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Como a reciclagem pode transformar o Brasil e proteger o meio ambiente

Cofundador da eureciclo explica como a compensação ambiental, cooperativas e políticas públicas podem transformar a reciclagem no país

Marcos Matos, cofundador da Eureciclo (Foto: ABr | Divulgação )

Beatriz Bevilaqua, 247 - A reciclagem no Brasil enfrenta desafios históricos, mas avanços estratégicos começam a mostrar caminhos possíveis. Em entrevista ao “Brasil Sustentável”, Marcos Matos, cofundador da Eureciclo, iniciativa que já compensou mais de 1,5 milhão de toneladas de resíduos em todo o país, detalha como soluções estruturantes e políticas públicas podem transformar o setor.

"Eu sou do Mato Grosso, cresci em Barra do Garças, uma cidade cercada de natureza, e desde cedo me conectei com o meio ambiente. Depois de experiências acadêmicas e profissionais, inclusive nos Estados Unidos e na Tanzânia, percebi o impacto do aquecimento global. Foi aí que decidi dedicar minha carreira à sustentabilidade", conta Matos.

Ele explica que, apesar da importância do plástico para o nosso dia a dia, seu uso sem um descarte adequado provoca impactos ambientais sérios. "O plástico é flexível, útil e imprescindível em diversas situações, mas quando não reciclado, ele vai parar na natureza e nos oceanos. Ele leva, em média, 400 anos para se decompor", alerta.

Segundo Matos, apenas 4% dos resíduos sólidos urbanos no Brasil são reciclados. "A taxa de reciclagem é baixa porque, economicamente, nem todos os materiais se pagam. O alumínio, por exemplo, é reciclado em mais de 90% porque a cadeia se sustenta financeiramente, já o vidro e o plástico têm retorno muito menor", explica. Ele compara com políticas de sucesso na Europa, como a Espanha, que passou de 5% para mais de 70% de reciclagem de embalagens após leis que responsabilizam o produtor.

O impacto ambiental do plástico é global. "Todos os oceanos estão conectados. Uma sacola jogada na rua pode acabar em correntes marítimas em outro continente. Estudos indicam que, até 2050, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes", alerta. Matos destaca que microplásticos já estão presentes até mesmo em organismos humanos e na água potável.

A Eureciclo atua com o conceito de crédito de reciclagem, similar ao crédito de carbono, garantindo que a mesma quantidade de material colocada no mercado seja reciclada. "Empresas nos procuram tanto por obrigação legal quanto por demanda de consumidores. Nós pegamos o valor que elas pagam e repassamos para cooperativas e recicladores, aumentando a renda deles e incentivando investimentos na cadeia", explica.

Um exemplo de impacto social é o projeto “Rede Transforma”, em parceria com cooperativas em São Paulo. "Começamos com 30 catadores e hoje já envolvemos 100 pessoas. Eles recebem pagamento justo pelo material e créditos de reciclagem em um cartão, melhorando significativamente a qualidade de vida", conta Matos.

Ele reforça que políticas públicas são essenciais para escalar a reciclagem no Brasil. "Sem leis e regulamentações, a evolução seria muito mais lenta. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, e a regulamentação da logística reversa têm sido marcos importantes, mas ainda há muito a avançar em fiscalização, educação ambiental e infraestrutura".

Para Matos, soluções locais, como coleta seletiva com cooperativas e centrais de triagem automatizadas, podem transformar o destino dos resíduos urbanos. "Não existe uma bala de prata, mas várias soluções combinadas podem resolver o problema", conclui. Com iniciativas privadas, políticas públicas estruturadas e conscientização da sociedade, o Brasil pode avançar para uma reciclagem mais eficiente e justa, protegendo o meio ambiente e a vida das pessoas.

Assista na íntegra aqui: 

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