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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A humanidade precisa de heróis tanto quanto o jornalismo precisa de provas

“O retorno da colunista do Globo à capa do jornal não acrescenta nada ao caso Moraes-Master”, escreve Moisés Mendes

Brasília (DF) - 03/09/2025 - O ministro do STF Alexandre de Moraes (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Frustraram-se os que esperavam uma informação capaz de pelo menos manter de pé a denúncia da jornalista Malu Gaspar contra o ministro Alexandre de Moraes. Malu ficou dois dias em silêncio, em sua coluna no Globo, desde que largou a nota sobre o que teria sido o lobby de Moraes pelo Banco Master junto ao Banco Central.

E o que temos no dia 25, de presente de Natal, é quase um editorial de Malu no seu retorno à capa do Globo. Esse é o título da coluna: “A democracia não precisa de heróis”.

Velhas controvérsias filosóficas, numa hora dessas, não ajudam em nada na preservação do ‘furo’ contra o ministro. No dia 25 dezembro, data que celebra o maior herói da humanidade, assassinado por poderosos, Malu Gaspar desqualifica os heróis.

E não acrescenta informações ao que publicou no dia 22 sobre as seis fontes anônimas que apontariam Moraes como envolvido na defesa dos interesses do Master.

Malu pede com veemência, no artigo do retorno, que Gabriel Galípolo seja mais claro. E que diga, também com veemência, que não falou com o ministro sobre o Master. É o que outros colunistas cobram.

Malu e colegas exigem que o presidente do BC passe um recibo mais categórico de que não houve as conversas. Mas a jornalista não consegue ser veemente no que informa sobre o que seria uma denúncia.

Não existe a veemência das provas no que ela diz. Mas Malu cobra veemência de quem ela acusa e ao mesmo tempo exige que se defenda. O problema é que não há veemência nem mesmo no editorial do Globo que deveria defender a colunista.

Em editorial do dia 23, o Globo é veemente na cobrança de transparência de Moraes e Galípolo, mas é frouxo na tentativa de passar certeza de que a denúncia se sustenta. O Globo vacila na defesa de Malu Gaspar.

Acontece nesse caso o que o jornalismo mais teme, quando tem a pretensão de divulgar informações de alto impacto. O primeiro barulho de uma notícia com essa ambição deve ter a cobertura de informações que o sustentem e o amplifiquem nos dias seguintes.

Não é o que se vê até aqui no caso de Moraes-Master-Galípolo. O temor que deve ter assombrado a redação do Globo é o que se confirma: não havia amarração para as primeiras informações.

As colunistas Eliane Cantanhêde, pelo Estadão, e Monica Bergamo, pela Folha, entraram na pauta, na tentativa de manter a denúncia viva e dar suporte à colega.

A primeira reforçou a história dos telefonemas do ministro, assegurando que foram pelo menos seis, e a segunda disse que Moraes pressionou também a Polícia Federal. Ambas admitem que as fontes eram do mercado financeiro. De novo, fontes sem nome.

A falta de fontes identificáveis não é a questão central, porque sem informantes anônimos não haveria jornalismo investigativo também na França, nos Estados Unidos ou na Finlândia. O problema é que não ocorreu o que deveria ter acontecido.

Malu disparou o primeiro tiro, na linha de frente da infantaria, e esperou que outras fontes e os colegas dos jornalões viessem atrás com artilharia pesada. É o que acontece quase sempre nesse tipo de pauta espetacular.

Não deu certo. O que temos hoje é a exposição das fraquezas do jornalismo dos colunistas, que transforma o que seria uma notinha de fofoca em manchete. Porque as redações da grande imprensa mataram os repórteres e prometem matar a reportagem.

É a hegemonia do colunismo, não o de opinião, que ajuda na sobrevida do jornalismo, mas o da intriga. Até agora, Malu Gaspar contribui com seu episódio para a crise de relevância e de reputação dos jornalões.

A colunista pode até ressuscitar a controvérsia sobre a necessidade ou não de a humanidade depender de heróis. É possível que o mundo um dia não precise mais de heróis. Mas o jornalismo, Malu Gaspar, quando denuncia, sempre vai precisar de provas. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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