A primavera brasileira
Impossível será para senadores e senadoras não ouvirem os gritos da multidão quando chegar a votação da PEC da Blindagem
Suas cores são múltiplas: verde, amarelo, azul, vermelho. São as cores do arco-íris espalhadas sobre o nosso solo. É indígena, é branco, é preto. É no feminino, no masculino ou na orientação e identidade que cada um traz como sua verdade. A primavera brasileira começou assim, empurrada por homens e mulheres que elevaram suas vozes em defesa da soberania e da democracia em todos os cantos do País neste último domingo.
Nas ruas, bandeiras do Brasil: o retângulo verde, o losango amarelo, o círculo azul que nos salta aos olhos, onde repousam, como estrelas em um céu noturno, as vinte e sete que representam os estados e o Distrito Federal. Porque a nossa bandeira, ao contrário do que desejam alguns poucos, nunca será azul e vermelha, cheia de estrelinhas, nem tampouco branca com uma grande estrela azul.
As manifestações pelo Sem Anistia aos condenados pelos atentados ao Estado Democrático de Direito e contra a aprovação da PEC da Blindagem foram uma grande demonstração de força da sociedade brasileira. O recado ao Congresso foi claro: não aceitaremos conchavos, não aceitaremos manobras, não aceitaremos couraças para proteger criminosos.
Mas outro recado, talvez ainda mais importante, foi dado. E esse recado foi para nós mesmos e para toda a sociedade: as ruas, as ruas do Brasil, não pertencem aos extremistas, misóginos, machistas, xenófobos, homofóbicos, racistas, golpistas. As ruas pertencem ao povo brasileiro. Porque o Brasil é dos brasileiros e das brasileiras.
Impossível será para senadores e senadoras não ouvirem os gritos da multidão quando chegar a votação da PEC da Blindagem — ou da Bandidagem. Votação que, ao que tudo indica, será acelerada no Senado já nesta semana, para que o enterro seja rápido, o defunto não deixe saudades e tampouco ressuscite em outra forma.
Assim como será difícil para deputados e deputadas avançarem com sua ideia de anistia, mesmo travestida da esfíngica “dosimetria” sugerida ao relator, provavelmente, por dois velhos experts em golpes na política.
A primavera começa hoje. Mas o avant-première deste domingo anuncia dias alvissareiros para o Brasil e para a nossa democracia. Que todos aqueles que estão do lado do povo sigam firmes nas ruas e nas redes, com alegria e convicção, na defesa do País, da justiça e da democracia.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.