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A nova geração universitária: jovens de baixa renda ocupam as salas e redes do ensino superior brasileiro

A presença das classes mais pobres no ensino superior é, antes de tudo, um retrato de resistência e mudança estrutural.

Por: Polo

Nas últimas décadas, a universidade brasileira deixou de ser um espaço quase exclusivo das elites para se tornar, aos poucos, um ambiente mais diverso, inclusivo e conectado à realidade do país. A presença crescente de estudantes de baixa renda em cursos de ensino superior — tanto presenciais quanto a distância — vem moldando uma nova geração universitária, marcada por trajetórias desafiadoras, mas também por sonhos concretos de ascensão profissional e transformação social.

Uma pesquisa recente realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) mostrou que, em 2023, 56% dos universitários matriculados em instituições privadas pertenciam às classes C, D e E. Isso reflete uma tendência cada vez mais consolidada: o ensino superior se tornou uma das principais ferramentas de mobilidade social no Brasil.

Essa mudança de perfil é visível em todos os cantos do país. Em muitas regiões, jovens são os primeiros de suas famílias a ingressar em uma faculdade. Para isso, enfrentam rotinas exaustivas, conciliando trabalho, transporte público e responsabilidades familiares com os estudos. Ainda assim, a taxa de permanência tem aumentado, impulsionada por políticas públicas e inovações no setor educacional.

Programas como o Prouni e o Fies, já consolidados, foram complementados por incentivos estaduais, bolsas institucionais e iniciativas sociais. Em São Paulo, por exemplo, o programa Bolsa do Povo Educação disponibilizou auxílio financeiro para estudantes em vulnerabilidade. No Ceará, o Avance — uma bolsa de permanência estudantil — já beneficiou milhares de jovens recém-egressos do ensino médio.

Mas não são apenas os incentivos públicos que fazem a diferença. O crescimento da educação a distância (EAD) abriu portas para estudantes que, até pouco tempo atrás, estavam à margem do sistema educacional. Segundo a consultoria Educa Insights, a modalidade EAD teve um crescimento acumulado de 474% em matrículas desde 2011, contra uma redução de 14% na modalidade presencial. Isso representa mais de 4,5 milhões de estudantes matriculados em cursos online, muitos deles em pequenas cidades ou em áreas de difícil acesso.

Apesar das críticas sobre a qualidade de alguns cursos EAD, há avanços importantes na padronização e avaliação. O Ministério da Educação vem implementando critérios mais rigorosos de autorização e monitoramento, e cada vez mais universidades investem em plataformas de ensino robustas, tutoria qualificada e metodologias ativas de aprendizagem.

Os cursos mais procurados por estudantes de baixa renda variam conforme as oportunidades locais. Em estados do Norte e Nordeste, Pedagogia, Serviço Social e Enfermagem lideram as matrículas, refletindo a busca por diploma superior em profissões de impacto social. Já nas regiões Sudeste e Sul, cresce o interesse por áreas como Tecnologia da Informação, Marketing Digital e Logística, que oferecem rápido ingresso no mercado de trabalho e possibilidade de trabalho remoto.

Outro fenômeno em ascensão é o empreendedorismo universitário. Muitos estudantes conciliam a formação com pequenos negócios ou atividades informais, como vendas online e prestação de serviços. O ambiente universitário, mesmo no modelo remoto, tem funcionado como um espaço de networking e qualificação, ampliando horizontes e fortalecendo projetos de vida.

O acesso ao diploma, porém, não resolve todos os problemas. Ainda há desafios significativos em relação à qualidade da formação, empregabilidade e reconhecimento no mercado. A informalidade, a sobrecarga de trabalho e a desigualdade de oportunidades persistem, mesmo entre os diplomados. Ainda assim, os dados mostram que a escolaridade continua sendo um dos fatores mais determinantes para o aumento de renda e estabilidade profissional no Brasil.

A presença das classes mais pobres no ensino superior é, antes de tudo, um retrato de resistência e mudança estrutural. Cada nova matrícula representa uma aposta no futuro, uma ruptura com o ciclo da exclusão educacional. Ao valorizar essa jornada, o país investe não apenas em diplomas, mas em cidadania, desenvolvimento e igualdade.

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