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Gustavo Tapioca

Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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Engenheiros do caos, criminosos da desinformação e da mentira

As redes digitais da extrema direita transformaram a mentira em arma cotidiana contra a democracia

Protesto em São Paulo (Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil)

Eduardo Bolsonaro, o capitão da mentira, liderou nesta semana a ofensiva criminosa que semeou o pânico sobre o Banco do Brasil, repetindo a fórmula da “desinformação organizada”, como   Giuliano da Empoli, autor de Os engenheiros do caos batizou como "o motor do fascismo contemporâneo ao redor do mundo."

Ataque ao Banco do Brasil

Nos últimos dias, um caso emblemático revelou mais uma vez a engrenagem da desinformação bolsonarista. Mensagens em grupos que usam criminosamente as redes digitais — muitas delas disparadas a partir de perfis ligados ao deputado Eduardo Bolsonaro e outros políticos e influenciadores da extrema-direita — espalharam o boato de que o Banco do Brasil estaria prestes a quebrar em razão de sanções internacionais impostas pelos Estados Unidos.

A consequência foi imediata. Correntistas assustados correram às agências, aplicativos e caixas eletrônicos em busca de informações, provocando até mesmo o primeira pane da história das transações via PIX. 

Era a tentativa deliberada de fabricar pânico, minar a credibilidade de uma das mais sólidas instituições financeiras do país e, por tabela, atingir o próprio Estado brasileiro e o governo Lula.  A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou a Polícia Federal para investigar a rede de desinformação comandada por Eduardo Bolsonaro.

A máquina de ódio digital

Esse episódio de mentiras e criação de pânico e insegurança não é "privilégio" isolado do Brasil. É uma estratégica global da extrema direita, que integra o que Giuliano Da Empoli, em seu livro Os engenheiros do caos, descreveu como "a manipulação industrial da mentira para fins políticos": o modo de operação, o método de trabalho, a forma como a extrema-direita atua em várias partes do mundo.

A extrema direita que constrói diariamente narrativas tóxicas no Brasil — ora sobre o STF, ora sobre universidades, ora sobre programas sociais, ora sobre o que lhes der na telha, tem um único objetivo: corroer a confiança da população na Democracia e no governo do presidente Lula, tarefa que sempre se intensifica em momentos pré-eleitorais.

O gabinete do ódio

No caso brasileiro, o chamado “gabinete do ódio”— liderado pelo 02 Carlos Bolsonaro, instalado no coração do poder durante o governo do ex-presidente, seu pai, ainda está em plena atividade mesmo fora do Palácio do Planalto. 

Agora, sob o comando do 03 Eduardo Bolsonaro, "o gabinete do ódio" continua sua tarefa de articular influenciadores digitais, robôs de redes sociais, políticos da extrema-direita, pastores de deus e do diabo para mentir e semear o pânico e o medo. Mudou de endereço. Saiu do Palácio do Planalto e se aninhou nas proximidades da Casa Branca.

A lógica, no entanto, permanece sempre a mesma: espalhar mentiras, fake news, medo, pânico, inflamar a base radicalizada, intimidar adversários e, acima de tudo, criar um ambiente de instabilidade permanente. 

O mapa global dos engenheiros do caos

Da Empoli demonstra no seu livro que o fenômeno não é uma jabuticaba que floresce apenas em solo brasileiro. Ele mostra como líderes populistas da extrema direita se valeram dos mesmos métodos de  desinformação para chegar e se manter no poder, com exemplos citados em  2019, quando seu livro — Os engenheiros do caos — foi publicado. 

Na Itália, com Matteo Salvini; na Hungria, com Viktor Orbán; e, é claro, nos Estados Unidos. Foi nos EUA que Donald Trump transformou as Big Techs em arma de desinformação diária, minando a mídia  e outras instituições, desde sua primeira campanha, quando derrotou Hitary Clinton manipulando mentiras escabrosas, até de pedofilia, em 2016. 

Foi assim também no Reino Unido, com o Brexit, impulsionado por mentiras e pelo uso da Cambridge Analytica, empresa de consultoria política que figurou no centro de um escândalo envolvendo o uso de dados pessoais do Facebook com o objetivo de influenciar o plebiscito.

Na França, Marine Le Pen também usou a manipulação digital a serviço de seu projeto de poder. Na América Latina, o caso brasileiro é citado como paradigma: Jair Bolsonaro estruturou o “gabinete do ódio” e utilizou intensamente as redes sociais, desde, pelo menos,  a campanha eleitoral de 2018. 

De 2019 a 2022, Jair Bolsonaro usou e abusou das teorias conspiratórias sobre urnas eletrônicas e as  instituições democráticas. Durante todo o período da pandemia de Covid, o ex-presidente recusou-se a comprar e a utilizar as vacinas já disponíveis no mercado,   o que contribuiu decisivamente para a morte de pelo menos 300 mil pessoas que poderiam ainda estar vivas. 

Operador da mentira

Eduardo Bolsonaro emerge como operador privilegiado desse sistema. Nos últimos meses, desde sua fuga do Brasil para os EUA, em abril,  ele se engajou em campanhas internacionais contra o Supremo Tribunal Federal, contra a democracia,  contra a soberania brasileira e, em particular contra o ministro Alexandre de Moraes e outros ministros do STF.

Além disso, Eduardo  se converteu em porta-voz de teorias conspiratórias. Nos EUA, para onde fugiu com a tarefa de conspirar contra a soberania do Brasil e se  aproximar e buscar apoio junto à extrema direita trumpista para tentar salvar o pai Jair Bolsonaro da cadeia e cancelar o julgamento no STF, que começa no próximo dia 2 de setembro. 

Um de seus "trunfos" é assimilar os ensinamentos de Steve Bannon no uso das redes digitais. Bannon, aquele que o "nomeou" representante da extrema direita global na América Latina, seu amigo pessoal, que o apresentou como "presidente do Brasil num futuro não muito distante" durante um jantar de comemoração da posse do presidente Trump. 

A rotina do 03 de Bolsonaro no EUA é a de alimentar diariamente as redes digitais com mentiras e ataques às instituições brasileiras, ao governo Lula e a soberania nacional. Essa semana atacou a credibilidade centenária do Banco do Brasil. Aguardem o próximo capítulo.

Responsabilização urgente

A ofensiva contra o Brasil mostra que a desinformação não é apenas um problema de discurso. É uma arma que vem sendo utilizada pela extrema direita para gerar medo e pânico, abalar a economia e as instituições e produzir prejuízos reais para país e para milhões de pessoas. 

A responsabilização de Eduardo Bolsonaro e de seus cúmplices da extrema direita é urgente e deve ser exemplar. A democracia não pode conviver com engenheiros do caos, criminosos da desinformação, que transformam a mentira em método para continuar golpeando o Estado Democrático de Direito.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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