Por Renato Peneluppi Jr. (*) - No início de março de 2025, a China realizou as “Duas Sessões” (两会), evento annual que marca o ciclo legislativo do país. O termo refere-se às reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN) e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh), que acontecem simultaneamente. Esses encontros são essenciais para o planejamento político e estratégico da nação.
Esse é o momento em que o governo apresenta e delibera sobre planos de longo prazo, para o ano vigente, ou ajustes levando em conta o relatório do ano anterior, observando como atingir os palanos mais amplos em áreas essenciais como economia, defesa, comércio, diplomacia e meio ambiente, refletindo prioridades nacionais dentro da política de “democracia popular ao longo de todo o processo” (全过程人民民主).
As “Duas Sessões” são essenciais para o acompanhamento e ajuste do Plano Quinquenal, garantindo que suas diretrizes se adaptem às necessidades do país ano a ano. A APN avalia a implementação do plano, aprova ajustes e define novas metas, enquanto a CCPPCh contribui com análises e recomendações. Esse processo assegura que o desenvolvimento do país siga de forma estratégica e alinhada aos desafios atuais.
O Partido Comunista da China (PCCh) segue uma estrutura organizada em ciclos rigorosos, refletindo seu modelo de centralismo democrático. Desde a Revolução Cultural, os Planos Quinquenais—principal ferramenta de planejamento estatal—são elaborados em anos terminados em 1 ou 6. Já o Congresso do Partido, responsável pela escolha da liderança, ocorre em anos terminados em 2 ou 7. Esses eventos se alternam de forma precisa, garantindo continuidade e controle estratégico no desenvolvimento do país.
As sessões desse ano são especialmente importantes, pois marca a última “Duas Sessões” do 14º Plano Quinquenal e servirá como base para o 15º Plano Quinquenal, que será apresentado em 2026. As decisões tomadas nas sessões desse ano terão um impacto profundo no futuro econômico e estratégico da China. Para melhor entender é preciso destacar duas características interessantes do 14º Plano Quinquenal: Primeiro, ele se sobrepõe à segunda metade do plano decanal chamado de “Made in China 2025”, desempenhando um papel importante na conclusão deste plano.
O segundo componente é o “Objetivo de Desenvolvimento de Longo Prazo até 2035”, um plano de quinze anos que visa consolidar o crescimento sustentável da China. Seus primeiros cinco anos coincidem com a segunda metade e conclusão do “Made in China 2025” e estão ancorados no 14º Plano Quinquenal, tendo ambos iniciados junto, garantiram a continuidade estratégica. A conclusão dessas iniciativas posicionará a China na metade do caminho para sua segunda meta centenária em 2049 – Nova Era. A partir de 2035, restarão quinze anos para concretizar o Sonho Chinês de rejuvenescimento da Nação.
Relatório anual de trabalho
O relatório anual de trabalho, apresentado pelo primeiro-ministro Li Qiang, na abertura do APN confirmou o cumprimento das metas das “Duas Sessões” de 2024, nas quais o governo chinês projetou um crescimento do PIB de aproximadamente 5%. Ao final do ano, a economia atingiu o objetivo,
registrando um PIB de 134,91 trilhões de yuans (cerca de US$ 17,8 trilhões). Embora a taxa de crescimento já não seja mais central nessa nova fase de desenvolvimento, essa foi a taxa de crescimento mais lenta desde 1990, porém o volume absoluto do PIB é o maior já registrado na história do país.
Destaque especial ao fato de terem alcançado a taxa de urbanização 67%, com a taxa de desemprego urbano em 5,1%, a matriz energética nacional com aproximadamente 40% de energia renovável. A fabricação de alta tecnologia teve um aumento de 8,9%, e a produção de veículos de nova energia ultrapassou 13 milhões de unidades. O país também contribuiu com cerca de 30% para o crescimento econômico global, mantendo mais de US$ 3,2 trilhões em reservas cambiais.
A economia digital ainda representa menos de 10% do PIB, indicando espaço para crescimento, especialmente diante das ambições do governo de fortalecer o setor tecnológico. O valor agregado dos serviços de TI, atingindo 10,9%, mostra um avanço na digitalização e inovação. Esses números sugerem que, embora o setor de tecnologia esteja se expandindo, ele ainda não domina a economia, alinhando-se à estratégia chinesa de equilibrar modernização digital com setores tradicionais e manufatureiros
Segundo Xiaohuan Lan, autor do livro How China Works: An Introduction to China’s State-led Economic Development, destaca essa transformação ao afirmar: “A China está se movendo em direção a um modelo econômico que prioriza a inovação e o conhecimento, abandonando gradualmente o foco exclusivo na manufatura.”
Metas para 2025
O relatorio de trabalho do governo também apresentou metas economicas e sociais para o corrente ano, mantendo o crescimento do PIB em 5%, e a geração de 12 milhões de empregos urbanos, com a meta de 5,5% de taxa de desemprego urbano. Na abertura o primeiro-ministro logo destacou a implementação de politicas e subsidiso para aumentar a taxa de natalidade e resolver a questão demografica da China.
O governo chinês adotará medidas para impulsionar o consumo, fortalecer os retornos sobre investimentos e ampliar a demanda interna. Estão previstas iniciativas específicas para aumentar o poder de compra, expandir a oferta de produtos e serviços de qualidade e aprimorar o ambiente de consumo, explorando o potencial de gastos diversificados e promovendo sua modernização.
Para estimular a economia, haverá um esforço para elevar a renda pessoal por diferentes meios. Além disso, serão emitidos títulos do Tesouro Nacional de longo prazo, no valor de 300 bilhões de yuans, destinados a programas de renovação de bens de consumo. O governo também realizará uma avaliação da política de erradicação da pobreza para verificar sua eficácia. Novas forças produtivas servirão como um novo motor para promover o desenvolvimento de alta qualidade e avançar a modernização chinesa, bem como uma nova força motriz que impulsiona o crescimento económico mundial.
Um dos principais focos será a meta de crescimento para 2025, demonstrando a capacidade da China de manter sua economia resiliente diante de desafios globais, como potenciais novas tarifas de Donald Trump. Esse cenário reforça a estratégia de transição econômica do país, com investimentos em tecnologia, digitalização da indústria e fortalecimento do consumo interno, alinhando-se à política de Prosperidade Comum, que busca um crescimento mais equilibrado e inclusivo.
O investimento da China em P&amp;D (Pesquisa e Desenvolvimento) atingiu 3,61 trilhões de yuans (US$ 503,21 bilhões), consolidando o país como o segundo maior investidor nesse setor no mundo. O governo reafirmou seu compromisso com a inovação tecnológica, anunciando um fundo nacional de investimento em inovação de 1 trilhão de yuans para impulsionar avanços em áreas estratégicas.
Com esse aporte, a China busca fortalecer setores de ponta, criar novas forças produtivas de qualidade e impulsionar o desenvolvimento econômico e social de alta qualidade, consolidando sua posição como líder global em inovação.
As duas sessões para o mundo
Durante as Duas Sessões de 2025, em um dos tradicionais e importantes momentos, o principal diplomata da China, Wang Yi, cedeu uma entrevista que delineou os principais aspectos da política externa do país. Ele criticou as tarifas dos EUA como prejudiciais à estabilidade global, enfatizou o papel da China como uma “força estabilizadora” e reafirmou seu compromisso com o multilateralismo.
Wang Yi também destacou a forte parceria da China com a Rússia e defendeu negociações políticas em zonas de conflito, particularmente na Ucrânia e no Oriente Médio. Suas declarações reforçaram a posição diplomática da China em meio às incertezas globais.
Como “força estabilizadora”, a China para consolidar sua autossuficiência estratégica e projetar-se como potência global até 2049, precisará de metas claras e estratégias decisivas para garantir estabilidade. A inovação torna-se o motor central desse desenvolvimento, reduzindo vulnerabilidades externas e impulsionando um crescimento mais resiliente e sustentável.
Sendo crucial implementar plenamente o novo conceito de desenvolvimento, acelerando a construção de um novo padrão econômico, a China se redefinira no mundo. Como destaca Kishore Mahbubani em Has China Won?, “A notável transformação da China é resultado de uma governança pragmática, planejamento de longo prazo e um profundo compromisso com a modernização à sua própria maneira.”
Ao invés de seguir modelos ocidentais, a China traçou seu próprio caminho, combinando inovação, estratégia e visão de futuro. Seu progresso não é apenas econômico, mas também tecnológico e social, impulsionado por uma abordagem única de desenvolvimento da prosperidade comum. O impacto dessa modernização está apenas começando a moldar o século XXI—e o mundo deve se preparar para um futuro em que a China será um protagonista central na construção da nova ordem global.
(*) Doutor em Administração Pública Chinesa. Artigo publicado originalmente pela Fundação Perseu Abramo

