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Etiópia e Eritreia estão à beira de uma possível guerra

Aumenta a instabilidade na região de Tigray, no norte da Etiópia, onde uma guerra civil entre 2020 e 2022 resultou em centenas de milhares de mortes

Combatentes contra a TPLF em Tigray - 9 de novembro de 2020 (Foto: REUTERS/Tiksa Negeri)
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(Reuters) – Antigos rivais, Etiópia e Eritreia, podem estar caminhando para uma guerra, alertaram autoridades do norte da Etiópia e especialistas regionais.

Um conflito representaria um golpe fatal na histórica reaproximação pela qual o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2019, além de arriscar criar outro desastre humanitário na conturbada região do Chifre da África.

POR QUE SURGIRAM TEMORES DE GUERRA?

Os alertas surgem devido à nova instabilidade na região de Tigray, no norte da Etiópia, onde uma guerra civil entre 2020 e 2022 resultou em centenas de milhares de mortes.

Durante a guerra, forças eritreias cruzaram a fronteira para Tigray para lutar ao lado do exército federal da Etiópia contra rebeldes liderados pelo partido governante da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF).

No entanto, o acordo de paz assinado em novembro de 2022 criou uma divisão entre Etiópia e Eritreia, que não participou das negociações. A TPLF, que comanda a administração interina pós-guerra de Tigray com o aval do governo federal, desde então se dividiu.

Uma facção dissidente tomou a cidade de Adigrat na última semana. Eles acusam os líderes atuais de trair os interesses de Tigray, enquanto a administração interina acusa os dissidentes de colaborar com a Eritreia.

Cada lado nega as acusações do outro.

Especialistas dizem que o impasse pode levar a Etiópia e Eritreia a apoiar facções rivais em Tigray e, por fim, entrarem em conflito direto.

A Eritreia ordenou uma mobilização militar nacional em meados de fevereiro, segundo um grupo de direitos humanos, e a Etiópia enviou tropas para a fronteira com a Eritreia, disseram fontes diplomáticas e autoridades de Tigray à Reuters.

Porta-vozes dos governos da Eritreia e da Etiópia não responderam a pedidos de comentário.

QUAL É A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES ENTRE ETIÓPIA E ERITREIA?

A antiga colônia italiana da Eritreia foi anexada pela Etiópia em 1962. Forças rebeldes lideradas por Isaias Afwerki travaram uma luta armada de três décadas que garantiu a independência da Eritreia em 1993.

A Eritreia independente, ainda liderada por Isaias, inicialmente desfrutou de relações calorosas com a Etiópia, onde rebeldes liderados por Tigray derrubaram o governante militar de longa data Mengistu Haile Mariam em 1991, com o apoio dos rebeldes de Isaias.

No entanto, confrontos eclodiram em 1998 ao longo da fronteira pela posse da cidade disputada de Badme, levando a uma guerra de dois anos que matou cerca de 80 mil pessoas.

Os dois países permaneceram formalmente em guerra – com todos os links de transporte cortados e serviços postais e telefônicos interrompidos – até 2018, quando o presidente Isaias e o recém-nomeado primeiro-ministro etíope, Abiy, concordaram em normalizar as relações diplomáticas e reconstruir os laços econômicos.

O acordo levou à reunião de famílias que não podiam se comunicar há duas décadas, voos diretos entre as capitais Adis Abeba e Asmara, e promessas de desenvolver conjuntamente os portos da Eritreia.

POR QUE AS RELAÇÕES PIORARAM?

As relações pioraram no final da guerra em Tigray, quando a Etiópia assinou o Acordo de Pretória com a TPLF para encerrar os combates.

Analistas dizem que a Eritreia ficou insatisfeita por ter sido excluída do acordo, que permitiu à TPLF, com quem mantém uma profunda hostilidade, governar Tigray.

Algumas tropas eritreias permaneceram em solo etíope desde o fim do conflito, segundo os Estados Unidos, apesar do acordo prever a retirada de todas as forças externas. Asmara não comentou diretamente a acusação.

Autoridades eritreias reagiram com irritação às declarações públicas repetidas de Abiy desde 2023 de que a Etiópia, sem litoral, tem direito a acesso ao mar – comentários que muitos na Eritreia, que fica no Mar Vermelho, veem como uma ameaça implícita de ação militar.

Em setembro passado, a Ethiopian Airlines suspendeu voos para a Eritreia – que eram um símbolo poderoso da reaproximação entre os países – após o congelamento de sua conta bancária no país.

No mês seguinte, a Eritreia assinou um pacto de segurança com Egito e Somália, amplamente visto como uma medida para conter as ambições expansionistas da Etiópia.

Reportagem de Aaron Ross; Edição de Ammu Kannampilly e Joe Bavier

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