaria sendo desrespeitado? Tais poderes de Estado não podem dizer que não sabiam do imenso perigo às crianças, sendo que o tema está em discussão em diversos países. O Senado dos Estados Unidos, por exemplo, já inquiriu figurões das big tecs sobre o assunto, entre eles, Mark Zuckerberg, dono da Meta. Cabe agora ao Brasil responsabilizar de fato as empresas digitais relacionadas à divulgação e publicação desse material em suas redes. Isso acontecerá?

Felca é um jovem adulto de 27 anos de idade que assim como inúmeros outros influenciadores não tinha o seu trabalho reconhecido na grande imprensa, em debate fervoroso em âmbito político ou de Justiça, a pesar dos mais de seis milhões de inscritos em seu canal. Ele era somente mais um personagem digital a produzir conteúdo, bem aceito nas redes, e com público específico. O fato de ele estar atento a comportamentos abusivos de adultos sob crianças e denunciá-los como fez, elevou o seu nome e a profissão no cenário nacional. Agora, poderes e instituições devem prestar mais atenção em produções desse tipo, pois há nas redes outros influenciadores falando sobre temas sensíveis como o Felca. Em outras palavras, ele mostrou que trabalhos de influenciadores, sem o selo de grandes empresas ou instituições por trás, também podem ser benéficos à coletividade.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.