Duas sessões definem as prioridades da economia chinesa

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Ideias

As duas sessões 2025: o final de um ciclo quinquenal chinês

Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - A terceira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN) da China realizou, neste sábado (8), sua segunda reunião plenária, com a presença do presidente Xi Jinping e outros líderes do país. Durante o encontro, foram apresentados e debatidos os relatórios de trabalho do Comitê Permanente da 14ª APN, do Supremo Tribunal Popular (STP) e da Suprema Procuradoria Popular (SPP), de acordo com informe da agência Xinhua.
O presidente do Comitê Permanente da APN, Zhao Leji, destacou os avanços legislativos de 2024, com a deliberação de 39 itens legislativos, resultando na adoção de 24 deles, incluindo seis novas leis e 14 revisadas. 
No campo judicial, o presidente do STP, Zhang Jun, informou que os tribunais chineses receberam mais de 46 milhões de casos no ano passado, concluindo mais de 45 milhões, um volume semelhante ao do ano anterior. Ele também afirmou que, para 2025, os tribunais "buscarão elevar ainda mais o nível da governança baseada na lei".
Já o procurador-geral da SPP, Ying Yong, destacou o empenho das procuradorias em reforçar a segurança pública e aprimorar o bem-estar da população por meio da iniciativa China Pacífica.
Tal iniciativa consiste em uma estratégia de longo prazo para "garantir a segurança nacional, a estabilidade social e um ambiente favorável ao desenvolvimento econômico". Ela abrange desde a manutenção da ordem pública até medidas preventivas contra riscos internos e externos, promovendo uma governança social eficiente baseada no uso de tecnologia e inovação.
Além disso, para 2025, Yong prometeu aprofundar reformas e intensificar esforços para contribuir com a revitalização nacional.

Guilherme Paladino

Mundo

Duas Sessões: China promete aprofundar reformas e fortalecer segurança pública em 2025

Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - O chanceler chinês, Wang Yi, afirmou que a cooperação crescente entre China e América Latina se baseia no princípio da parceria Sul-Sul, sem cálculos geopolíticos ou tentativas de influência externa. "Nunca queremos influenciar nenhuma parte. O que eles [latinoamericanos] querem é construir sua própria casa, não ser o quintal de ninguém", disse Yi durante coletiva de imprensa realizada em Pequim nesta sexta-feira (7), no âmbito da sessão anual do Congresso Nacional do Povo.
Segundo o diplomata, a relação entre a China e os países latino-americanos tem sido marcada pelo respeito à soberania e às vontades nacionais. "Nossa cooperação é popular porque respeita as vontades de seus países e oferece boas opções para a revitalização da região", acrescentou.
O chanceler destacou ainda os avanços alcançados no âmbito do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que completa dez anos em 2025. "O Fórum produziu bons resultados. Este ano marca uma década desde sua criação, e os dois lados vão agir juntos para levar a cooperação a um nível superior", afirmou Yi.
Nos últimos anos, a China tem ampliado sua presença econômica na América Latina, tornando-se um dos principais parceiros comerciais da região, especialmente em setores como infraestrutura, energia e tecnologia.

