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Claudia Sheinbaum denuncia assédio e exige mudanças legais no México

Após ser tocada sem consentimento durante caminhada na Cidade do México, presidente diz que o episódio reflete a violência cotidiana sofrida por mulheres

Claudia Sheinbaum (Foto: Flickr Claudia Scheinbaum)

247 - A presidente do México, Claudia Sheinbaum, anunciou nesta quarta-feira (5) que apresentou queixa formal contra o homem que a assediou durante uma caminhada na Cidade do México. O episódio, registrado por câmeras, mostrou o momento em que a primeira mulher a ocupar a presidência mexicana afastou as mãos do agressor antes que um membro de sua equipe interviesse. O caso, relatado pela Al Jazeera, repercutiu amplamente nas redes sociais e na imprensa internacional.

De acordo com o relato da presidente, o homem foi detido logo após o ataque. Em entrevista coletiva, Sheinbaum destacou a importância de denunciar o ocorrido para incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo. “Meu raciocínio é o seguinte: se eu não apresentar queixa, o que acontecerá com as outras mulheres mexicanas? Se isso acontecer com a presidente, o que acontecerá com todas as mulheres do nosso país?”, questionou.

Em publicação nas redes sociais, Sheinbaum classificou o ataque como um reflexo da realidade enfrentada por milhões de mulheres no México e no mundo. “Apresentei queixa sobre o episódio de assédio que sofri ontem na Cidade do México. É preciso deixar claro que, além de ser presidente, isso é algo que muitas mulheres vivenciam no país e no mundo; ninguém pode violar nosso corpo e nosso espaço pessoal”, escreveu. Ela afirmou ainda que pretende revisar a legislação para que o assédio seja punido de forma uniforme “em todos os 32 estados do país”.

A presidente contou que o incidente ocorreu quando decidiu caminhar do Palácio Nacional até o Ministério da Educação, trajeto que levaria cerca de cinco minutos a pé. “Fizemos isso para economizar tempo, já que de carro levaríamos cerca de 20 minutos”, explicou.

Sheinbaum aproveitou o caso para pedir que todos os estados mexicanos revisem suas leis e procedimentos, a fim de garantir que as mulheres possam denunciar agressões de forma mais acessível e segura. “Os mexicanos precisam ouvir um não, alto e claro: o espaço pessoal das mulheres não deve ser violado”, declarou.


Atualmente, os 32 estados mexicanos e a Cidade do México têm seus próprios códigos penais, e nem todos tipificam o assédio sexual como crime. “Deveria ser considerado crime, e vamos lançar uma campanha nacional para isso”, afirmou a presidente, lembrando que também sofreu episódios de assédio quando era jovem.

O caso reacendeu o debate sobre a segurança das mulheres no país, onde, segundo dados das Nações Unidas, cerca de 70% das mexicanas com 15 anos ou mais já sofreram algum tipo de assédio sexual. A ONU também alerta para uma grave crise de feminicídios, com uma média de dez mulheres assassinadas todos os dias no México.

Além da questão de gênero, o episódio levantou críticas à equipe de segurança da presidente e à sua postura de manter contato direto com o público, mesmo em um país onde políticos são frequentemente alvos de ataques violentos. Apesar das pressões, Sheinbaum afirmou que não pretende reforçar sua segurança pessoal nem alterar sua forma de interação com os cidadãos.

Durante os comícios que marcaram seu primeiro ano de governo, em setembro, ela manteve a tradição de se aproximar dos apoiadores, permitindo abraços e selfies. O novo episódio, porém, reforçou a determinação da presidente em usar sua posição para impulsionar mudanças na legislação e fortalecer o combate à violência contra as mulheres em todo o México.