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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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A verdadeira traição à pátria

Comparar Eduardo Bolsonaro ao Cabo Anselmo é mostrar que a traição de hoje atinge não só adversários, mas todo o povo brasileiro

Deputado federal Eduardo Bolsonaro durante entrevista à Reuters em Washington (Foto: REUTERS/Jessica Koscielniak)

Em visita a Pernambuco, em 14/08/2026, o presidente Lula foi preciso e eloquente ao se referir ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro:

“Ele está traindo o país. Esta é a verdadeira traição da pátria. Ele foi para lá para instigar os americanos contra nós”.

De fato, há uma traição cínica nesses novos cabos Anselmos. Antes, a traição se ocultava, era secreta. Depois, na democracia posterior, se negava. Mas agora, o cinismo da extrema direita, sob o fedor de Trump, é semelhante aos atos perversos e criminosos do Cabo Anselmo na ditadura.

Explico. A primeira característica do Cabo Anselmo era ser um degenerado mentiroso. Primeiro, mentia sobre o próprio nome: ele era Daniel, como se apresentava no Recife, ou Jadiel ou Jônata. Isso era o mínimo. Mas, onde ele se excedia com artes de representação não só em palavras, era na frieza e no cinismo com que se referia a seu maior crime: a entrega da companheira grávida, Soledad Barrett, para a repressão. Em mais de uma entrevista, diante de repórteres comprometidos com a direita ou com a ignorância histórica, ele se referia à grande guerreira com o veneno de uma serpente.

Na entrevista ao programa de televisão Roda Viva, ele assim falou sobre a companheira:

“Soledad era filha de dirigentes comunistas paraguaios. Ela foi para Cuba treinar para ser agente comunista em qualquer parte do mundo. Quem escolheu esse risco? Quem escolheu pegar em armas?”. Portanto, a culpa da entrega da guerrilheira grávida não era dele. Era da vítima, que ousou lutar contra o fascismo.

Agora, sintam a semelhança entre Cabo Anselmo e Eduardo Bolsonaro na entrevista do novo criminoso à BBC:

BBC News Brasil - Alguns estudos apontam que o tarifaço anunciado por Donald Trump pode afetar até 700 mil empregos no Brasil. Há casos de produtores de café, de carne e de mel que podem perder a produção inteira, que antes estava destinada à exportação nos Estados Unidos, e isso pode afetar a vida delas profundamente. Como o senhor se sente sabendo que sua atuação pode vir a prejudicar a vida dessas pessoas?

Eduardo Bolsonaro – Não é a minha atuação. É a atuação do regime...

O Brasil está se comportando mais como um país parecido com a Venezuela do que com os Estados Unidos. Uma ditadura merece sanção. Não sou eu (o responsável).

O responsável por tudo isso é o Lula, que dá suporte ao regime capitaneado pelo Alexandre de Moraes. E os brasileiros estão entendendo que existe um sacrifício a ser feito.

Eu não estou preocupado com cálculo eleitoral ou se isso vai aumentar ou diminuir a popularidade. Eu estou preocupado com a liberdade do meu país, e a liberdade vem antes da economia...

Estou preocupado com o Brasil consolidar esse regime e viver durante décadas igual a Cuba, igual à Venezuela. Se a gente chegar nesse ponto, o Brasil vai ter saudades de um tarifaço de só 50%.

Antes, o Cabo Anselmo justificava a delação de bravos resistentes porque eram comunistas, inimigos da família e de Cristo. Agora, Eduardo Bolsonaro repete os mesmos argumentos, mas com implicações contra todo o povo brasileiro. Mas, de novo, a culpa não é dele, Eduardo Bolsonaro, o novo tipo de patriota.

O que é a pátria para ele?

Eu estive refletindo agora e senti que a pátria é a nossa comunidade de afeto. A pátria são os amigos, as amigas, os parentes que amamos. A pátria é o lugar do coração onde reside o nosso amor.

Pátria oposta, bem diferente da selva dos crimes cometidos pela família Bolsonaro. E crimes continuados, como os dos torturadores da ditadura, que esconderam os corpos das vítimas até hoje. O presidente Lula, mais uma vez, está certo. De imediato, há que se cassar o mandato desse patriota que vende a nação aos interesses do governo dos Estados Unidos. É preciso punir a cachorra do fascismo que continua no cio.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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