Coletiva de imprensa do chanceler chinês Wang Yi, em Pequim - 07/03/2025

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Chanceler chinês: "a América Latina quer construir sua própria casa, não ser o quintal de ninguém"

Por Guilherme &nbsp;Paladino, de Pequim, para o 247 - Em meio a um cenário global marcado por turbulências e incertezas, a China se compromete a ser um fator de estabilidade e previsibilidade na diplomacia internacional. Foi o que afirmou nesta sexta-feira (28) o chanceler chinês Wang Yi, durante coletiva de imprensa no âmbito da sessão anual do Congresso Nacional do Povo.
"Estamos num mundo turbulento, em que a certeza está virando um recurso escasso. As decisões dos grandes países vão moldar o futuro. A China estará no lado certo da história. Traremos certeza a esse mundo incerto", declarou Wang, reforçando que Pequim não cederá a pressões externas e seguirá um caminho independente na política global.
O chanceler destacou que a China continuará defendendo seus interesses de forma soberana, sem provocar outros países, mas também sem se intimidar diante de provocações. "Nenhuma chantagem dividirá nossa população de 1,4 bilhão de pessoas", disse Wang, em um recado às recentes medidas dos EUA, que tentam pressionar Pequim em questões comerciais e geopolíticas com aumentos de tarifas sobre produtos chineses e restrições de acesso a componentes tecnológicos.
A China também enfatizou seu compromisso com o multilateralismo e a construção de um mundo multipolar, onde as decisões internacionais sejam tomadas de forma coletiva e não impostas por um único país ou bloco. Wang Yi ressaltou que Pequim continuará expandindo suas parcerias globais, com foco especial no Sul Global, e promovendo a cooperação baseada em "benefício mútuo e respeito à Carta da ONU".
"Vamos escrever um novo capítulo no Sul Global, trazendo estabilidade", afirmou. "Seremos uma força progressiva para a justiça, aplicaremos o verdadeiro multilateralismo e compartilharemos as oportunidades da modernização chinesa com outros países."
A declaração de Wang Yi ocorre em um momento em que as relações internacionais estão marcadas por disputas comerciais, conflitos militares e uma reconfiguração das alianças globais. Em sua fala, ele também alertou para os riscos de um mundo dominado pela "lei da selva", onde o unilateralismo e a imposição de sanções substituem o diálogo diplomático.

China trará certezas para este mundo incerto, diz Wang Yi, chanceler chinês

Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - O ministro do Comércio da China, Wang Wentao, enfatizou a posição firme do país diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos na administração Donald Trump. Em coletiva de imprensa no âmbito da sessão anual da Assembleia Nacional Popular nesta quinta-feira (6), Wang classificou as medidas tarifárias americanas como "típicas do unilateralismo que viola regras internacionais" e alertou que tais práticas representam uma ameaça à estabilidade das cadeias globais de suprimentos. “A guerra comercial não tem vencedores e não leva a lugar nenhum”, declarou Wang, enfatizando que a China já tomou medidas para proteger seus interesses e que continuará a responder "até o fim" caso Washington mantenha sua postura. O ministro criticou a justificativa usada pelos EUA para as tarifas adicionais – alegações de que Pequim não combate o envio de fentanil à América do Norte – afirmando que essas acusações são apenas um pretexto para práticas protecionistas. “A China está firme e decidida a salvaguardar seus interesses. Já tomamos medidas necessárias em resposta e, se o lado dos EUA continuar [com as tarifas], vamos continuar respondendo até o fim", destacou o ministro. O governo chinês reiterou que, se os Estados Unidos quiserem resolver suas disputas comerciais, devem "agir como um país grande" e priorizar o diálogo. "Nossas equipes devem se comunicar o mais cedo possível. Devemos atuar juntos para estabilizar a economia", disse Wang. A posição chinesa é de que o respeito mútuo deve ser a base para qualquer negociação, conforme ressaltou o ministro ao citar um ditado local: “Aquele que respeita os outros é respeitado pelos outros; o mesmo vale para o desrespeito".  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20250306120328_f2a8808156d534d0d4c66587203478375e0fec6d6a7e38fe4993222a78057164.jpg" data-media-id="editor_0" data-image-id="20250306120328_f2a8808156d534d0d4c66587203478375e0fec6d6a7e38fe4993222a78057164" data-rendition-name="original" width="1280" height="600" loading="lazy" alt="Coletiva de imprensa sobre temas econômicos da China no âmbito do Congresso Nacional do Povo, em Pequim"><figcaption>Coletiva de imprensa sobre temas econômicos da China no âmbito do Congresso Nacional do Povo, em Pequim(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247</figcaption></figure>  As declarações vêm em um momento chave para a economia chinesa, após ontem ter sido anunciado o estabelecimento de uma meta ousada de crescimento de 5% para 2025. O presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zheng Shanjie, reconheceu as incertezas no cenário internacional, mas garantiu que a China tem os meios para alcançar esse objetivo. O governo aposta no fortalecimento da demanda interna e na implementação de uma política fiscal mais proativa para impulsionar o crescimento. O ministro das Finanças, Lan Fo'an, detalhou as cinco dimensões da estratégia fiscal para 2025, incluindo um arranjo mais robusto do déficit fiscal, um aumento significativo dos gastos públicos, a emissão de títulos governamentais em escala recorde, maior transferência de pagamentos e um suporte reforçado a setores essenciais como educação, seguridade social e emprego. "O governo central deixou amplo espaço para que essas políticas sejam implementadas, a fim de lidar com as incertezas do ambiente doméstico e internacional", explicou Lan. Já o presidente do Banco Central, Pan Gongsheng, anunciou medidas de estímulo econômico, incluindo a redução de taxas de juros e do coeficiente de reservas obrigatórias para os bancos. Essas iniciativas visam manter a estabilidade econômica e assegurar o crescimento sustentável da segunda maior economia do mundo.

