Em breve condenados

Não se despreza o valor de uma boa frase. “O plano não era Bíblia verde e amarela, era Punhal verde e amarela”, disse Flávio Dino, Ministro do STF no julgamento de Bolsonaro e o núcleo golpista. Ao longo da história tivemos frases que definiam sinteticamente algum fato histórico. Podemos lembrar-nos de "Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade" de Neil Armstrong ou "Apesar de tudo eu ainda acredito na bondade humana" de Anne Frank ou até "Mantenha os amigos sempre perto de você e os inimigos mais perto ainda" de Lao Tsé. Não importa a posição política, até o guru do neoliberalismo, Francis Fukuyama, falou na queda do Muro de Berlin de “O fim da História”, assim como o neomarxista Barrington Moore falando "três caminhos para o mundo moderno — o liberal-democrático, o fascista e o comunista”. A frase de Dino é sintética e suficientemente categórica para definir a tentativa de golpe por Bolsonaro. Irrita muitas pessoas quanto encanta outras, embora duvide que apoiadores ouviram todo contexto descrito por Dino ou pelo voto de Alexandre de Moraes.

Quando na primeira fase do golpe, Bolsonaro e o núcleo desacreditavam a lisura do voto eletrônico, Bolsonaro chegou a falar que Ministros do STF recebiam propinas de 100 milhões de dólares para caçá-lo. Quando confrontado na corte, confirmou que era mentira e que não tinha provas e que poderia ser para qualquer um. Moraes ainda falou: "O Brasil quase volta a uma ditadura porque uma organização criminosa liderada por Bolsonaro não sabe perder eleições!". Indicando na sua linha de tempo, que devido ao fracasso nas eleições, mesmo quando impede eleitores de Lula de votar, tenta usar atos executórios para dar esse golpe.

Com riqueza de detalhes, foi mostrado esse timeline, desde a live de Bolsonaro em 20 21, ponto de partida do planejamento, até o fatídico oito de janeiro. E é visto como um choque de placas tectônicas, pois ao mesmo tempo que Bolsonaro se coloca na frente para incitar a população contra o STF e as urnas, tentava sair da linha de frente na trama golpista na abolição do estado democrático de direito. A virada de mesa teria que acontecer na eleição, mas caso perdesse, o plano B seria colocado em prática. 

Outra frase importante foi de Alexandre de Moraes: "O crime de golpe de Estado e o crime de abolição do Estado Democrático de Direito têm como elementares do tipo 'tentar'. A mera tentativa consuma o crime. Todos esses atos executórios, desde junho de 2021 até esse momento e o oito de Janeiro de 2023, são atos executórios que consumaram os crimes de abolição do estado democrático e o de golpe de Estado". E quanto os crimes de tentativa de abolição do Estado Democrático de direito, do Art. 359-L, promulgado pelo então presidente Bolsonaro, não há dúvidas.

Podemos lembrar-nos de uma frase de Bolsonaro: "SÓ SAIO PRESO, MORTO OU COM A VITÓRIA”. Sairá preso. A demoção da ideia de dar o golpe pelo general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, tem vários pontos não comentados, até de uma sinalização americana, afinal o então presidente americano, Joe Biden mandou uma delegação ao Brasil para dizer aos militares brasileiros que não queriam um golpe. Em 1964, foi diferente. Os americanos apoiavam um golpe. E enfrentamos, mais uma vez, um dedo americano. Em meio ao resultado do julgamento, a porta-voz da Casa Branca afirmou que os EUA estão dispostos a usar seu poderio econômico e militar para proteger a liberdade de expressão no mundo. Mas quanto a isso, Dino falou que é “absurdo achar que um tweet estrangeiro, um cartão de crédito ou o Mickey vão mudar algum julgamento no STF”.

Alexandre de Moraes afirmou que Jair Bolsonaro é líder de organização criminosa. Talvez a frase mais forte e emblemática do dia. Em breve, Bolsonaro irá fazer um pronunciamento em cadeia nacional. Papuda.