Contagem regressiva para momento histórico
A antiga República das Bananas, agora exemplo de democracia, leva Bolsonaro à Justiça enquanto o Congresso tenta mais uma anistia
A música que me passa pela cabeça é: “Hoje é o dia de Santo Reis, de Santo Reis!”. A música de Tim Maia, festiva, embala o filme Tanga (Deu no New York Times?), de autoria de Henfil. O filme, estrelado por Rubens Correa, Elke Maravilha e Cristina Pereira, remete a uma pequena ilha do Caribe controlada por um ditador que extinguiu a imprensa local. A metáfora de Henfil tratava do Brasil, considerado uma República das Bananas. Curiosamente, essa expressão que se dava ao Brasil até então foi cunhada por O. Henry em 1904, quando ele escreveu sobre uma república fictícia chamada Anchuria, que era explorada por empresas norte-americanas por causa de sua produção mais importante: as bananas. Éramos a República das Bananas até recentemente. Hoje, somos elogiados por nosso respeito à democracia. Um exemplo para os Estados Unidos. Todos os grandes jornais mundiais estão noticiando esse grande momento.
O Brasil teve 10 golpes de Estado até agora: A Noite da Agonia (1823), dada por Pedro I contra a Assembleia Geral Constituinte Brasileira; o Golpe da Maioridade (1840), dado no período regencial para antecipar a maioridade de D. Pedro II, que tinha 6 anos na época; a Proclamação da República (1889), golpe militar contra o Império do Brasil; o Golpe de 3 de Novembro de 1891, quando Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso Nacional e logo após Floriano Peixoto deu um golpe seguido de autoritarismo; a Revolução de 1930, golpe militar de três estados contra o país; o Estado Novo (1937); a Deposição de Getúlio Vargas em 1945; o Golpe de 1964; e a deposição de Dilma Rousseff.
A tentativa frustrada de golpe do núcleo golpista de Bolsonaro mostra a maturidade da nossa democracia, depois de 10 golpes. A revista inglesa The Economist, que fala de economia e é de direita, diz que o país é um exemplo onde, pela primeira vez, leva aos bancos dos réus um ex-presidente. Tudo o que a extrema direita americana e a extrema direita brasileira faziam estava sempre convergindo, como ataques ao Supremo, ao resultado das urnas e o quebra-quebra no Capitólio e dos três Poderes, mas divergem na ponta final. Trump, mesmo com problemas na justiça, foi eleito, e Bolsonaro está prestes a ir para a cadeia.
Hoje é certa a condenação de Bolsonaro e do núcleo de poder. A defesa tenta individualizar as condutas de seus clientes; reconhecem a trama golpista, mas alegam que não tinham nada a ver com a história. A ideia era tentar diminuir as penas, mas não há até agora fatos que corroborem essa tese, diante de centenas de provas substanciais. O Congresso corre para tentar resolver com um plano B, tentando colocar em votação a Anistia, que no passado passou pano para a ditadura militar e seus assassinos. O governador Tarcísio também já tentou pegar a fatia de eleitores bolsonaristas para dizer que dará perdão a Bolsonaro, caso seja eleito, mas indulto presidencial para ato golpista é inconstitucional, segundo o artigo 5º, XLIII.
O advogado Demóstenes, que defende o almirante Almir Garnier, irá levar cigarro para Bolsonaro em qualquer lugar, garante o próprio. Porém, não conseguiu levar nenhum argumento para diminuir a pena do cliente. Lembrando que Demóstenes foi cassado pelo Senado em 2012 por quebra de decoro parlamentar. Foi acusado de usar o mandato para favorecer o contraventor Carlinhos Cachoeira, na Operação Monte Carlo. Pode ser capaz de comprar 10 carteiras de eight paraguaio. As divagações poderiam ser melhores, mas foram mais do mesmo. Não conseguem encontrar brechas para retrair as penas e se contentam em apenas serem como um escrivão da expedição, um olhar de fora, como um olheiro fazendo uma Carta de Caminha. Certo mesmo, só que cachaça vinha do alambique e água vinha do ribeirão. E que o ribeirão era limpo e a cachaça servida para comemorar esse momento histórico.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.