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      Tereza Cruvinel

      Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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      A ousadia criminosa e a fase extraterritorial do golpe

      Com as medidas restritivas impostas a Bolsonaro, o STF explicitou a firme disposição de dar continuidade à ação penal sobre a tentativa de golpe

      Jair Bolsonaro (Foto: Ton Molina / STF)

      Com as medidas restritivas impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o STF (que endossou a decisão do ministro Alexandre de Moraes) explicitou, inclusive para Donald Trump, sua firme disposição de dar continuidade à ação penal sobre a tentativa de golpe e de prender Bolsonaro quando for a hora, apesar da pressão trumpista travestida de sanção comercial. Agora monitorado, a fuga também deixou de ser possível.

      Quem mencionou a “ousadia criminosa” foi Alexandre de Moraes, no documento em que determina as medidas e apresenta os elementos e provas que as justificam. Quem o ler do início ao fim sairá convencido de que o golpe não acabou em 8 de janeiro.

      Estamos vivendo “golpe adentro” desde 2020, embora em 2021 Bolsonaro tenha intensificado suas ações golpistas, a exemplo do que houve em 7 de Setembro daquele ano. Em 2022, o golpe ganhou força em várias frentes, materializou-se em vários momentos e ações, e foi meticulosamente planejado, como soubemos depois. Apesar das prisões do 8 de Janeiro e da abertura do inquérito correspondente, o golpe nunca parou. Raul Seixas não merece a invocação, mas ele é, de certo modo, uma metamorfose ambulante.

      Agora estamos vivendo o momento extraterritorial do golpe, com o envolvimento direto de Trump e dos EUA, buscado por Eduardo Bolsonaro em conluio com seu pai, como diz o ministro no documento.

      “EDUARDO BOLSONARO atuou junto ao governo americano para impor sanções ao Brasil, a fim de gerar instabilidade política e econômica. Por conseguinte, o encerramento da mencionada ação penal beneficiaria diretamente seu genitor e financiador, JAIR MESSIAS BOLSONARO.”

      E adiante:

      “As ações de JAIR MESSIAS BOLSONARO demonstram que o réu está atuando dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho, EDUARDO NANTES BOLSONARO, com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado estrangeiro, por meio de atos hostis, derivados de documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001, de 24/08/2001.”

      O documento é primoroso ao contar a história da articulação internacional contra o Brasil, com a reprodução de todas as postagens, declarações e documentos sobre o assunto. São muitas as falas do próprio Bolsonaro assumindo que sustenta financeiramente Eduardo nos EUA, o que o torna sócio e parceiro da conspiração.

      Em postagem das últimas horas, Eduardo externou mais uma vez seu sonho com a intervenção estrangeira: “Está muito mais fácil um porta-aviões chegar no Lago Paranoá — se Deus quiser, chegará em breve — do que vocês serem recebidos com o Alckmin nos EUA.”

      Com as medidas adotadas, que imobilizam Bolsonaro, Moraes conteve a “ousadia criminosa” sem limites, descarada e cínica. O golpe continuado, entretanto, não foi ainda derrotado, pois agora (diferentemente de quando Biden era presidente) tem o apoio do império.

      Trump, é claro, não age apenas por Bolsonaro, que não é seu amigo, como já disse, mas é seu aliado de extrema-direita no continente. Trump age também pelas big techs, pelo sistema financeiro e por outras forças econômicas poderosas. As falas duras que o presidente Lula fez ontem renderam uma primeira manifestação da Casa Branca. Espera-se que Trump reaja também às medidas adotadas contra Bolsonaro.

      Mais um crime, maior a pena

      Ao imputar mais um crime a Bolsonaro — o de atentado contra a soberania nacional — o ministro Alexandre de Moraes apontou a possibilidade de que Bolsonaro venha a responder a um novo processo, distinto da ação penal já em curso. Moraes justificou as medidas mencionando crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação e ataque à soberania, crime punível com reclusão de 2 a 6 anos.

      Com as medidas e a inevitável prisão de Bolsonaro — que já é inelegível — a extrema-direita deve acelerar os movimentos para definir seu candidato à presidência em 2026. O nome hoje mais cotado entre os grupos bolsonaristas é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que usou as redes sociais para declarar solidariedade ao ex-presidente. “Não haverá paz social sem paz política, sem visão de longo prazo, sem eleições livres, justas e competitivas", pontificou o governador. Se ele acha que não há eleições livres no Brasil, talvez esteja colocando em dúvida a sua própria, para o cargo que ocupa.

      Tarcísio saiu ferido e lanhado após sua reação inicial ao “tarifaço”, quando preferiu culpar Lula a condenar a sanção chantagista de Trump. Na pesquisa Quaest desta semana, o governador ainda apareceu como o adversário mais consistente para Lula, que ganha de todos e empata tecnicamente com ele, mas já deixou de ser consenso entre os líderes da extrema-direita.

      Muitos já preferem Michelle, e Bolsonaro será agora mais pressionado a decidir-se por um nome. Sem poder sair de casa à noite, ele deve chamar sua turma para lhe fazer companhia e discutir esse assunto espinhoso.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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