Sorvete de mandioca criado por jovem quilombola conquista mercado e inspira inovação no setor
De Tururu ao Brasil, Joélho Caetano transformou a cultura alimentar de sua comunidade em negócio e mostra que inovação pode andar com tradição
247 - Há um ano, o jovem quilombola Joélho Caetano, do interior do Ceará, vem celebrando o sucesso de um produto que une tradição e ousadia: um sorvete de mandioca inspirado na cultura alimentar de sua comunidade. O resultado surgiu após oito meses de estudos e testes realizados na Escola de Gastronomia Social do Ceará, onde ele pesquisou maneiras de transformar ingredientes locais em novas experiências de sabor. A história foi revelada pelo portal do Sebrae Nacional.
“Eu não tinha ideia da proporção que isso iria chegar. O sorvete fez muito sucesso por ser algo novo, de qualidade e sabor, que carrega toda uma história por trás”, conta Joélho, emocionado ao recordar os primeiros passos da criação.
Hoje, ao lado da mãe, ele administra a sorveteria Caetanos, em Tururu, a 109 km de Fortaleza. A inspiração surgiu ainda na adolescência, aos 15 anos, quando visitou uma sorveteria na capital cearense. “Queria levar aquela experiência para minha comunidade. Minha mãe, pequena agricultora, achou que aquilo era loucura”, relembra.
Com poucos recursos, os dois começaram a testar receitas caseiras encontradas na internet. Mas logo Joélho percebeu que queria ir além: era preciso valorizar a identidade quilombola, resgatando sabores tradicionais e criando oportunidades de geração de renda local. Formado em gastronomia e com curso na Escola do Sorvete, em São Paulo, ele viu o negócio ganhar fôlego ao se aproximar do Sebrae. “Eu pensava que o Sebrae era para grandes empresas. Hoje é um parceiro que posso contar. Essa parte de gestão e empreendedorismo, eu aprendi com apoio do Sebrae. Fiz diversos cursos”, afirma.
Atualmente, a sorveteria oferece opções que o jovem chama de “diferentonas”, feitas com ingredientes naturais como óleo de coco e rapadura. Uma das criações que mais se destaca é o sorvete vegano de mandioca, elaborado com leite de castanha de caju. “Essa ideia surgiu depois que uma mãe me confidenciou que o filho não poderia consumir nada com leite de origem animal. Ela gostava muito de sorvete, mas era difícil encontrar algum que a criança pudesse tomar”, explica.
De acordo com Jane Blandina, analista de Competitividade do Sebrae Nacional, tendências como a busca por opções mais saudáveis, funcionais e inclusivas ampliam o espaço para negócios como o de Joélho. “Investir em opções fit, zero açúcar, com adição de whey protein e valorizar insumos regionais atendem a demanda desses consumidores que buscam saúde sem abrir mão do prazer. Também não podemos esquecer do público com restrições alimentares”, observa.
Sustentabilidade aliada à inovação
O movimento de inovação no setor não se limita ao Nordeste. No outro extremo do país, em Foz do Iguaçu (PR), a Oficina do Sorvete acumula mais de três décadas de atuação, valorizando frutas nativas produzidas por agricultores locais em sistemas de agrofloresta.
“Sempre trabalhamos para que o nosso sorvete fosse o mais saudável possível. Priorizamos frutas da estação que possuem qualidade nutricional muito maior e respeitamos o ciclo da natureza”, destaca a empreendedora Cristina Muggiat.
A proposta rendeu à empresa o Prêmio Nacional de Inovação 2022, concedido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Sebrae. Um dos carros-chefes é a linha Sabores do Iguaçu, elaborada com frutas da Mata Atlântica. “Oitenta por cento do sorvete é pura fruta”, afirma Cristina.
Para ela, a chave está em inovar continuamente. “Há aproximadamente 15 anos criamos um sorvete para bebês com zero açúcar, mas foi um fiasco. Acredito que naquela época o mercado não estava maduro, mas continuamos pensando sempre à frente quando se trata de saudabilidade do produto”, diz. Agora, a empresa se prepara para lançar uma linha de sorvetes com whey protein.
“Temos uma gestão mais horizontalizada, em pequena escala. Tudo acontece mais rápido. Todo dia estamos nos reinventando”, completa Cristina, que também participou de programas como o Empretec e o Brasil Mais, em parceria com o Sebrae.
Para a analista Jane Blandina, a inovação é o motor do crescimento. “Existem várias formas de inovar dentro da indústria do sorvete: pode ser com uso de novas tecnologias e equipamentos que permitam texturas mais leves, combinações nutricionais ou menor uso de aditivos artificiais. É muito importante participar de feiras, oferecer degustações em academias, estúdios de Yoga, eventos esportivos, ou seja, oportunizar experiências para o seu consumidor”, recomenda.