Wu Qing, presidente da CVM da China; Wang Wentao, ministro do comércio; Zheng Shanjie, chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma; Lan Fo'an, ministro das finanças, e Pan Gongsheng, governador do Banco Popular

China garante ter meios para crescer 5% em 2025, promete reagir a tarifas até o fim e cobra "postura de país grande" dos EUA

Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - No âmbito das Duas Sessões, a Assembleia Popular Nacional (APN) da China deu início aos trabalhos nesta quarta-feira (5), no Grande Palácio do Povo, em Beijing, com um forte discurso a favor do multilateralismo e da abertura comercial. Em um momento em que os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, intensificam barreiras tarifárias e adotam medidas protecionistas, a China adota a estratégia de se apresentar como um pilar da cooperação global e do que chamou de "estabilidade econômica internacional". Durante a sessão inaugural, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, apresentou o Relatório de Trabalho do Governo, destacando a participação ativa da China em eventos multilaterais e a ampliação de suas relações diplomáticas e comerciais ao longo de 2024. "Trabalhamos para consolidar e ampliar as relações de parceria global e aderir a um multilateralismo genuíno, desempenhando assim um papel positivo e construtivo na resposta aos desafios globais e na resolução de problemas internacionais e regionais candentes. A China fez contribuições importantes em prol da paz e do desenvolvimento do mundo", afirmou Li. "O agravamento do unilateralismo e do protecionismo representa um golpe à estabilidade das cadeias setoriais e de suprimento globais, dificultando assim a circulação econômica internacional", também destacou o relatório. O governo chinês reafirmou seu compromisso com a construção de uma "comunidade de destino compartilhado para a humanidade" e defendeu a necessidade de fortalecer o sistema de livre-comércio centrado na Organização Mundial do Comércio (OMC). Rede de cooperação internacional - O discurso de Li Qiang enfatizou que, no último ano, a China desempenhou um papel ativo na diplomacia global, participando de cúpulas de alto nível, como as do BRICS, da APEC e do G20, além de sediar eventos estratégicos, como a Cúpula de Pequim do Fórum de Cooperação China-África e a Conferência Ministerial do Fórum de Cooperação China-Estados Árabes. O país reiterou sua intenção de ampliar a rede de zonas de livre comércio, incluindo a assinatura da Versão 3.0 do acordo China-ASEAN e sua adesão ao Acordo de Parceria Transpazífica Integral e Progressiva.  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20250305060344_b4c1b8b6bf8765a0cdd1266e6e0748cdbf05ea8ff38ff31b990e9097b0b4ccdb.jpg" data-media-id="editor_0" data-image-id="20250305060344_b4c1b8b6bf8765a0cdd1266e6e0748cdbf05ea8ff38ff31b990e9097b0b4ccdb" data-rendition-name="original" width="1020" height="677" loading="lazy" alt="A reunião de abertura da terceira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN) é realizada no Grande Salão do Povo em Pequim"><figcaption>A reunião de abertura da terceira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN) é realizada no Grande Salão do Povo em Pequim(Photo: Xinhua/Ding Haitao)Xinhua/Ding Haitao</figcaption></figure>  Diante do aumento do protecionismo global, a China apontou que a estabilidade das cadeias produtivas e de suprimentos está em risco devido às barreiras comerciais impostas por certas potências. "Devemos continuar a expandir a abertura institucional em regras, regulamentos, gestão e padrões", afirmou Li Qiang. Ele também ressaltou que "a cooperação econômica e comercial deve ser uma via de mão dupla, baseada no respeito mútuo e no benefício compartilhado". A China defendeu o aprofundamento das reformas econômicas e o fortalecimento de parcerias estratégicas em diversos setores, especialmente tecnologia, infraestrutura e energia limpa. Trump intensifica medidas protecionistas - Em um contraste com a postura chinesa, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou na terça-feira (4) um novo pacote de tarifas contra países que, segundo ele, aplicam tributação sobre produtos americanos. O Brasil foi citado diretamente no discurso, assim como China, México, Canadá, Índia e União Europeia. "Muitos países usam tarifas contra nós há décadas, nós começaremos a usar contra eles", declarou Trump. A nova medida se soma a uma série de barreiras aplicadas pelo governo norte-americano sobre produtos como aço, alumínio e etanol, afetando diretamente o Brasil e outros parceiros comerciais. A política tarifária de Trump tem gerado reação negativa entre economistas, que alertam para o risco de uma escalada protecionista com impacto negativo no comércio global. Enquanto a China busca fortalecer laços comerciais e expandir suas parcerias internacionais, os Estados Unidos seguem um caminho oposto, aumentando barreiras e reduzindo sua participação em organismos multilaterais. "A história nos ensina que o isolamento econômico não traz prosperidade a longo prazo", pontuou o relatório chinês.

Primeiro-ministro chinês Li Qiang apresenta o relatório de trabalho do Congresso Nacional do Povo

China aposta no multilateralismo para fortalecer economia global diante do isolacionismo dos EUA

