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Francisco Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

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A lógica estrutural e cultural da concentração de renda

Portanto, a concentração de renda e salário é um mecanismo duplamente enraizado

A lógica estrutural e cultural da concentração de renda (Foto: Agência Brasil )

Analisando a lógica da concentração de renda e salário, fica evidente que esse fenômeno é tanto estrutural quanto cultural. 

O modo capitalista é voltado para a concentração de renda, enquanto a democracia é pela distribuição de renda. Esta é antinomia que carrega os países que são capitalistas economicamente e institucionalmente democratas.  

Do ponto de vista cultural, existe toda uma engrenagem que não apenas mantém, mas amplia essa disparidade. 

Tomemos como exemplo a questão dos jogadores de futebol e de outros esportes. A elite de atletas recebe valores absolutamente absurdos, que não se justificam pelo espetáculo em si, uma vez que a plateia, mesmo com todo o seu entusiasmo, não geraria receita suficiente para bancar tais salários. A origem desse montante está, na verdade, na transformação desses atletas em marcas.

 Eles deixam de ser apenas esportistas e se tornam instrumentos de marketing, veículos para a venda de produtos e imagens, o que infla seus rendimentos de maneira desproporcional ao ofício.

Do lado estrutural, a realidade é tão perversa quanto. Enquanto uma minúscula elite recebe quantias exorbitantes, a grande massa de jogadores vive uma situação completamente diferente. Muitos sequer têm salário formal, recebendo apenas ajuda de custo ou bolsas, especialmente em modalidades menos midiáticas.

Apenas aqueles que conseguem “despontar” atingem essa outra categoria privilegiada. Essa estrutura piramidal, com poucos no topo e uma base larga e mal remunerada, é a própria materialização da concentração.

São as diferenças de classes e de castas.

Essa lógica perversa se espelha em outros setores, como o dos jogos legais de azar, a exemplo das Loterias da Caixa. Nelas, a fortuna é concentrada em um único ganhador, que instantaneamente salta para a elite da concentração de renda.

 Surge então a pergunta inevitável: por que não distribuir melhor esses prêmios? Em vez de criar um novo milionário, seria perfeitamente possível premiar o primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto lugares, por exemplo, promovendo uma distribuição do prêmio mais equilibrada e menos abrupta.

Portanto, a concentração de renda e salário é um mecanismo duplamente enraizado. É cultural no sentido de estar incorporado na nossa percepção de que é natural uma elite, em qualquer esporte ou área cultural, ganhar muito, enquanto os outros se contentam com muito menos, até, e se conseguirem, chegar lá. 

Isso cria uma forçação constante para se atingir o topo, condenando os que não conseguem a permanecerem em classes baixas ou médias. 

E é também estrutural, pois o regime econômico e social cultiva e fortalece essa dinâmica, fomentando a criação de milionários em detrimento de uma distribuição mais equilibrada.

 Seja no esporte, seja na cultura, seja nos jogos de azar, a lógica incrustada é sempre a mesma: a da concentração, e nunca a da desconcentração ou da melhor distribuição de renda.

Alguns exemplos de hiper concentração de renda:

Futebol: Gabigol ganha por volta de R$2,4 milhões por mês. Oscar recebe aproximadamente R$2,3 milhões por mês. Jogadores como Hulk, Paulinho e Everton Ribeiro ganham cerca de R$2 milhões cada por mês. Neymar é bilionário.

TV Globo: Taís Araújo ganha em torno de R$250 mil por mês, Cauã Reymond recebe R$120 mil por mês...

 Entre os Âncoras do jornalismo, Renata Vasconcellos e César Tralli terão seus salários reajustados para R$400 mil e R$350 mil respectivamente, e William Bonner sempre esteve acima da curva. 

Prêmios das Loterias (Caixa): A Mega-Sena está acumulada em cerca de R$ 14 milhões, a Lotofácil da Independência está oferecendo um prêmio recorde de R$ 220 milhões, a +Milionária está em cerca de R$ 152 milhões, a Quina em R$ 9,5 milhões, e a Dupla Sena em R$ 6 milhões, Timemania, Lotomania e Dia de Sorte têm prêmios que giram em torno de R$ 20 milhões, R$ 3,2 milhões e R$ 1,7 milhões respectivamente, e, todos esses valores, são apenas para o primeiro lugar.

Romper com esta lógica requer medidas de justiça fiscal, social e cultural. Sobretudo, debates ideológicos, de qual a ideologia que domina o sistema e qual é vetor do futuro histórico. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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