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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Chamem de volta o Valdemar

“Moraes cria constrangimento para a PGR, ao defender que o líder do PL seja investigado de novo”, escreve Moisés Mendes

Valdemar Costa Neto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Valdemar Costa Neto, a mais serelepe figura da direita, a mais confiante, a que mais bajula Bolsonaro antes de se livrar dele, voltará várias casas no jogo do golpe. Alexandre de Moraes gritou alto, na sessão do Supremo que julgou o núcleo 4: peraí, Valdemar.

O dono do PL entrará de novo, por alerta de Moraes, na turma dos que enfrentarão o estresse de um inquérito como golpista. Uma fila que ele conhece e de onde escapou de fininho. Assim, uma sequência de perguntas terá repostas. 

Se o engenheiro Carlos Cesar Rocha, dono do Instituto Voto Legal, vendeu informações falsas sobre as urnas para o PL de Valdemar em 2022. Se Valdemar e suas facções disseminaram essas informações. 

Se o PL de Valdemar pagou uma multa de R$ 23 milhões ao TSE por ter usado essas informações manipuladas para acionar a Justiça Eleitoral, o que caracterizou litigância de má fé. 

Se essa ação do PL foi definida agora por Alexandre de Moraes como “uma das coisas mais bizarras que a Justiça Eleitoral já recebeu" como questionamento grosseiro e criminoso das urnas e das eleições.

Se Rocha virou réu e agora foi condenado pelos crimes de abolição do Estado Democrático de Direito e como participante de organização criminosa.

Se tudo isso aconteceu, encadeado no roteiro do golpe, a pergunta é: como Valdemar, que contratou Rocha, que usou as mentiras de Rocha e que tentou ludibriar a Justiça Eleitoral, não é réu?

Sabe-se que não é porque, apesar de indiciado pela Polícia Federal, não entrou na lista de golpistas denunciados pela Procuradoria-Geral da República, enviada ao Supremo em fevereiro. 

Ao defender nesta terça-feira que Valdemar seja investigado de novo, por coerência com a condenação de Rocha, Moraes seguiu o raciocínio do advogado do engenheiro.

Como estratégia de defesa, o advogado Melillo Dinis do Nascimento assim defendeu seu cliente no STF, dia 14 desse mês, ao alegar que as mentiras do relatório haviam sido divulgadas pelo PL e por Valdemar:

“Quem geriu toda a comunicação (a partir do relatório) foi exatamente o Partido Liberal. E eu repito: cujo presidente não está presente em nenhuma ação penal”.  

Nascimento fez a pergunta que pelo menos metade do Brasil fazia, desde a decisão da PGR de deixar o presidente do PL de fora da lista de denunciados: cadê o Valdemar?

Moraes recoloca Valdemar no lugar de onde não deveria ter saído numa boa. É um recuo e tanto para quem já andou bastante em direção à impunidade desde a passada de pano da PGR. 

Valdemar vai se incomodar. O incômodo dessa vez pode ser maior do que o enfrentado quando foi indiciado. A Polícia Federal vai retomar e fortalecer o que já fez, sabendo agora que o engenheiro autor do relatório foi condenado. 

A partir do trabalho da PF e com a condenação de Rocha, a PGR não mais poderá menosprezar as provas que também incriminam Valdemar.

PF e PGR vão jogar de novo, agora pra ganhar. Não há como imaginar Valdemar livre, pela segunda vez, porque Paulo Gonet não pode reprisar o constrangimento de ouvir de Moraes a mesma pergunta feita pelo advogado: cadê Valdemar?

(O Brasil 247 publicou, em 14 de outubro, um texto com esse título: ‘A pergunta incômoda: por que Valdemar não está aqui como réu golpista?’. Com a interferência de Moraes, a resposta pode ser dada pela PGR com o indiciamento de Valdemar, que tem uma turma da pesada, mas não tem mandato nem imunidades.)

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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