247 – A China estabeleceu uma meta de crescimento de cerca de 5% para seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, mantendo o mesmo patamar do ano anterior e reforçando a confiança de seus formuladores de políticas na estabilidade da segunda maior economia do mundo. O objetivo foi divulgado no Relatório de Trabalho do Governo, apresentado nesta quarta-feira pelo primeiro-ministro Li Qiang ao Congresso Nacional do Povo (CNP), que iniciou sua sessão anual. As informações foram <a href="https://www.globaltimes.cn/page/202503/1329505.shtml">publicadas pelo Global Times</a>.
O documento também detalhou outras metas econômicas relevantes. O déficit fiscal em relação ao PIB foi fixado em 4%, enquanto a taxa de desemprego urbano deve permanecer em torno de 5,5%. A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI), tem como meta um patamar de 2%. Para estimular a economia, o governo chinês anunciou a emissão de 1,3 trilhão de yuans (cerca de US$ 182 bilhões) em títulos especiais do tesouro de longo prazo, um aumento de 300 bilhões de yuans em relação a 2024. Além disso, serão emitidos 4,4 trilhões de yuans (aproximadamente US$ 613 bilhões) em títulos especiais para governos locais, representando um acréscimo de 500 bilhões de yuans em relação ao ano passado.
"Ao propor essas metas, consideramos a dinâmica econômica nacional e internacional, bem como fatores relevantes, equilibrando o que é necessário e o que é viável", destacou o Relatório. "A meta de cerca de 5% está alinhada com nossos objetivos de desenvolvimento de médio e longo prazo e sublinha nossa determinação em enfrentar desafios e buscar avanços."
<h3>Confiança na economia chinesa</h3>
Em 2024, a economia chinesa cresceu exatamente 5%, ultrapassando pela primeira vez a marca de 130 trilhões de yuans (US$ 17,82 trilhões). O economista Justin Yifu Lin, membro do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e reitor do Instituto de Nova Economia Estrutural da Universidade de Pequim, afirmou ao Global Times que, apesar das incertezas globais, a China manterá seu papel como motor do crescimento mundial.
"O mundo está repleto de incertezas, mas uma certeza é o crescimento econômico estável e dinâmico da China. Em 2025, esperamos um crescimento de pelo menos 5%, o que continuará garantindo a contribuição chinesa de mais de 30% à expansão global. Isso é uma boa notícia não apenas para a China, mas para o mundo inteiro", afirmou Lin, que já ocupou o cargo de economista-chefe do Banco Mundial.
Ele destacou que a China tem condições de manter esse ritmo de crescimento até 2035. "Nossa confiança vem da capacidade de aproveitar plenamente espaços de política monetária e fiscal, combinados com iniciativas industriais que promovem a digitalização, a inteligência artificial e o desenvolvimento verde, garantindo um crescimento econômico de alta qualidade."
<h3>Medidas para 2025</h3>
O Relatório de Trabalho também delineou políticas para o ano, incluindo uma abordagem fiscal mais proativa e uma política monetária moderadamente expansionista. "Aprimoraremos e desenvolveremos novos instrumentos de política monetária estrutural para apoiar o setor imobiliário, o mercado de ações, a inovação científica e tecnológica, o desenvolvimento verde, o consumo e as micro e pequenas empresas", destacou o documento.
O economista Yu Miaojie, presidente da Universidade de Liaoning e deputado do CNP, ressaltou que, apesar dos desafios externos, a meta de crescimento é viável e estratégica. "Alcançar essa meta não será fácil diante do cenário global, mas a China ainda possui vantagens comparativas significativas e contará com uma série de políticas macroeconômicas para garantir esse crescimento", disse ele ao Global Times.
Entre as principais áreas de investimento para 2025, está o incentivo ao consumo e ao investimento produtivo. O governo chinês planeja lançar iniciativas específicas, além de emitir 300 bilhões de yuans em títulos especiais para programas de renovação de bens de consumo. Para ampliar investimentos efetivos, o orçamento central destinará 735 bilhões de yuans para investimento público.
Outro foco será o desenvolvimento de indústrias emergentes, incluindo biotecnologia, computação quântica, inteligência artificial integrada e tecnologia 6G. "Estabeleceremos mecanismos para aumentar o financiamento dessas indústrias do futuro", diz o Relatório.
<h3>Expectativas internacionais</h3>
A meta de crescimento anunciada pelo governo chinês superou projeções feitas por algumas organizações internacionais. Em dezembro, o Banco Mundial revisou sua previsão para o crescimento da China em 2025 de 4,1% para 4,5%. Por outro lado, instituições financeiras estrangeiras como o Standard Chartered previam uma meta em torno de 5%, em linha com as expectativas regionais.
Com um plano de desenvolvimento bem definido e medidas para impulsionar o crescimento, Pequim segue reforçando sua posição como uma das principais locomotivas da economia global, mantendo estabilidade interna e contribuindo para a expansão econômica mundial.

Redação Brasil 247

China instala sessão da Assembleia Nacional Popular e estabelece meta de crescimento do PIB em torno de 5% para 2025

China projeta crescimento de 5% em 2025 e reforça confiança na economia

247 – A China se posiciona como um pilar de estabilidade e defensora do multilateralismo em um momento de crescente turbulência geopolítica, impulsionada pelas políticas agressivas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (3), Lou Qinjian, porta-voz do Congresso Nacional do Povo (NPC), enfatizou que Pequim continuará promovendo a globalização econômica, buscando cooperações estratégicas e reforçando laços com o Sul Global. As declarações de Lou foram <a href="https://www.scmp.com/news/china/diplomacy/article/3301032/two-sessions-2025-china-portrays-itself-stalwart-global-order-amid-trump-tumult?module=top_story&amp;pgtype=homepage">publicadas pelo South China Morning Post</a>.
Seis semanas após reassumir a presidência, Trump vem desestabilizando relações internacionais ao impor tarifas sobre aliados, aproximar-se da Rússia e suspender o apoio militar à Ucrânia após um confronto verbal com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca. Diante desse cenário, Pequim busca consolidar-se como um parceiro global mais previsível e confiável que Washington.
Resposta às tarifas e reafirmação da soberania
Trump anunciou na terça-feira um aumento de 10% nas tarifas sobre importações chinesas, elevando para 20% o total de sobretaxas desde o início de seu novo mandato. Pequim respondeu com tarifas de 10 a 15% sobre produtos agropecuários e alimentícios dos EUA, além de adicionar 25 empresas norte-americanas à sua lista de restrição de exportação.
Lou enfatizou que a China não aceitará "pressão e ameaças" e garantiu que o país protegerá seus interesses nacionais com firmeza. "Esperamos que os EUA se engajem em um diálogo mutuamente respeitoso para encontrar soluções por meio de consulta igualitária", declarou.
Relação com a Europa e o fortalecimento do Sul Global
A crise gerada pelo protecionismo norte-americano também abre espaço para uma reaproximação sino-europeia. Apesar de tensões recentes devido à guerra na Ucrânia e a questão da capacidade industrial da China, Pequim busca fortalecer laços comerciais com a União Europeia. Segundo Lou, "China e Europa não têm conflitos geopolíticos fundamentais e podem complementar-se economicamente".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, indicou uma postura mais pragmática, sugerindo que há espaço para aprofundar os laços comerciais em um cenário global cada vez mais competitivo e transacional.
Lou também reforçou que a China se considera parte do Sul Global e tem um compromisso histórico com a cooperação Sul-Sul. Para ele, a ascensão coletiva dessas nações é "uma marca distintiva das transformações globais em curso".
Desafios domésticos e aposta na inovação
Internamente, Pequim enfrenta desafios como a queda na confiança dos investidores, pressões deflacionárias e um aumento do desemprego. Entretanto, a ascensão de startups chinesas no setor de inteligência artificial, como a DeepSeek, sinaliza um caminho de crescimento baseado na inovação tecnológica.
Durante a sessão do NPC, que começa nesta quarta-feira (5), a atenção estará voltada para o pacote de estímulo econômico do governo e suas estratégias para enfrentar o cerco comercial imposto por Washington.
Enquanto os EUA seguem aprofundando uma política isolacionista, Pequim aproveita a oportunidade para se consolidar como um ator estabilizador na cena global, reforçando o multilateralismo e ampliando seu papel na reconfiguração da economia mundial.

