A Política está acima da Justiça
Os Estados Unidos desrespeitam as decisões do Tribunal Penal Internacional e manipulam a sua simbologia
O imperialismo estadunidense continua aprontando das suas. O Tribunal Penal Internacional (TPI) conta com a participação de cento e vinte e cinco Estados-Membros. O Brasil, Canadá, a Palestina, França e Itália, por exemplo, fazem parte desse grupo. Os EUA, Israel a China e Rússia, não. E para que serve o TPI? Resposta: para julgar e condenar líderes políticos que cometeram crimes de guerra e de lesa-humanidade e genocídio.
Um ano depois do estabelecimento da Operação Especial na Ucrânia, o TPI, influenciado por Washington e União Europeia, emitiu de forma célere mandado de prisão contra Vladimir Putin, presidente da Rússia. Ele teria cometido o crime de “sequestro” de crianças ucranianas. Algo no mínimo estranho. Muito bem. Da mesma maneira, coisa de um ano, mas após a morte de mais de quarenta e cinco mil pessoas sendo sessenta por cento delas mulheres e crianças, naquele momento, em novembro de 2024, o TPI considerou Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e o seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, culpados por diversos e muitos crimes e decretou suas prisões. Veja, não discutiremos aqui os atos de Putin. Não importa qual lente se usa para comparar os danos, eles são profundamente diferentes e ínfimos em relação aos feitos de Netanyahu. Nesse caso, a pergunta é: por que o Tribunal demorou tanto tempo para condenar Netanyahu apesar da contundência de suas ações? Resposta: os Estados Unidos não querem o seu aliado histórico sujeito à condenação tão vil. Portanto, o Tio San tentou impedir a decisão do Tribunal Penal Internacional. O fato de a violência israelenses ser estupenda, avassaladora e diuturnamente estar sendo filmada e transmitida pelas redes sociais impulsionou repúdio popular universal e o tribunal não teve outra alternativa, a não ser a de cumprir suas funções. É fundamental compreender e estar de olhos abertos: Karim Khan, procurador do Tribunal Penal Internacional, e outras pessoas que também trabalham no TPI estão sob sanções estadunidenses, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, mantém o jogo mortífero de Netanyahu por esse instrumento. O peso político dos Estados Unidos continua vigente sob o TPI.
Enquanto Vladimir Putin faz poucas viagens e presa por não constranger outros líderes políticos, inclusive Lula, presidente do Brasil, recentemente, Benjamin Netanyahu esteve em Budapeste, na Hungria, e tal visita diplomática deveria ter sido a última do primeiro-ministro israelense, mas o seu colega, Viktor Orbán, agiu como se as determinações do TPI não fossem obrigatórias à Hungria. Ele não mandou prender Netanyahu. Ao contrário, recebeu-o com afagos e sorrisos, como quem diz, “parabéns pelo ótimo trabalho realizado em Gaza!”. Mais: por essa razão, ‘motivação política’, a Hungria saiu do TPI. O Tribunal Penal Internacional deveria ser considerado algo nobre, praticamente infalível, mas não é. Parece que a sua decisão contra Netanyahu perdeu até o efeito de constrangimento público.
É de conhecimento geral e irrestrito que o presidente dos EUA gosta de exibir os seus cabelos esvoaçantes. Ele, agora, demonstra gostar mais ainda de ser filmado no Salão Oval da Casa Branca intimidando seus colegas como fez com Volodymyr Zelensky e, na semana passada, com Cyril Ramaphosa. No caso do líder da África do Sul, Trump quer coagi-lo a retirar a queixa que fez contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Trump falhou nesse intento. A acusação de Ramaposa é verdadeira e seríssima: genocídio do povo palestino. A Política estadunidense sobrepuja a Justiça em seus principais fóruns, mas tal força não vai durar para sempre porque império algum permanece eternamente.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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