Leão XIV liderou todas as votações do conclave e consolidou apoio com rapidez

247 - Desde a primeira rodada de votações, o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost já aparecia como favorito para suceder o trono de Pedro. Segundo revelou o jornal argentino La Nación, Prevost — agora Papa Leão XIV — liderou todas as parciais do conclave e consolidou uma maioria expressiva já na quarta votação, quando recebeu 89 votos e foi eleito. A rapidez com que os cardeais chegaram a um consenso surpreendeu até os mais experientes.

Prevost obteve o maior número de votos já na tarde da quarta-feira, primeiro dia do conclave. O apoio ao seu nome teria se ampliado ao longo da noite, durante conversas informais realizadas no isolamento da Casa Santa Marta, onde os cardeais estavam confinados. No dia seguinte, após duas votações pela manhã e o almoço, a primeira votação da tarde selou sua escolha como novo pontífice.

O cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark e amigo pessoal de Prevost há três décadas, contou em coletiva no Colégio Norte-Americano, em Roma, que o viu serenar assim que aceitou a missão. “Quando ele aceitou [a designação], foi como se tivesse sido feita sob medida para ele. Toda a sua ansiedade foi resolvida”, afirmou. Ele ainda revelou que, após a eleição, disse ao novo Papa: “agradeci a ele por aceitar, porque é uma responsabilidade incrível”.

A escolha de um papa nascido nos Estados Unidos — ainda que também cidadão peruano e chamado de "cidadão do mundo" por seus pares — quebrou paradigmas e uniu diferentes correntes da Igreja. Entre os 133 cardeais eleitores havia tanto progressistas quanto conservadores. E, apesar das diferenças culturais e linguísticas, a decisão foi rápida. “Em menos de 24 horas, conseguimos encontrar a unidade, e espero que isso seja um sinal para o mundo”, disse o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago.

Cupich descreveu o processo como uma “experiência espiritual”. “Quando começamos a votar, as coisas começaram a se acalmar e nos colocaram no caminho da unidade”, disse. Seu colega, Wilton Gregory, revelou que, ao prestar obediência ao novo pontífice, disse: “De um South Sider para outro, prometo a você meu respeito, minha fidelidade e meu amor”, em referência ao bairro de Chicago onde ambos nasceram.

Embora Prevost não tenha sido destaque nas congregações gerais — as reuniões que antecedem o conclave — sua atuação reservada foi decisiva. “Não é como se ele tivesse se levantado e feito um discurso extremamente convincente”, admitiu Gregory. Já o cardeal McElroy complementou: “Prevost falou durante as congregações gerais, mas o importante não foi a substância, mas a maneira como ele disse isso”.

O cardeal Christophe Pierre, núncio apostólico nos Estados Unidos, também esteve na coletiva e resumiu o ambiente dentro da Capela Sistina: “O que começou politicamente terminou misticamente”. Para ele, foi a ação do Espírito Santo que guiou os cardeais rumo à escolha de Leão XIV. “O Espírito Santo teve que nos ajudar. Ele não ficou parado no ar, mas nos ajudou a agir.”

Outro elemento simbólico desse processo foi a homilia do frade capuchinho Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, logo após o fechamento das portas do conclave. O sermão durou cerca de 40 minutos e, segundo Tobin, teve impacto determinante. “Ele nos disse: ‘Sede vós mesmos’”, recordou o cardeal.

A eleição de Prevost, um papa americano com raízes na América Latina e perfil conciliador, foi recebida com entusiasmo por cardeais progressistas e com cautela pelos mais conservadores. Mas o consenso precoce em torno de seu nome indica que sua liderança, ao menos entre os pares, já começou com força.