Ataque israelense destrói usina de conversão de urânio em Isfahan e paralisa etapa vital do programa nuclear iraniano, diz AIEA
Segundo agência da ONU, bombardeio compromete única unidade do Irã capaz de alimentar centrífugas com material convertido para enriquecimento nuclear
247 - Um dos principais alvos da campanha militar israelense contra o Irã foi severamente danificado, segundo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), vinculado à ONU.
De acordo com a AIEA, os bombardeios israelenses causaram "danos críticos" à unidade de Isfahan, responsável por transformar o urânio bruto em hexafluoreto de urânio — composto utilizado nas centrífugas que enriquecem o elemento, seja para fins energéticos ou armamentistas. A destruição dessa estrutura compromete diretamente a continuidade do ciclo de combustível nuclear iraniano.
“Se você interrompe essa parte do processo, o ciclo de combustível simplesmente deixa de funcionar”, explicou Robert Kelley, engenheiro nuclear norte-americano que chefiou inspeções da AIEA no Iraque e na Líbia. “A parte inicial do programa deles morre”, afirmou.
Segundo Kelley, a conversão de urânio envolve processos químicos altamente corrosivos que requerem equipamentos muito especializados. Caso o Irã não possua aparelhos de reposição, a reconstrução da estrutura poderá levar um tempo significativo.
Impacto estratégico e resposta iraniana
A operação em Isfahan é considerada um golpe de alto impacto contra o programa nuclear iraniano, já que é a única instalação no país com capacidade de conversão do minério. Com a paralisação desse processo, a produção de novo material enriquecido fica inviabilizada, embora o Irã ainda possua estoques consideráveis de urânio enriquecido.
A ofensiva israelense faz parte de uma campanha militar mais ampla. O diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, informou ao Conselho de Segurança da ONU que, embora Israel tenha destruído estruturas na superfície do complexo nuclear de Natanz — outro local estratégico —, as instalações subterrâneas, onde ocorre o enriquecimento propriamente dito, não foram atingidas até o momento.
A resposta de Teerã foi imediata: centenas de mísseis balísticos e drones foram lançados contra cidades israelenses, em uma demonstração de retaliação militar que acirra ainda mais a tensão regional.
Preocupações internacionais
A destruição de instalações nucleares, aliada à morte de nove cientistas considerados fundamentais para o desenvolvimento do programa atômico iraniano, representa, para analistas ocidentais, um possível retrocesso técnico considerável para Teerã. No entanto, especialistas advertem que a ofensiva não deve ser interpretada como o fim do programa nuclear do país.
“Ainda não há uma avaliação completa”, ponderou Suzanne Maloney, vice-presidente do think tank Brookings Institution, com sede em Washington. Para ela, o impacto combinado dos ataques e da eliminação de quadros técnicos torna “muito difícil para o Irã reconstruir o programa no nível anterior”.
Kelsey Davenport, diretora de política de não proliferação da Arms Control Association, alertou para as implicações da destruição. Segundo ela, a falta de acesso dos inspetores da ONU pode comprometer o monitoramento internacional do programa e abrir espaço para movimentações clandestinas.
“Há um risco real de que o Irã desvie urânio enriquecido em níveis próximos aos de armamento para locais secretos”, afirmou Davenport. “E, devido aos danos, a AIEA pode não conseguir contabilizar todo o material nuclear iraniano.”
Robert Kelley, o engenheiro da AIEA, acrescenta que os cerca de 400 quilos de urânio altamente enriquecido já estocados pelo Irã poderiam ser transportados em apenas três ou quatro cilindros, de fácil ocultação. Essa possibilidade se torna ainda mais preocupante diante das ameaças recentes do governo iraniano de abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e expulsar os inspetores internacionais.
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