A promessa da Sunscredit: uma startup sustentável nascida na Universidade Federal do Maranhão
Sunscredit propõe solução para gerar créditos de carbono a partir de telhados solares, sem a necessidade de desmatamento, e impulsiona a sustentabilidade
Imagine uma casa com energia solar em uma grande cidade. Não é muito difícil de imaginar, não é mesmo? Agora pense: essa casa está gerando energia. O que não é usado na casa volta para a rede elétrica. Isso é chamado de energia injetada, e essa energia que retorna para o sistema estatal é monitorada, permitindo saber o quanto de energia foi para a rede. Assim, é possível que essa energia seja transformada em crédito de carbono para empresas. Por meio de uma plataforma, a pessoa negocia a venda dessa energia. Dessa forma, não é necessário desmatar áreas para a criação de parques de usinas solares. Essa é a ideia da Sunscredit, startup liderada por Patryckson Marinho Santos, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), coordenador do Laboratório de Certificação de Crédito de Carbono da UFMA e CEO da empresa, junto com mais dois alunos da instituição.
De acordo com pesquisa do MapBiomas, quase metade das usinas solares no Brasil provocou desmatamento (Quase metade das usinas fotovoltaicas no Brasil foi construída com desmatamento - Brasil Amazônia Agora). Portanto, usar as cidades como usinas solares é uma solução que proporcionará rendimento pessoal aos cidadãos e evitará o desmatamento de regiões. Para o professor Patryckson, é possível enxergar as cidades como grandes usinas solares distribuídas. Uma usina de 100 mil placas pode ser formada não apenas em um único espaço, mas de maneira pulverizada em 10 mil casas ou mais. Essa visão descentralizada é o que viabiliza a certificação e a geração de créditos de carbono de forma escalável e inclusiva. De acordo com o professor Ruther, da Universidade Federal de Santa Catarina, o Brasil instala, por mês, mais de 1 gigawatt (GW) em telhados, sendo que a Itaipu tem capacidade para 14 GW (leia mais aqui: Energia solar: brasileiros já instalam 'uma Itaipu' por ano em telhados). No total, são 4 milhões de unidades com geração solar própria, sendo que dessas, 2,8 milhões são imóveis (Brasil atinge 4 milhões de unidades com geração própria de energia solar | InvesteSP). Portanto, utilizar telhados para a criação de usinas é uma solução viável.
O crédito de carbono está sendo regulado pela Lei nº 15.042, de 11 de dezembro de 2024, sancionada pelo presidente Lula, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), mais um programa do Novo Brasil - Plano de Transformação Ecológica, do governo federal. São cinco fases de implementação do SBCE, que está em vigor desde dezembro de 2024. De acordo com informações disponibilizadas no site do Ministério da Fazenda (clique aqui para saber mais - Sancionada a lei que estabelece as bases para um mercado regulado de carbono no Brasil — Ministério da Fazenda):
- Fase 1 (12 a 24 meses): regulamentação inicial.
- Fase 2 (12 meses): operacionalização do sistema de monitoramento das emissões.
- Fase 3 (24 meses): obrigação de apresentar relatórios de emissões e planos de monitoramento.
- Fase 4: início do primeiro ciclo de alocação de CBEs e operacionalização dos primeiros leilões. Será publicado o PNA, que definirá as regras de distribuição de cotas e o volume inicial disponível para o mercado. Nessa fase, as primeiras CBEs começam a ser emitidas e negociadas, com a participação das empresas reguladas.
- Fase 5: implementação plena do mercado, com o primeiro leilão de CBEs e o início do mercado secundário, que permitirá negociações entre empresas.
Fora essas fases de implementação, o mercado é dividido em regulado (obrigatório, supervisionado pelo governo) e voluntário, para empresas que não têm obrigações legais para cumprir com os créditos de carbono, mas desejam participar. O projeto indicado acima entra no mercado voluntário.
A Sunscredit está utilizando o modelo de certificação de crédito de carbono da UFMA, proveniente do laboratório de certificação de carbono da universidade. O uso desse modelo é aberto para utilização, porém a empresa está aberta para participação em empreendimentos deste tipo a partir da auditoria, processo obrigatório no Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE).
Para o professor Patryckson Marinho Santos, “o papel da Sunscredit é ser a ponte entre ciência, regulamentação e mercado. Do ponto de vista acadêmico, o Laboratório da UFMA oferece a metodologia científica e transparente para a validação dos créditos. Do ponto de vista empresarial, a Sunscredit transforma essa metodologia em uma plataforma acessível, que democratiza o acesso ao mercado de carbono, gerando valor econômico e ambiental. Assim, a universidade cumpre seu papel de entregar inovação para a sociedade, enquanto a startup viabiliza a escalabilidade e a inclusão no mercado de carbono brasileiro e global.” Dessa forma, a Sunscredit não é apenas uma climatech, mas uma ferramenta de transformação social e ambiental, que alia ciência à inovação, garantindo que cada telhado solar brasileiro seja também um ativo de descarbonização e de justiça climática.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.