Duas sessões: China reforça imagem de fiadora da ordem global em meio ao caos gerado pelos EUA

Por Guilherme Paladino, de Pequim, para o 247 - Sob os holofotes do Grande Salão do Povo, a China deu início nesta terça-feira (4) à sessão anual do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), um dos eventos políticos mais importantes do país, no âmbito das 'Duas Sessões'. Com a presença de mais de 2.000 membros, incluindo empresários, acadêmicos, líderes étnicos e religiosos, o evento é o termômetro das prioridades chinesas para 2025, ano crucial que marca o fim do 14º Plano Quinquenal e a preparação para o próximo ciclo de desenvolvimento. O presidente da CCPPC, Wang Huning, abriu a sessão com um relatório que destacou os avanços do Comitê em 2024 e traçou as metas para o ano que vem. Entre os destaques, estão os esforços para ampliar a participação popular no processo político, integrar minorias étnicas e fortalecer a unidade nacional em um momento de tensões geopolíticas e desafios econômicos. De acordo com o relatório de Huning, em 2024, o Comitê da CCPPC realizou 85 sessões de consulta e deliberação, além de organizar 99 viagens de pesquisa e inspeção que cobriram 31 províncias, 263 cidades e 452 condados. Essas iniciativas permitiram que membros da Conferência coletassem informações diretamente das bases, ouvindo as demandas e preocupações da população. O relatório também destacou que, no ano passado, a CCPPC recebeu 6.019 propostas de seus membros, das quais 5.091 foram aceitas para processamento. A taxa de resposta foi de 99,9%, com mais de 1.800 membros recebendo respostas formais. Além disso, o Comitê recebeu 54.317 comunicações de diversos setores da sociedade, adotando 11.323 delas e compilando 1.728 boletins informativos.  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20250304140332_9e6bbb6e87f228f010e0a65cf65afa076806cfbffd9f3e9d64e5a3e4002bfc44.jpg" data-media-id="editor_0" data-image-id="20250304140332_9e6bbb6e87f228f010e0a65cf65afa076806cfbffd9f3e9d64e5a3e4002bfc44" data-rendition-name="original" width="791" height="882" loading="lazy" alt="Wang Huning, presidente do Comitê Nacional da CCPPC, apresentou um relatório de trabalho em nome do Comitê Permanente do Comitê Nacional da CCPPC."><figcaption>Wang Huning, presidente do Comitê Nacional da CCPPC, apresentou um relatório de trabalho em nome do Comitê Permanente do Comitê Nacional da CCPPC.(Photo: Xinhua/Liu Weibing)Xinhua/Liu Weibing</figcaption></figure>  A apresentação de tais dados visa ressaltar que as vozes dos cidadãos estão sendo ouvidas e consideradas no processo político chinês. Como destacou Huning, "a CCPPC tem um papel crucial em refletir os sentimentos do povo, abordar suas preocupações e entregar benefícios tangíveis". <h3>Integração das minorias étnicas e construção da comunidade nacional</h3> Outro ponto destacado no relatório foi o esforço para integrar as minorias étnicas ao conceito de cidadania integral na China. De acordo com Huning, a CCPPC tem trabalhado para fortalecer o senso de comunidade entre os 56 grupos étnicos do país, promovendo a unidade e a solidariedade como pilares da modernização chinesa. Em 2024, o Comitê organizou 20 inspeções temáticas para membros não filiados ao Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo representantes de minorias étnicas. Essas iniciativas buscaram garantir, de acordo com o Comitê, que as políticas públicas atendam às necessidades específicas dessas comunidades. Além disso, a CCPPC relatou ter atuado para fortalecer a comunicação entre o governo central e as regiões autônomas, garantindo que as minorias étnicas tenham voz ativa no processo de formulação de políticas. "As complexas circunstâncias e as tarefas formidáveis que enfrentamos tornam ainda mais importante permanecermos unidos como um só. Isso significa consolidar ainda mais a grande união do povo chinês de todos os grupos étnicos, forjando um forte senso de comunidade para a nação chinesa e promovendo a grande solidariedade entre todos os filhos e filhas da nação chinesa, tanto no país quanto no exterior", afirmou o presidente do Comitê. Reforçando a necessidade de evitar que tais compromissos fiquem apenas no campo do debate, Huning destacou que a CCPPC atuará para participar do processo deliberativo em 2025 e apresentará propostas e sugestões durante a formulação do 15º Plano Quinquenal. "Implementaremos efetivamente o plano de consulta de 2025 da CPPCC aprovado pelo Comitê Central do PCCh. A esse respeito, realizaremos consultas e deliberações aprofundadas, e trabalharemos para oferecer sugestões que sejam prospectivas, direcionadas e práticas. Ao fazer isso, facilitaremos melhor a tomada de decisões sólidas e a implementação eficaz de políticas por meio de consultas de alta qualidade e propostas perspicazes", concluiu. <h3>A CCPPC</h3> A Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) é o principal órgão consultivo da China, composto por representantes de diversos setores da sociedade, incluindo partidos políticos, grupos étnicos, empresários, acadêmicos, artistas e líderes religiosos. Criada oficialmente em 1949, a CCPPC não é um órgão legislativo, mas sim um fórum de consulta e deliberação que fornece recomendações e sugestões ao Partido Comunista Chinês (PCC) e ao governo.  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20250304140336_2a6fc2e6dc4ff6137c93d9c59e60b2b42d6952dd34d67f33ac41998c90e5036f.jpg" data-media-id="editor_1" data-image-id="20250304140336_2a6fc2e6dc4ff6137c93d9c59e60b2b42d6952dd34d67f33ac41998c90e5036f" data-rendition-name="original" width="720" height="480" loading="lazy" alt="Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), deu início à sua sessão anual nesta terça-feira em Beijing"><figcaption>Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), deu início à sua sessão anual nesta terça-feira em Beijing(Photo: Xinhua/Huang Jingwen)Xinhua/Huang Jingwen</figcaption></figure>  A CCPPC é parte fundamental do sistema político chinês, que combina elementos de democracia representativa e consultiva. Enquanto a Assembleia Popular Nacional (APN) é o principal órgão legislativo, responsável por aprovar leis e políticas, a CCPPC atua como um espaço plural para discussões e propostas, garantindo que diferentes vozes da sociedade sejam ouvidas. <h3>Quem compõe a CCPPC?</h3> A CCPPC é formada por membros de diversas origens e setores, incluindo: <ul> <li>Representantes dos partidos políticos (além do PCC, há oito partidos menores que atuam em cooperação com o governo);</li> <li>Líderes de grupos étnicos, garantindo a representação das 56 etnias reconhecidas na China;</li> <li>Empresários e representantes do setor privado;</li> <li>Acadêmicos, cientistas e especialistas em diversas áreas;</li> <li>Artistas, escritores e figuras públicas;</li> <li>Líderes religiosos de diferentes credos.</li> </ul>

