A direita é de direita. A esquerda tem que ser de esquerda
"A direita sai dessa chacina com um candidato fortalecido"
Na direita, já há um novo herói. Ele surgiu na quarta-feira, com uma operação classificada por muitos como terrorismo de Estado, marcada por uma das maiores chacinas da história recente do Brasil, e consolidou-se no sábado — justamente no Dia de Finados.
Esse herói, para o campo conservador, é Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro e principal responsável pela operação policial de altíssima letalidade, realizada sob o argumento de combater o tráfico de drogas.
Quatro dias depois, ainda não há um número final de mortos — tanto pela dificuldade de identificação dos corpos, muitos deles mutilados, quanto pela angústia das famílias que ainda buscam seus parentes desaparecidos.
Relatos apontam que houve confrontos em áreas de mata de difícil acesso. À medida que o tempo passa, o reconhecimento das vítimas torna-se mais complexo, e as imagens que circulam mostram centenas de corpos enfileirados, cena que remete aos episódios mais brutais da segurança pública fluminense.
Como resumiu o analista Marcelo Zero, a tragédia expõe a contradição da operação:
- Nenhum dos supostos dirigentes do Comando Vermelho está entre os identificados;
- Entre os mortos, 39 não tinham qualquer antecedente criminal;
- E 72 não possuíam mandados de prisão pendentes.
Em síntese, os chefes do tráfico continuam vivos — mas dezenas de inocentes foram mortos.
Para a direita, no entanto, o episódio gerou dividendos políticos. Cláudio Castro emergiu como novo símbolo da “mão dura”, recebendo apoio público de governadores aliados que correram ao Rio de Janeiro para manifestar solidariedade.
Depois dos tropeços de outros nomes conservadores, como Tarcísio de Freitas, enfraquecido por erros políticos e por seu bolsonarismo intransigente, setores da direita enxergam em Castro um novo candidato competitivo.
Ele personifica, segundo críticos, a essência da direita brasileira contemporânea: a exaltação da violência como política pública, o ódio aos pobres, o antipetismo visceral, a oposição aos gastos sociais, o alinhamento a figuras como Donald Trump e Javier Milei e o discurso de intolerância travestido de ordem.
Agora, abre-se a guerra de interpretações. Algumas pesquisas — de metodologia questionável — apontam apoio expressivo a Castro, tanto no Rio de Janeiro quanto em outras regiões.
No entanto, especialistas alertam que essas sondagens refletem um público predominantemente alinhado à direita e à extrema direita. Todas as pesquisas eleitorais de maior credibilidade continuam indicando vitória de Lula contra qualquer adversário, inclusive no primeiro turno.
No plano social, o Rio de Janeiro e o Brasil permanecem no mesmo impasse estrutural. Nenhuma das causas profundas da violência foi enfrentada.
E o debate sobre alternativas — como a descriminalização das drogas leves, adotada com sucesso no Uruguai — segue interditado por interesses econômicos e políticos ligados ao narcotráfico e à militarização da segurança.
A direita sai dessa chacina com um candidato fortalecido.
A esquerda, com as denúncias, a indignação e a responsabilidade do governo Lula em apoiar o estado do Rio de Janeiro.
Até a próxima chacina.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
