Brasileiro traficado em Mianmar era forçado a se passar por modelo chinês para aplicar golpes
"Fui forçado a criar um perfil falso de um modelo chinês para atrair vítimas, principalmente brasileiras, por meio do Instagram e WhatsApp", relatou
247 - O brasileiro Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, passou meses sob o domínio de uma máfia chinesa em Mianmar, no Sudeste Asiático, onde foi obrigado a se passar por um modelo chinês para aplicar golpes financeiros. Em entrevista ao O Globo, Phelipe detalhou os tormentos vividos durante o cativeiro, incluindo torturas físicas e psicológicas. Ele e outro brasileiro, Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, foram libertados com a ajuda da ONG Exodus Road Brasil, que atua no resgate de vítimas de tráfico humano na região.
Phelipe contou que, ao chegar ao local onde era mantido, foi forçado a criar um perfil falso de um modelo chinês para atrair vítimas, principalmente brasileiras, por meio do Instagram e WhatsApp. “Eles falaram que eu ficaria quatro dias escrevendo o roteiro do modelo que iria usar para aplicar golpes nas pessoas. Todo dia eles torturavam pessoas. Colocavam música chinesa muito alta e levavam as vítimas para uma sala do RH, onde eram espancadas. Eu tinha meta para bater. A primeira foi de US 5mil, e antes da fuga estava em U$ 10 mil, relatou.
O brasileiro foi atraído por uma falsa proposta de emprego, inicialmente oferecida como um salário de R$ 2 mil. No entanto, ao chegar a Mianmar, descobriu que havia caído em uma armadilha de tráfico humano. Ele foi obrigado a assinar um contrato que o vinculava a comissões baseadas nos golpes aplicados, sem salário fixo. Em três ocasiões em que não atingiu as metas, Phelipe foi punido com agachamentos em uma plataforma com pregos. “Recebi três punições. A primeira foi fazer 100 agachamentos numa espécie de plataforma que tinha vários tipos de pregos. Depois, tive que fazer 300 agachamentos e, na terceira, 500”, contou.
Esquema de aliciamento e tortura
Luckas Viana dos Santos, outro brasileiro resgatado, também foi vítima do mesmo esquema. Ele foi contatado pelo Telegram com uma proposta de trabalho como intérprete na Tailândia, com salário de R$ 8 mil e moradia. No entanto, ao chegar ao local, foi levado para Mianmar, onde teve seu passaporte apreendido e foi submetido a trabalhos forçados.
De acordo com Cleide Viana, mãe de Luckas, ele passou cinco meses preso, sendo obrigado a participar de golpes virtuais, como fraudes com criptomoedas e “golpes do amor”, nos quais os criminosos se passavam por celebridades para extorquir dinheiro das vítimas. “Os prisioneiros são torturados com choques, obrigados a segurar um galão de 30 litros de água por horas. Muitos têm alimentação restrita e trabalham de 18 a 20 horas por dia”, relatou Cíntia Meirelles, diretora da ONG Exodus Road Brasil.
Fuga e repatriação
Phelipe e Luckas conseguiram fugir às 2h30 de um domingo, junto com 85 pessoas de diferentes nacionalidades, após um acordo da ONG com o Exército Budista Democrático Karen (DKBA), um grupo armado que atua na região. A lista de reféns incluía 373 imigrantes, mas apenas uma parte foi libertada.
Mianmar vive uma guerra civil desde 2021, o que facilitou a instalação de grupos criminosos internacionais no país. Dados do Ministério dos Direitos Humanos mostram que o Brasil registrou 126 denúncias de tráfico internacional de pessoas em 2023. O Ministério das Relações Exteriores emitiu um alerta em janeiro, recomendando que brasileiros evitem viagens a Mianmar, especialmente para regiões de conflito.
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