Milei articula acordo militar da Argentina com Reino Unido
Com receio da influência da China no Atlântico Sul, britânicos e americanos ensaiam reaproximação estratégica com governo Milei após décadas de tensão
247 - Um movimento silencioso, mas significativo, vem redefinindo as relações estratégicas no Atlântico Sul. Segundo reportagem publicada pelo O Estado de S.Paulo, os governos da Argentina e do Reino Unido retomaram, após anos de hiato, o diálogo sobre defesa — impulsionados pelo interesse dos Estados Unidos em conter a crescente presença da China e da Rússia na região.
A área, que inclui o Estreito de Magalhães e a rota para a Antártida, passou a ser vista com preocupação por autoridades militares norte-americanas. A escassez hídrica no Canal do Panamá tornou o estreito ainda mais relevante para o comércio marítimo. Paralelamente, a atuação da China com projetos de infraestrutura intensificou o alerta. Nos últimos dois anos, generais dos EUA estiveram três vezes no extremo sul da Argentina, o que evidencia a crescente atenção à geopolítica local.
Embora o presidente argentino Javier Milei seja um aliado próximo do Ocidente, as Forças Armadas do país seguem em condições precárias. Como legado da Guerra das Malvinas, o Reino Unido impôs um rígido embargo à venda de armas à Argentina, dificultando sua modernização militar — o que acabou aproximando Buenos Aires de fornecedores chineses. Essa realidade preocupa Washington, que busca evitar o fortalecimento da influência de adversários estratégicos no hemisfério.
Agora, uma combinação de fatores abre espaço para uma reaproximação inédita. Desde fevereiro de 2024, após a posse de Milei, adidos britânicos voltaram a frequentar o Ministério da Defesa argentino. Reuniões bilaterais incluíram visitas a túmulos de soldados nas Malvinas, acordos para compartilhar dados pesqueiros e a retomada de voos diretos da Argentina para o arquipélago — iniciativas simbólicas que selaram o reinício do diálogo.
A Argentina tenta convencer Londres a flexibilizar as restrições à compra de equipamentos militares. Em contrapartida, o Reino Unido deseja ampliar sua presença e influência na região, com mais liberdade de atuação no Atlântico Sul e sem abrir mão de sua soberania sobre as Malvinas. “Nos sentimos muito seguros”, afirmou Leona Roberts, do Conselho Executivo das Malvinas, “mas provavelmente não ficaríamos muito confortáveis com o Reino Unido fornecendo equipamento militar para a Argentina”.
Mesmo assim, o Reino Unido considera reavaliar, com cautela, as regras que bloqueiam vendas de equipamentos com peças britânicas, inclusive por terceiros. Em 2020, o governo barrou a venda de caças coreanos à Argentina devido a componentes fabricados no Reino Unido. A política oficial segue sendo a de evitar qualquer venda que “aumente a capacidade militar argentina”, mas há brechas legais para exceções, caso os interesses de segurança britânicos não sejam afetados.
Para Milei, a modernização das Forças Armadas é prioridade. O presidente pretende elevar os gastos com defesa de 0,5% para 2% do PIB até 2031, com equipamentos compatíveis com a OTAN. O governo argentino já formalizou pedido de status de parceiro da aliança militar ocidental.
O apoio dos Estados Unidos à venda dos F-16 foi decisivo para driblar o veto britânico. Com investimento de US$ 40 milhões dos americanos, a Argentina adquiriu aeronaves dinamarquesas sem peças britânicas, eliminando a necessidade de autorização de Londres. A operação foi considerada um avanço importante, embora ainda envolva interlocuções diplomáticas cuidadosas com o Reino Unido.
Há ainda obstáculos internos. Em Londres, setores conservadores e o Reform UK, de Nigel Farage, podem explorar a questão como traição aos mortos na guerra das Malvinas. Na Argentina, os peronistas atacam Milei por sua postura conciliadora com os britânicos, e o novo chanceler designado em outubro parece dar menos ênfase ao tema nas relações exteriores.
Mesmo assim, Milei tem se mantido firme no alinhamento com os EUA. O presidente já declarou abertamente que “as Malvinas estão nas mãos do Reino Unido” e descartou qualquer tentativa de retomá-las à força. Em declarações recentes, sugeriu até aceitar o princípio de autodeterminação dos ilhéus — posição histórica do Reino Unido.
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