“Tecnologia é o atalho para uma transição energética mais justa e acessível” diz especialista
Para Hudson Mendonça, é preciso conectar a cadeia produtiva, estimular o investimento em tecnologia e garantir políticas de longo prazo para o Brasil
Beatriz Bevilaqua, 247 - Em meio a crises geopolíticas e à emergência climática, o Brasil se destaca como um dos países mais bem posicionados para liderar a transição energética global. Essa é a análise de Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit e vice-presidente de Energia e Sustentabilidade da MIT Technology Review Brasil.
Mendonça construiu uma trajetória marcada pela interseção entre inovação, energia e sustentabilidade. “Desde a minha monografia, estudo inovação. Pela vocação do Brasil e do Rio de Janeiro, não havia como ficar fora da transição energética. Nossa matriz elétrica é 90% limpa, e a energética geral, 50%, o que é um sonho de consumo para a maioria dos países”, afirma.
A energia, diz ele, está no centro das soluções para conter o colapso climático. “Cerca de 73% das emissões de gases de efeito estufa no mundo vêm do uso e da produção de energia. É impossível discutir mudanças climáticas sem discutir energia. E para mudar esse modelo, precisamos de inovação — porque é ela que acelera a transformação.”
É esse o princípio que norteia o Energy Summit, evento que Hudson lidera e que se tornou referência na América Latina ao reunir academia, governos, setor privado e startups em torno das grandes tendências da transição energética. “A pergunta estruturante que guia o evento é: quais os caminhos mais promissores para o futuro da energia? A partir disso, elaboramos os 10 Megatrends — tendências-chave que cruzam quatro eixos: descarbonização, descentralização, digitalização e democratização do acesso”, explicou.
Para ele, é esse último eixo — democratização — que precisa estar no centro da discussão. “A tecnologia é o atalho para uma transição energética mais justa e acessível. Veja o caso do painel solar: em dez anos, ficou mais barato instalar energia solar do que pagar a conta de luz. Isso não dependeu de campanha, nem de consciência ambiental. Simplesmente ficou mais eficiente.”
Eficiência, aliás, é a chave. “A lâmpada LED não substituiu a incandescente porque o consumidor foi educado. Ela substituiu porque dura mais e consome menos. Isso é sustentabilidade real: quando o melhor produto para o bolso também é o melhor para o planeta.”
Hudson cita o exemplo da Commonwealth Fusion Systems, startup de fusão nuclear apoiada pelo MIT, que acaba de receber um aporte de US$ 2 bilhões. “Estamos falando de reproduzir, em escala comercial, o processo que ocorre no núcleo do Sol. É uma tecnologia disruptiva que pode fornecer energia limpa e praticamente infinita. Se der certo, muda tudo.”
Mas enquanto isso ainda é futuro, o presente exige articulação estratégica — e o Brasil, segundo ele, tem todos os recursos necessários. “Temos sol, vento, biomassa, hidrelétricas, petróleo, gás e até reservas de urânio. Podemos fazer todas as escolhas. Só precisamos conectar a cadeia produtiva, estimular o investimento em tecnologia e garantir políticas de longo prazo.”
O PATEM — Programa de Aceleração da Transição Energética, lançado em 2025 pelo governo federal, é visto como um avanço. “É um programa que não inaugura a transição, mas organiza. O Brasil já é um dos protagonistas, mas precisa de articulação.”
Na disputa global pela liderança energética, Mendonça destaca o avanço da China como exemplo de estratégia nacional bem-sucedida. “Hoje, a China forma mais engenheiros por ano que os Estados Unidos e investe pesado em tecnologias limpas. Eles lideram em mobilidade elétrica, baterias, painéis solares, e estão cada vez mais dominando as cadeias globais da nova energia. Essa é a nova disputa geopolítica: quem dominar a cadeia energética terá soberania real no século XXI.”
Nesse cenário, a COP30, que acontecerá em Belém (PA) em 2025, será um marco simbólico e político importante. “A COP é um espaço de consenso, e o Brasil tem autoridade moral para liderar. Mas é preciso ir além da retórica. Por isso o Energy Summit, que acontece antes da COP, vai apresentar tecnologias que podem reduzir emissões em 12 meses e outras que moldarão os próximos 10 anos. É disso que precisamos: ação concreta.”
Hudson faz uma analogia que resume o espírito da transição: “Estamos vivendo uma revolução comparável à invenção da internet. A energia será o eixo da transformação das próximas décadas. E o Brasil, se fizer as escolhas certas, pode ser o centro dessa revolução.” Assista a entrevista na íntegra aqui:
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