Sessão anual do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) - Duas Sessões 2025

Duas Sessões: China quer consolidar integração de minorias étnicas e revigorar participação popular na política, diz relatório

247 – A primeira coletiva de imprensa das Duas Sessões, evento político anual mais importante da China, atraiu atenção global nesta segunda-feira (3). A conferência foi realizada pelo Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), o principal órgão consultivo do país, e contou com declarações do porta-voz Liu Jieyi, <a href="https://www.globaltimes.cn/page/202503/1329421.shtml">reportadas pelo Global Times</a>.
O evento, que antecede a sessão anual da CPPCC, foi amplamente coberto por veículos internacionais, incluindo Bloomberg, CNBC, Brasil 247, The Straits Times e Reuters, que destacaram o impacto das discussões chinesas na economia global.
<h3>China como protagonista econômico mundial</h3>
Durante a coletiva, Liu Jieyi reforçou que a economia chinesa mantém fundamentos sólidos, forte resiliência e grande potencial de crescimento, apesar das mudanças no ambiente interno e externo. Segundo ele, o país continuará a expandir sua abertura institucional, fortalecer reformas comerciais e aprimorar sua participação na Iniciativa do Cinturão e Rota, um dos pilares da estratégia econômica internacional da China.
A estabilidade econômica chinesa foi um dos principais pontos de atenção da mídia global. A Bloomberg enfatizou que as Duas Sessões são cruciais para definir tendências nos preços de commodities, dada a posição da China como maior consumidora de matérias-primas do mundo. A CNBC focou na possibilidade de novos estímulos para impulsionar a economia chinesa, enquanto o The Straits Times analisou as tensões comerciais entre China e Estados Unidos e o impacto das políticas de Pequim nesse cenário.
<h3>Propostas e debates da CPPCC</h3>
A sessão de 2025 da CPPCC, que se inicia nesta terça-feira (4) e se estende até 10 de março, incluirá reuniões plenárias e consultas em grupo. Entre os temas centrais, estarão a deliberação sobre o relatório de trabalho do Comitê Permanente da CPPCC e a análise de propostas enviadas por consultores políticos de todo o país.
Nos últimos 12 meses, a CPPCC conduziu 42 projetos de pesquisa sobre questões estratégicas, 85 consultas e mais de 5.000 propostas, segundo Liu. Essas ações incluem visitas a vilarejos, fábricas e comunidades para transformar sugestões da população em opções políticas que informam a tomada de decisão do governo.
A conferência deste ano contará ainda com a presença de enviados diplomáticos estrangeiros, que acompanharão as reuniões de abertura e encerramento, reforçando o papel da China como protagonista no cenário internacional.
<h3>Relações globais e desafios econômicos</h3>
O evento também foi acompanhado por jornalistas e especialistas estrangeiros, que destacaram o impacto da política chinesa no mundo. Afework Eyayu, jornalista etíope da Fana Media Corporation, expressou interesse na ampliação das relações entre China e África:
<blockquote>"Espero ouvir mais sobre a contribuição da China para o mundo no contexto atual do multilateralismo."</blockquote>
Já Wichai Kinchong Choi, vice-presidente sênior do Kasikorn Bank, da Tailândia, ressaltou a importância das relações entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), considerando a região um dos principais polos econômicos globais:
<blockquote>"A China tem muitos aliados históricos na ASEAN. Como consolidar e expandir esse mercado emergente será um ponto-chave da diplomacia e do comércio internacional chinês nos próximos anos."</blockquote>
<h3>Perspectivas e desafios para o crescimento</h3>
O economista Tian Yun destacou que a economia chinesa apresentou sinais de recuperação no último trimestre de 2024, impulsionada pelo crescimento das exportações e do setor de serviços. Ele também observou que a redução de tensões geopolíticas e o ciclo de cortes nas taxas de juros ao redor do mundo devem favorecer a economia chinesa em 2025.
A pesquisa mais recente do Financial News, veículo vinculado ao Banco Popular da China, indicou que os principais interesses da população nas Duas Sessões deste ano incluem metas de crescimento econômico, conclusão do 14º Plano Quinquenal (2021-2025) e incentivos à inteligência artificial e ao consumo interno.
Outro ponto de destaque será o apoio ao setor privado. Duas semanas antes do início das Duas Sessões, o governo chinês realizou um simpósio de alto nível sobre empresas privadas, sinalizando um compromisso com o fortalecimento desse segmento da economia. Wang Lizong, membro do Comitê Nacional da CPPCC, afirmou que medidas para estimular o setor privado devem ser uma das grandes pautas deste ano.
<blockquote>"Outros temas centrais incluem a abertura de mercado, reformas legais, segurança social diante do envelhecimento populacional e políticas ambientais."</blockquote>
As discussões das Duas Sessões deste ano servirão como um termômetro para as decisões econômicas e políticas da China nos próximos meses, influenciando desde mercados globais de commodities até estratégias de desenvolvimento industrial e inovação. Com grande atenção internacional voltada ao evento, Pequim reforça sua posição como uma peça-chave na economia global e no equilíbrio geopolítico do século XXI.

