Em Natal, praia de Ponta Negra tem faixa de areia alagada meses após obra de engorda
Projeto de engorda da orla foi liberado por decisão judicial em 2024 e desde então enfrenta recorrentes alagamentos, mesmo com previsão de drenagem
247 - A praia de Ponta Negra, principal cartão-postal de Natal (RN), voltou a registrar alagamentos em sua faixa de areia após chuvas intensas nesta quarta-feira (19). Segundo boletim da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), entre 7h de terça e 7h de quarta-feira, choveu 81,4 milímetros na capital potiguar. As imagens compartilhadas por moradores e turistas nas redes sociais mostram parte da areia tomada por espelhos d’água, especialmente nas proximidades do Morro do Careca.
De acordo com reportagem do UOL, os alagamentos ocorrem menos de seis meses após a conclusão da obra de engorda da orla, executada entre setembro de 2024 e janeiro de 2025, ao custo de R$ 75 milhões. A intervenção, que visava conter a erosão costeira e recuperar a faixa de areia, foi iniciada após forte pressão política e judicial, com o licenciamento ambiental sendo acelerado por decisão da Justiça.
À época, o secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, Thiago Mesquita, explicou que o acúmulo de água observado ainda durante as obras se deu por uma falha na conexão entre dois pontos do sistema de drenagem. “Devido à incapacidade do ponto 8 de absorver esta água de chuva, em relação ao ponto 9, acabou aflorando esse material da engorda”, afirmou. Ele minimizou o problema, classificando-o como de “simples” resolução.
No entanto, mesmo após a conclusão do projeto, novos episódios de alagamento foram registrados. Em abril, Mesquita voltou a se pronunciar e negou qualquer erro de execução. “Não há nenhuma falha ou equívoco”, disse ao UOL. Segundo ele, o projeto previa a presença de lâminas d’água em caso de chuvas intensas. “Não são alagamentos”, afirmou.
A obra foi viabilizada após disputa entre os órgãos ambientais sobre a responsabilidade pelo licenciamento. Inicialmente sob análise do Ibama, o processo foi transferido para o Idema (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN) por meio de um acordo de cooperação técnica. A liberação da licença ocorreu em julho de 2024, por determinação da Justiça, após protestos e pressão política liderada pelo então prefeito Álvaro Dias (Republicanos). O termo de concessão ressalta que a licença foi dada “com base na sentença proferida” pela 3ª Vara da Fazenda Pública de Natal, e não pelo cumprimento dos estudos ambientais exigidos.
O MPF (Ministério Público Federal) solicitou uma vistoria técnica ao Ibama, que foi realizada nos dias 16 e 17 de junho de 2025. A fiscalização constatou que o sistema de drenagem da obra ainda não está completamente finalizado. O Ibama agora aguarda documentos complementares da Prefeitura de Natal para definir os próximos passos. O processo segue em análise. Enquanto isso, a orla de Ponta Negra segue vulnerável às chuvas, e os problemas estruturais da intervenção ainda geram questionamentos sobre a efetividade e o rigor técnico da obra.
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