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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Ataque de Israel no Irã marca nova fase do confronto no Oriente Médio

Bombardeios em Teerã e retaliações em Tel Aviv escancaram o risco de uma nova guerra sem regras

Mísseis lançados do Irã são interceptados em Tel Aviv - 13/06/2025 (Foto: REUTERS/Jamal Awad)

Na noite de quinta-feira (12), Israel escalou um conflito histórico no oeste da Ásia ao realizar ataques aéreos contra instalações civis, militares e nucleares no Irã. 

As investidas atingiram bases da Guarda Revolucionária, centros de comando e também áreas civis. Entre os alvos eliminados estavam generais de alto escalão, como Mohammad Bagheri e Hossein Salami. O governo israelense classificou a operação como preemptiva, justificando-a pela suposta iminência de uma ameaça ligada ao avanço do programa nuclear iraniano.

De acordo com o direito internacional, ações preventivas desse tipo, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU ou sem agressão em curso, configuram violação da Carta das Nações Unidas. Ainda assim, nenhuma das principais potências ocidentais classificou o ataque como ilegal. O silêncio institucional evidencia uma flexibilização seletiva das normas internacionais em função de alinhamentos estratégicos.

Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Marco Rubio declarou que a ofensiva foi uma iniciativa unilateral de Israel, negando qualquer envolvimento direto por parte de Washington. Em contraste, o presidente Donald Trump manifestou apoio ao bombardeio, afirmando em rede social que a operação serviria como mensagem ao Irã, que, segundo ele, ainda poderia voltar à mesa de negociações em Omã no próximo domingo.

Líderes europeus adotaram postura semelhante. Sustentaram o “direito de autodefesa” de Israel e pediram moderação apenas após a resposta militar iraniana. França, Alemanha e Reino Unido concentraram suas manifestações na condenação ao programa nuclear de Teerã e na defesa genérica da estabilidade regional, sem mencionar a legalidade da ação israelense ou atribuir responsabilidade direta pela escalada.

Do lado oposto do tabuleiro geopolítico, a China condenou os bombardeios, classificando-os como uma afronta à soberania iraniana. A Rússia também rejeitou a ofensiva, qualificando-a como uso ilegítimo da força, e se colocou como possível mediadora. O presidente Vladimir Putin conversou com os líderes dos dois países e defendeu a retomada imediata da via diplomática.

Na sexta-feira (13), o Irã respondeu com o lançamento de mais de cem mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém. A ofensiva causou danos em áreas civis e instalações militares. Hospitais israelenses registraram dezenas de feridos, enquanto os sistemas de defesa aérea foram acionados, mas não conseguiram neutralizar todos os projéteis. O governo iraniano declarou que a retaliação foi proporcional e afirmou que novos ataques não ficarão sem resposta.

O episódio ocorre num momento de instabilidade política em Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrenta forte desgaste interno e a possibilidade de dissolução do Parlamento. Para analistas, a ofensiva contra o Irã pode ter sido também uma manobra de sobrevivência política, voltada a reunir apoio interno e desviar o foco das crises domésticas.

A estratégia repete o padrão adotado em ofensivas anteriores contra grupos como Hamas e Hezbollah: ataques concentrados na liderança e infraestrutura do inimigo. No entanto, a atual operação marca uma mudança de escala. O Irã é um Estado nacional com considerável poder militar, capacidade regional de influência e potencial de impacto direto no mercado energético global, sobretudo por meio do controle do estreito de Ormuz.

O risco de escalada regional é significativo. Embora a resposta iraniana tenha sido limitada até o momento, sinaliza a disposição de reagir e preservar sua capacidade de dissuasão, especialmente após a morte de figuras-chave de seu alto comando. Milícias aliadas em países como Iraque, Síria e Iêmen podem se mobilizar, ampliando o teatro do conflito. Caso o embate se prolongue ou se intensifique, potências como os Estados Unidos e seus aliados europeus poderão ser pressionadas a intervir.

A médio prazo, os efeitos tendem a ser duradouros. Um ataque a instalações nucleares pode, paradoxalmente, acelerar o programa atômico do Irã, em vez de contê-lo. A retaliação iraniana já deixou vítimas civis e ampliou o temor entre a população israelense. A continuidade das hostilidades ameaça rotas comerciais estratégicas, desestabiliza mercados e agrava o cenário de tensão em uma região já fragilizada.

O caso evidencia ainda as dificuldades da comunidade internacional em reagir com coerência. A aplicação seletiva do direito internacional, a ausência de mecanismos eficazes de contenção e a politização das alianças estratégicas contribuem para a normalização do uso da força como instrumento legítimo de política externa.

A guerra entre Israel e Irã representa um ponto de inflexão. A depender dos desdobramentos nos próximos dias, o conflito poderá se expandir, envolver novos atores e consolidar uma nova dinâmica de instabilidade no Oriente Médio. A postura das potências globais — seja por ação ou omissão — será decisiva para definir a profundidade e a duração dessa crise.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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