Primeira coletiva das Duas Sessões na China atrai atenção global

247 – À medida que a China se prepara para suas “duas sessões” anuais, o mundo volta sua atenção para Pequim. O evento, que define os rumos do país para o ano, não apenas traça estratégias econômicas e sociais, mas também reforça um modelo político que se consolidou como um dos mais eficazes do planeta: a democracia popular de processo integral. Um <a href="https://xhnewsapi.xinhuaxmt.com/share/news_pc?id=1055999261990912&amp;showType=3021&amp;utdId=afd76ab0b38b51112c2deba214fe4110&amp;version=4.0.7">editorial publicado pela agência Xinhua</a> destaca como esse sistema assegura estabilidade, previsibilidade e desenvolvimento, diferenciando-se das crises políticas recorrentes observadas em muitas democracias ocidentais.
A base dessa estrutura está nas reuniões do Congresso Nacional do Povo (CNP), o mais alto órgão legislativo da China, e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), principal órgão consultivo político do país. Juntos, esses mecanismos garantem uma participação democrática ampla e contínua, que vai além das eleições e permeia todas as esferas da governança. Diferente dos modelos ocidentais, onde mudanças bruscas de liderança podem provocar instabilidade e incerteza, o modelo chinês busca garantir um governo estável e eficiente.
<h3>Democracia que combina eleições e participação popular</h3>
Ao contrário das narrativas que frequentemente questionam o processo democrático chinês, o país conta com um sistema eleitoral robusto, livre da influência do poder econômico. Segundo o editorial da Xinhua, na última rodada eleitoral, encerrada em 2022, foram eleitos 2,62 milhões de deputados para congressos populares em níveis distrital e municipal, por meio do voto direto de mais de 1 bilhão de cidadãos. Trata-se de uma das maiores práticas democráticas do mundo, baseada no princípio do "um cidadão, um voto".
Além da democracia eleitoral, a China se destaca por um modelo inovador: a democracia consultiva. Essa forma de participação, exercida principalmente através da CCPPC, garante que representantes de partidos políticos, organizações populares, grupos étnicos e diversos setores sociais tenham voz ativa no processo de tomada de decisões. O objetivo é assegurar que as políticas públicas sejam formuladas com ampla representatividade e consenso social.
O modelo chinês de democracia não se limita às instâncias superiores do governo. Em vilarejos e comunidades, práticas como as “câmaras de conselho do pátio” permitem que cidadãos participem ativamente da resolução de problemas cotidianos, desde infraestrutura local até mediação de disputas. Esse envolvimento direto fortalece a noção de que o povo é, de fato, o mestre do país.
<h3>Resultados concretos e impacto no bem-estar da população</h3>
A democracia popular de processo integral da China não se resume a um conceito teórico — seus resultados são visíveis e mensuráveis. Graças a esse modelo de governança, o país erradicou a pobreza absoluta, manteve um dos crescimentos econômicos mais rápidos do mundo e assegurou estabilidade social de longo prazo.
Outro reflexo dessa governança eficaz está nos índices de satisfação da população. O relatório Ipsos Global Happiness 2023 revelou que 91% dos chineses se consideram muito ou razoavelmente felizes, colocando o país no topo do ranking entre 32 nações pesquisadas. Entre 2013 e 2023, o nível de felicidade da população chinesa aumentou 12 pontos percentuais, enquanto muitos países desenvolvidos enfrentaram quedas nesse indicador.
<h3>A democracia como um conceito plural</h3>
O editorial da Xinhua ressalta que a democracia não é um conceito único ou padronizado. Assim como não existem duas folhas idênticas, os sistemas políticos refletem as particularidades históricas e culturais de cada nação. "Nenhuma democracia pode ser considerada universalmente aplicável", destaca o texto, argumentando que cada país deve desenvolver um modelo adequado à sua realidade.
A experiência da China oferece uma perspectiva alternativa às democracias tradicionais. Enquanto muitos países enfrentam polarização extrema, impasses legislativos e instabilidade política, a democracia chinesa assegura governança eficaz, desenvolvimento sustentável e uma população satisfeita com sua trajetória nacional.
Com isso, o modelo de democracia popular de processo integral não apenas fortalece o próprio país, mas também serve como uma contribuição relevante para o debate global sobre o que significa, na prática, garantir a participação do povo no destino da nação.

Centro de imprensa das 'Duas Sessões' de 2025

Modelo chinês de democracia garante estabilidade e desenvolvimento

247 - As “Duas Sessões” da China, evento político que reúne a Assembleia Popular Nacional (APN) e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), definirão os rumos do país em 2025, segundo a agência Xinhua. Entre os temas centrais, estarão a inovação tecnológica, o desenvolvimento sustentável, as reformas econômicas e o fortalecimento da cooperação internacional.
A inovação científica e tecnológica será uma prioridade, com foco em inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia. A China busca consolidar sua posição de liderança nesses setores e impulsionar sua competitividade global. O desenvolvimento sustentável também terá espaço de destaque, com novas medidas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e ampliar o uso de energias renováveis, reforçando o compromisso do país com a neutralidade de carbono até 2060.
Na área econômica, a China deve avançar em reformas para atrair investimentos estrangeiros, estimular o consumo interno e aprimorar o ambiente de negócios. A melhoria do bem-estar social, por meio de investimentos em saúde, educação e previdência, também estará na pauta, com o objetivo de reduzir desigualdades regionais e elevar a qualidade de vida da população.
Além disso, a política externa chinesa será debatida, com ênfase na cooperação internacional e no fortalecimento de laços comerciais e diplomáticos. A participação da China em questões globais, como mudanças climáticas e segurança internacional, deve ser reafirmada.
As “Duas Sessões” de 2025 prometem consolidar estratégias para manter o crescimento econômico do país de forma equilibrada, reforçando a inovação e o desenvolvimento sustentável como pilares do planejamento nacional.

As Duas Sessões marcam o maior acontecimento político anual da China 

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