China defende sistema financeiro com múltiplas moedas e critica hegemonia do dólar
Presidente do banco central chinês afirma que dependência do dólar ameaça a estabilidade global e propõe fortalecimento do yuan com apoio tecnológico
247 - O presidente do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, defendeu nesta quarta-feira (12), durante o Fórum Lujiazui, em Xangai, a criação de um sistema financeiro internacional baseado em múltiplas moedas, em vez da predominância do dólar. A proposta, apresentada no principal evento anual de formulação de políticas financeiras do país, integra os esforços do governo chinês para ampliar o uso do yuan no comércio global e reduzir a influência dos Estados Unidos nas finanças internacionais. As informações são do The New York Times.
Sem mencionar diretamente o dólar, Pan fez críticas incisivas aos riscos que a centralidade de uma única moeda pode representar para a estabilidade econômica mundial. “Problemas fiscais e regulatórios no país emissor da moeda dominante podem transbordar para o mundo na forma de riscos financeiros e evoluir até para uma crise financeira internacional”, alertou, em uma referência indireta à situação fiscal dos EUA.
O discurso de Pan ocorre em um contexto em que a moeda americana tem apresentado desvalorização, com queda de 11% em relação ao euro neste ano. Embora isso possa favorecer as exportações dos EUA, também pressiona os custos da dívida pública americana e amplia os desequilíbrios comerciais globais. Paralelamente, a China mantém o yuan atrelado ao dólar, o que tem tornado suas exportações ainda mais competitivas, especialmente na Europa.
Pan também criticou o uso “injusto” da moeda dominante em disputas geopolíticas. Para ele, a concentração do poder financeiro em um único país favorece sua capacidade de aplicar sanções unilaterais. A China tem se posicionado contra esse tipo de prática, especialmente diante das restrições comerciais impostas pelos EUA a países como Rússia, Irã e Coreia do Norte — aliados estratégicos de Pequim. A China, por exemplo, tem recorrido a pequenos bancos e empresas locais para realizar transações com esses países fora da órbita do dólar.
O avanço do yuan no comércio internacional, porém, enfrenta obstáculos. Apesar de sua crescente adoção em alguns mercados, a moeda chinesa ainda ocupa um papel secundário nas transações globais. A principal dificuldade reside no rígido controle estatal sobre os fluxos financeiros, o que dificulta o uso da moeda como reserva de valor fora da China. Além disso, o enorme superávit comercial chinês faz com que o yuan em circulação no exterior acabe retornando ao país em forma de pagamentos de dívidas ou novas compras.
Analistas apontam que o objetivo da China não é tornar o yuan uma moeda global nos moldes ocidentais, mas promover sua regionalização. “A China não está globalizando o yuan no sentido ocidental, mas regionalizando-o — inserindo a moeda no comércio, nos pagamentos e nas relações entre Estados, especialmente no Sul Global”, afirmou Dan Wang, economista do Eurasia Group em Cingapura.
Durante o mesmo fórum, o líder do Partido Comunista em Xangai e membro do Politburo, Chen Jining, ressaltou a importância do setor financeiro chinês no apoio à inovação tecnológica. O governo tem ampliado o crédito a indústrias estratégicas, como a de veículos elétricos e painéis solares, enquanto o mercado imobiliário, outrora motor do crescimento, sofre os efeitos de uma bolha estourada. A queda de até 50% nos preços de imóveis comprometeu as finanças da classe média urbana, que havia investido pesadamente no setor.
Apesar desse cenário, dados recentes do Escritório Nacional de Estatísticas da China apontam um modesto sinal de recuperação no consumo. As vendas no varejo cresceram 6,4% em maio em relação ao mesmo período do ano anterior, puxadas por produtos que passaram a contar com subsídios governamentais.
No encerramento de seu discurso, Pan também defendeu o uso de tecnologias emergentes, como o yuan digital, nos pagamentos transfronteiriços. Para ele, essas ferramentas podem reduzir a dependência de procedimentos antigos e ampliar a capacidade da China de operar fora do sistema dolarizado, consolidando uma nova arquitetura financeira global.
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