A inesquecível Soledad de volta ao teatro
Dias 2 e 3 de setembro, no Recife, revejam a inesquecível combatente no palco
Hilda Torres avisa que o espetáculo “Soledad - a terra é fogo sob nossos pés” volta ao Teatro Hermilo Borba Filho, no Recife, nos dias 2 e 3 de setembro, às 19h30. Sobre isso, antes de mais nada, quatro coisas.
Hilda vive o papel de Soledad Barrett, diria, mas não devo dizer assim. De modo mais preciso, devo escrever que Hilda Torres reencarna a pessoa de Soledad Barrett no palco, e de tal maneira, que deixa toda a plateia arrepiada, pela eloquência, pela entrega, pela crença no mundo pelo qual Soledad lutou. Se eu não fosse materialista, diria que é uma interpretação a lembrar uma sessão espírita, de tal maneira Soledad reaparece.
A segunda coisa a notar é que o Brasil inteiro perde em não ver esse espetáculo, que deveria circular por escolas, cidades, lugares de todo o país, dizendo a todos que uma mulher da altura e sangue de Soledad Barrett não é paraguaia de nascimento, ela é cidadã do mundo. E que não foi martirizada no Recife em 1973, com mais cinco bravos, entregues pelo Cabo Anselmo a Fleury. Não. Ela foi martirizada em todo o Brasil no corpo de inúmeras e inúmeros patriotas sob a ditadura.
A terceira coisa a expressar: um espetáculo de tal valor se faz com o apoio de muitas mãos, de muitas histórias, de muitos militantes que se cruzam em Soledad e são levantados no espetáculo. Brasileiros vivos e mortos, brasileiras vivas e mortas voltam à cena no espetáculo “Soledad - a terra é fogo sob nossos pés”. Eles e elas recebem a justiça dos seus nomes em cena.
A quarta e última é que a representação é pesquisada em cima da vida de Soledad Barrett. Mas a ponte para o espetáculo foi o meu livro “Soledad no Recife”, que trouxe à comoção nacional a trágica recriação dos últimos dias da guerreira no Recife. Para escrevê-lo, para me liberar de um trauma de juventude, tive que pesquisar muito, estudar, escrever e reescrever, e de tal modo que o crítico literário Flávio Aguiar, o seu primeiro leitor, teve a percepção de que eu havia sido namorado de Soledad. E não somente ele, mais de um leitor assim interpretou. E no entanto, o meu amor por Soledad foi o amor que alimentei tantas vezes por militantes socialistas que conheci e não pude livremente amá-las, porque já possuíam companheiros. Essa foi a razão do meu canto de amor e revolta pela guerreira ter se tornado tão real, até hoje, como um filme que não para de passar.
Sobre ela escrevi próximo ao fim do livro: “As santas virgens do Paraguai carregam o filho nos braços e a seus pés têm anjos, às vezes também luas em quartos minguantes. Sangue e feto aos pés só a guerreira Soledad Barrett Viedma”.
Dias 2 e 3 de setembro revejam a inesquecível combatente no palco.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.